O candidato a presidente em 2018, Fernando Haddad (PT), declarou nesta sexta-feira (5) que aceita disputar novamente a presidência em 2022, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tenha os direitos políticos cassados.
"Ele [Lula] me chamou para uma conversa no último sábado e disse que não temos mais tempo para esperar. Ele me pediu para colocar o bloco na rua e eu aceitei", disse Haddad, em entrevista à TV 247.
Para o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Guilherme Casarões, a estratégia do PT demonstra que o partido "está disposto a reproduzir a estratégia de 2018, que deu flagrantemente errado".
Em entrevista à Sputnik Brasil, Casarões argumentou que, ao lançar novamente Fernando Haddad como candidato à presidência, o PT impede a formação de uma frente ampla para enfrentar o bolsonarismo.
"Me chamou muito a atenção a declaração do Lula, porque ela reproduz uma situação que já tinha dado errado em 2018 em uma situação ainda mais difícil, mais complicada para o PT. E agora, ao contrário de 2018, o PT dificilmente vai conseguir o apoio do PSB [Partido Socialista Brasileiro]", declarou.
O cientista político lembrou que em 2018 foi determinante a articulação do PT em convencer o PSB a declarar neutralidade nas eleições presidenciais, o que minou a possibilidade do candidato Ciro Gomes (PDT), que contava com a aliança do PSB, de ampliar seu tempo de propaganda na televisão e nas rádios.
"Uma coisa que salvou o PT [em 2018] e prejudicou muito o Ciro Gomes foi justamente a capacidade que o PT teve de cooptar o PSB, sacrificando a candidatura da Marília Arraes em Pernambuco, em prol de uma neutralidade frente à candidatura do Haddad e do Ciro. Eu acho que esse cenário não vai se reproduzir, porque, neste momento, o PT e o PSB estão rachados", argumentou.
Nesta quinta-feira (4), Haddad disse que aceita se candidatar novamente à Presidência da República, caso Lula continue inelegível https://t.co/iNDTVspUpO
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) February 5, 2021
O cientista político e professor da UNB, Luis Felipe Miguel, por sua vez, considerou a decisão do PT acertada, considerando que a indefinição, à espera de uma improvável candidatura de Lula, tal como ocorreu em 2018, prejudica o partido.
"Com esse movimento, Haddad ganha mais visibilidade e presença no debate. É o nome óbvio, que teve excelente desempenho em 2018, a despeito do cerco da mídia e da parcialidade do judiciário", afirmou o especialista à Sputnik Brasil.
Ao avaliar o papel que outros atores políticos podem desempenhar na articulação de alianças para a corrida eleitoral de 2022, o professor da UNB afirmou que prováveis candidatos, como Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), perderam força com o deslocamento do DEM para a órbita do presidente Jair Bolsonaro, bem como o fortalecimento de seus laços com o centrão.
"Mas o governador paulista continua como nome mais provável da direita não bolsonarista, dada a força do cargo e o controle que tem do PSDB", acrescentou.

De acordo com ele, este cenário indica que uma aliança entre PT e PSOL é uma das únicas possibilidades para uma composição dentro da esquerda. "Mas ela é muito improvável, um pouco pelos ressentimentos de lado a lado que permanecem", completa.
Na opinião do cientista político Guilherme Casarões, a nova composição da Câmara dos Deputados e do Senado torna o cenário ainda mais favorável para o presidente Jair Bolsonaro, considerando a sua aproximação com o bloco do centrão.
"O cenário, ao contrário de 2018, eu diria que é até mais favorável a Bolsonaro neste momento, porque o Bolsonaro tem a benção do centrão, e o DEM, que foi um ator mais próximo do PSDB, acaba se aproximando do bolsonarismo mais recentemente. Então a esquerda, se não se colocar em uma frente ampla, vai ter dificuldade até mesmo de chegar no segundo turno", observou.
De acordo com o especialista, a atual conjuntura diminui a possibilidade do PT de construir alinhamentos e gera uma tendência de um maior isolamento do partido.
"A gente está vendo o PT reproduzindo o seu desejo de manter a hegemonia sobre o campo da esquerda, mesmo que isso venha a sacrificar qualquer possibilidade de sucesso eleitoral concreto [...] A impressão que eu tenho é que caminharemos por um processo eleitoral que será disputado entre a direita e a centro-direita", completou.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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