Brasil se comprometeu a fazer parte do consórcio internacional da OMS, solicitando vacinas para imunizar 20% da população do país, ou seja, mais de 40 milhões de pessoas. Para atingir solicitação, o país deverá investir mais de R$ 4 bilhões.
Por enquanto, o acordo não é vinculante. Se nas próximas semanas não houver um acordo sobre o pagamento e condições, o governo ainda pode desistir do projeto. Além disso, o Brasil manterá flexibilidade para atender com os acordos bilaterais que já celebrou com multinacionais do setor farmacêutico.
Para o diretor do Curso de Relações Internacionais UERJ, Paulo Velasco, é positivo ver o Brasil "voltando a fazer parte do esforço da comunidade das nações na área de saúde".
"O Brasil estava seguindo uma lógica norte-americana, que não é interessante para os interesses da população brasileira, nem para a própria tradição do Brasil em termos de política externa", disse Paulo Velasco à Sputnik Brasil.
O professor lembrou que a política externa brasileira tradicionalmente sempre defendeu o multilateralismo e participa de várias organizações internacionais.
"O Brasil sempre teve um vínculo muito forte nos temas relacionados à saúde, sobretudo na diplomacia da saúde, na cooperação internacional, oferecendo nossa expertise, inclusive, em outros temas como, por exemplo, o aleitamento materno, ou implantando uma fábrica da Fiocruz em Moçambique, na África", destacou o entrevistado.
Para o especialista, "não faria nenhum sentido o Brasil ficar a margem de um esforço multilateral coordenado pela OMS no contexto global e pandêmico". Ele acrescentou que uma certa "volta atrás" do governo já era esperada, "fazendo jus à tradição diplomática".
"É um momento de recuo, mas é um recuo bem-vindo. É o Brasil se distanciando um pouco das posturas mais ideológicas e mais radicais do nosso chanceler, que tem um discurso muito antiglobalista e costuma apontar organizações internacionais como, de certa maneira, inimigas dos interesses do Brasil. O que naturalmente não é verdade e acaba sendo uma postura ideológica não muito producente e não muito positiva para os interesses do país", disse Paulo Velasco.
Novos ares
O diretor do Curso de Relações Internacionais UERJ manifestou a esperança de que a postura do governo na OMS seja um indicador de "novos ares". Para ele, o Brasil "comprou brigas desnecessárias" com a ONU em temas diversos, como direitos humanos, saúde e meio ambiente.
"O Brasil, ao longo dos últimos 20 meses, em vários cenários, atuou muitas vezes na contramão da nossa tradição diplomática e das melhores práticas diplomáticas. Justamente no sentido de tentar copiar posturas norte-americanas, sendo que o Brasil evidentemente não tem o poder e a influência dos Estados Unidos. Brasil depende muito mais da sua legitimidade internacional, do que os Estados Unidos. E claro, vamos torcer para que o Brasil volte às boas práticas em várias esferas", disse o professor.
Paulo Velasco lembrou que o Brasil tem defendido posições muito controversas na ONU, inclusive muito mais próximas aos países árabes, em questões de gênero e de orientação sexual.
"Que esse diálogo que o Brasil buscou restabelecer com a OMS na questão da vacina signifique uma postura mais pragmática e menos ideológica na condução de temas da política internacional do Brasil. O Brasil tem que fazer parte do conjunto de nações que combinam o esforço em favor da busca por uma vacina. Até porque o Brasil quer estar bem posicionado na hora de ter a sua vacina eventualmente registrada para poder imunizar o quanto antes a sua população. Não adiantaria uma postura mais isolacionista", concluiu o Velasco.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
Ao pressionar o botão "Publicar", você concorda expressamente com o processamento de dados da sua conta no Facebook para permitir que você comente notícias no nosso site usando essa conta. Você pode consultar a descrição detalhada do processo de processamento na Política de Privacidade.
Você pode cancelar seu consentimento removendo todos os comentários publicados.
Todos os comentários
Mostrar comentários novos (0)
em resposta a(Mostrar comentárioEsconder comentário)