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Doação de € 25,5 milhões da Alemanha para a Amazônia 'não é um sinal de distensão', diz especialista

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Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável, e Miguel Scarcello, secretário-geral da SOS Amazônia, avaliam a doação do banco estatal alemão KfW para recursos sustentáveis na floresta Amazônica.

O governo federal informou nesta terça-feira (24) que receberá uma doação de até € 25,5 milhões (o equivalente a R$ 162 milhões) do banco estatal alemão Kreditanstalt fur Wiederaufbau (KfW). O recurso deve ser aplicado em projetos de expansão de práticas sustentáveis nas cadeias da carne, soja e madeira na Amazônia.

Para Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável, a doação alemã deve ser celebrada. O especialista acredita que a parceria pode ser bastante positiva para o país, e torce para que ela esteja articulada com o trabalho de ONGs, universidades e institutos de pesquisa.

"É extremamente importante [a doação] porque vai permitir o investimento em cadeias produtivas da Amazônia de forma a reduzir o impacto dessas atividades econômicas no desmatamento. Então é uma maneira indireta para contribuir para a redução do desmatamento na Amazônia", avalia Viana.

Miguel Scarcello, secretário-geral da entidade ambientalista SOS Amazônia, concorda que a parceria deve ser comemorada – mas faz uma ressalva. Em sua avaliação, outro uso para o montante renderia mais benefícios para a conservação da floresta Amazônica.

"Uma colaboração mais frutífera seria destinar este investimento principalmente para cadeias onde tem a produção familiar. Isso estruturaria melhor o setor, já que alguns produzem carne, outros fazem manejo florestal comunitário, que é uma particularidade diferente do agronegócio", diz Scarcello.

Acordo com a Alemanha não significa fim das críticas 

Na divulgação da parceria, o Ministério da Agricultura destacou que será o encarregado de executar o projeto de aplicação das doações, em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Já o Ministério das Relações Exteriores frisou a cooperação técnica e financeira entre Brasil e Alemanha.

Scarcello não acredita, no entanto, que a parceria seja um indicativo de melhora na relação do governo federal com outros países, sobretudo na questão ambiental.

"Ainda está longe de o governo federal se entender no aspecto ambiental não só com a Alemanha mas com qualquer outro país [...]. Este repasse já vem [acontecendo] há anos, são costuras antigas, que já vinham sendo construídas. A postura do governo federal não chegou ao ponto de quebrar estas relações bilaterais que vêm sendo construídas há muito tempo", avalia o especialista.

Nos últimos meses, o governo Bolsonaro recebeu diversas críticas por conta de sua política ambiental. Em agosto de 2019, Emmanuel Macron, presidente da França, classificou os incêndios na Amazônia como "crise internacional". Mais recentemente, em setembro, o presidente eleito dos EUA, Joe Biden, afirmou em debate com Donald Trump que "as florestas tropicais do Brasil estão sendo destruídas". Segundo Scarcello, a parceria do Brasil com a Alemanha não significa que críticas como estas deixarão de aparecer.

"Ainda não é um sinal de distensão. É uma política [ambiental] muito confusa, que precisa de uma evolução muito grande para contar com parcerias fortes como sempre houve para a questão ambiental no país. Ainda vai ter que evoluir muito", diz Scarcello.
© AP Photo / Dario Lopez-MillsVegetação em chamas na floresta Amazônica
Doação de € 25,5 milhões da Alemanha para a Amazônia 'não é um sinal de distensão', diz especialista - Sputnik Brasil
Vegetação em chamas na floresta Amazônica

O próprio especialista não poupa críticas ao governo federal. Segundo Scarcello, o governo Bolsonaro está "devendo muito" quanto ao posicionamento ambiental para promover combate ao desmatamento, uso sustentável, efetivar unidades de conservação e fiscalizar atos criminosos.

"Falta planejamento, visão e desenvolvimento, mas com olhar para comunidades locais, para as populações tradicionais. Não para apoiar crescimento de pequenos grupos de grandes empresários que ficam se apropriando das terras da Amazônia", diz o secretário-geral da SOS Amazônia.

Neste ano, os incêndios na Amazônia quebraram recordes. Os focos de fogo na floresta atingiram a maior marca em dez anos. O desmatamento aumenta no mesmo ritmo: na comparação entre agosto de 2019 e julho de 2020, o salto foi de 34,5%. 

"Estes números confirmam a situação precária por que a Amazônia passa. Confirma o descaso com a conservação da floresta. Confirma a política de uso intenso dos recursos naturais. Indica uma linha de desenvolvimento focada na redução da cobertura florestal e no benefício da ilegalidade", diz Scarcello.
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