Em busca da paz: mais um país está prestes a entrar na guerra na Líbia

© REUTERS / Esam Omran Al-FetoriForças líbias leais ao comandante do leste Khalifa Haftar ao oeste de Benghazi, Líbia
Forças líbias leais ao comandante do leste Khalifa Haftar ao oeste de Benghazi, Líbia - Sputnik Brasil
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Egito ameaça Líbia com guerra caso surjam terroristas na fronteira comum pedindo, contudo, que facções líbias negociem. Há uma trégua, não por mérito egípcio, mas pela retoma do diálogo russo-turco. Haverá uma saída para o impasse líbio, traduzido na existência de dois Estados de fato?

Ao inspecionar tropas egípcias estacionadas na fronteira com a Líbia, o presidente egípcio Abdel Fattah as-Sisi assegurou que "se o povo líbio pedir para intervir, o Cairo ajudará", protegendo as fronteiras comuns dos terroristas.

O presidente egípcio exigiu também que as tropas do Governo de União Nacional (GNA) – liderado por Fayez al Sarraj e reconhecido pela ONU – parem a ofensiva contra Sirte e al-Jufrah.

Sirte e al-Jufrah, são o portão de entrada para região líbia onde se situam os terminais responsáveis pela exportação de 60% do petróleo líbio.

Em janeiro, o Exército Nacional Líbio (LNA) do marechal Khalifa Haftar, que controla o leste do país, fechou esses terminais, privando de receitas o governo de Sarraj, que controla a parte ocidental do país.

Em resposta, com auxílio turco e de mercenários sírios, tropas leais ao GNA empurraram o exército de Haftar para longe de Trípoli na direção do leste do país, só sendo detidas em El Jufrah.

Iniciativas de guerra e paz

Os combates cessaram após intervenção de mediadores internacionais. Moscou e Ancara retomaram suas negociações bilaterais sobre a Líbia e o governo egípcio – tradicional apoiante de Haftar – tentou intermediar conversações entre ambas as facções.

© AP Photo / Mohamed Ben KhalifaSoldados da Líbia instalam arma para combater contra militantes em Al-Ajaylat, perto de Trípoli, Líbia, 21 de fevereiro de 2015
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Soldados da Líbia instalam arma para combater contra militantes em Al-Ajaylat, perto de Trípoli, Líbia, 21 de fevereiro de 2015

O presidente as-Sisi exortou a comunidade internacional a ajudar na reconciliação entre as facções ocidental e oriental, exigindo ao mesmo tempo o fim da ingerência turca, a retirada dos mercenários sírios e o desmantelamento dos grupos armados ilegais.

Politicamente, o Egito propôs um período de transição – a durar até 2022 – com a criação de um conselho presidencial composto por representantes das regiões, que asseguraria a realização de eleições e a elaboração de uma nova constituição.

Termos do armistício

Muito tem se discutido internacionalmente sobre o problema líbio, multiplicando-se inclusive os acordos de cessar-fogo, prontamente quebrados.

No entanto, os apelos do Cairo para o fim das hostilidades foram bem aceitos pelos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Rússia, EUA e UE.

© AP Photo / Olmo CalvoMembros da organização Proactiva Open Arms salvam imigrantes que saíram da Líbia para alcançar o solo europeu
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Membros da organização Proactiva Open Arms salvam imigrantes que saíram da Líbia para alcançar o solo europeu

Mas as condições da trégua apresentadas por as-Sisi, não colheram unanimidade. Turquia e a Argélia expressaram seu descontentamento por o Egito exigir unicamente o desmantelamento e desarmamento das tropas do GNA.

Fayez al Sarraj – acalentado pelo ascendente sobre as tropas rivais – reagiu de forma dura e categórica às propostas egípcias.

"Haftar é um criminoso de guerra, deve ser punido. Nós não vamos parar até acabarmos com o inimigo", garantiu o líder do governo reconhecido pela ONU.

As-Sisi respondeu ameaçando invadir a Líbia para ajudar as tribos do leste.

Zona tampão

O cientista político líbio Mustafa Fetouri vê as ameaças de as-Sisi como uma reação ao fracasso de sua proposta para a região.

Em declarações à Sputnik, ele assegurou que "muitos líbios acharam estranho que a paz estivesse sendo solicitada pelo Egito, que por sua vez está armando Haftar".

Segundo o especialista, se o Egito introduzir tropas na Líbia, não será em grande distância. "O Cairo está provavelmente planejando criar uma zona tampão na fronteira com a Líbia, de 20-30 quilômetros de profundidade, no máximo".

Para Fetouri, o preço a pagar pelo Egito seria demasiado alto, quer doméstica quer internacionalmente, caso ocorresse uma invasão em grande escala.

Já Kirill Semyonov, chefe do Centro de Pesquisas Islâmicas do Instituto para o Desenvolvimento Inovador da Rússia, duvida que os egípcios sequer atravessem a fronteira. Ele vê as declarações de al-Sisi como uma tentativa de salvar Haftar.

"Se Sarraj tomar o controle de todo o país […] os grupos islâmicos vão se fortalecer na Líbia. [...] A influência da Turquia, onde o poder há muitos anos que pertence aos islamistas moderados, vai aumentar. O Egito não pode permitir isso", afirmou Semyonov.

Para o especialista, a chave do conflito não está tanto nas mãos do Cairo, mas mais nas da Rússia e da Turquia, pois se Erdogan tem o poder de influenciar Sarraj, já a Rússia tem a vantagem de ter pontes de diálogo abertas com ambas facções.

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