Por que manobras da OTAN se aproximam cada vez mais das fronteiras russas?

© REUTERS / Issei KatoSoldados norte-americanos usando máscaras em frente a aviões de transporte C-130 durante um exercício militar em meio à pandemia, na Base Aérea de Yokota dos EUA, Japão, 21 de maio de 2020
Soldados norte-americanos usando máscaras em frente a aviões de transporte C-130 durante um exercício militar em meio à pandemia, na Base Aérea de Yokota dos EUA, Japão, 21 de maio de 2020 - Sputnik Brasil
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Envolvendo milhares de soldados e centenas de tanques e caças-bombardeiros ante a "ameaça" de ataque vindo do Oriente, o exercício em larga escala da OTAN Defensor da Europa 2020 está no auge, perto da fronteira russa.

O principal objetivo das manobras pretende ser o de assegurar a prontidão das forças dos EUA para apoiar seus aliados na Europa. O exercício consiste fundamentalmente em testar a capacidade de transpor grandes obstáculos aquáticos, como rios.

O aliado mais dedicado

Segundo declarações oficiais, o objetivo estratégico do exercício seria o de demonstrar o compromisso dos EUA com a OTAN e sua "determinação inabalável em apoiar os aliados europeus".

As maiores manobras da OTAN em 25 anos acabaram sendo adiadas para junho devido à pandemia do novo coronavírus.

Inicialmente, o Pentágono alocou cerca de 37 mil soldados e oficiais aos exercícios. Contudo, os planos seriam alterados, passando a ser a Polônia – uma das mais leais aliadas de Washington – a fornecer o grosso das tropas para a operação.

Foi precisamente na Polônia que há dias começaram a aterrissar aviões de transporte com soldados e equipamentos norte-americanos.

© AP Photo / Yorgos KarahalisHelicóptero participando de exercício militar no norte da Grécia, 19 de fevereiro de 2020. Forças Aéreas da Grécia e dos EUA participaram de um exercício de fogo real, marcando o aprofundamento dos laços de defesa entre os dois países
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Helicóptero participando de exercício militar no norte da Grécia, 19 de fevereiro de 2020. Forças Aéreas da Grécia e dos EUA participaram de um exercício de fogo real, marcando o aprofundamento dos laços de defesa entre os dois países

Com mais de dois mil equipamentos militares, que englobam 100 tanques, 200 veículos blindados, artilharia, equipamentos de defesa antiaérea, aviões e helicópteros, tropas polonesas e norte-americanas realizarão diversas operações de combate.

Apesar da pandemia, "o Exército polonês não perdeu por um momento sua prontidão de combate", vangloriou-se o ministro da Defesa da Polônia, Mariusz Blaszczak.

O principal exercício tático consiste em ensaiar a transposição de obstáculos aquáticos por tropas em veículos blindados e aerotransportadas e a passagem para contra-ataque.

Artyom Kureev, especialista militar do clube de análise Valdai, vê neste exercício o principal objetivo do Defensor da Europa 2020 (Defender Europa 2020).

Além desse fato, permitirá igualmente aos militares tchecos, poloneses e lituanos uma vez mais exercitarem o uso de equipamentos bélicos dos EUA que terão de adquirir, ressalva o analista.

"Mas politicamente é uma demonstração da prontidão da OTAN em libertar o território da aliança em caso de invasão de tropas 'inimigas', e em transpor [os rios] Neman e Daugava."

O perturbado Báltico

Quase simultaneamente, decorrem as manobras navais em grande escala Baltops 2020, no mar Báltico. Ao todo, 18 países, 30 navios de guerra e mais ou menos o mesmo número de aeronaves estão participando do exercício. Tais manobras acontecem há 49 anos.

Segundo Kureev, o objetivo principal do Baltops 2020 é o de mostrar aos eleitorados da Estônia, Letônia e Lituânia que a aliança não permitirá o desembarque de fuzileiros russos nas praias de Saaremaa, Jurmala e Palanga.

Ninguém discute o direito dos países fronteiriços de proceder a exercícios militares na região. Contudo, nos últimos anos, é notório que as manobras dos EUA e da OTAN têm se aproximado cada vez mais das fronteiras da Rússia.

"O eleitorado conservador e nacionalista dos Estados Bálticos, Polônia e República Tcheca deve ter a certeza de que os aliados os protegerão do 'urso russo' - um inimigo em potencial, o que é conveniente para eliminar muitos problemas políticos e econômicos internos", referiu o especialista.

Oficialmente, os exercícios visam testar a capacidade de enfrentar um hipotético vizinho da Europa Oriental com um potencial militar comparável ao da Rússia, assinalou o especialista.

© Sputnik / Vladimir AstapkovichMontagem de ponte militar sobre o rio Tom durante os exercícios Tsentr-2019 em Yurginsky, região de Kemerovo, Rússia
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Montagem de ponte militar sobre o rio Tom durante os exercícios Tsentr-2019 em Yurginsky, região de Kemerovo, Rússia

Tanto o Ministério das Relações Exteriores quanto o Ministério da Defesa russos reagiram aos exercícios, clamando para a necessidade de reduzir o grau de tensão latente e afastar as tropas da OTAN de suas fronteiras, pelo menos durante o período de comemoração do 75º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista.

Para o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Aleksandr Grushko, estes exercícios da OTAN foram decalcados dos da Guerra Fria e planejados de tal forma para que o pico de atividade coincida sempre com as comemorações da vitória sobre a Alemanha nazista.

"Isto é um fato", afirmou Aleksandr Grushko, relembrando que os exercícios da OTAN estão sendo realizados um após o outro.

Grushko assinalou que cada vez mais aviões de reconhecimento voam nas imediações das fronteiras da Rússia, especialmente nos mares Báltico e Negro, relembrando igualmente a recente incursão da frota norte-americana no mar de Barents, algo que não acontecia desde meados dos anos 80.

EUA recorrem a expedientes para contornar acordos

Diplomatas e militares russos propõem sistematicamente que as partes envolvidas nos exercícios renunciem a grandes exercícios fronteiriços, cheguem a um acordo sobre uma distância mínima entre aviões e navios e utilizem transponders ligados em voos da aviação militar no Báltico. No entanto, não tem havido retorno a estas propostas.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia prevê que a atividade militar da OTAN aumente com a amenização da pandemia. Segundo Kureev, a Marinha também desempenhará um papel importante no apoio às forças terrestres da aliança.

© Sputnik / Igor MaslovMilitares em helicópteros Mi-8 durante o exercício militar internacional Rapid Trident 2019, em Yavoriv, região de Lvov, Ucrânia
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Militares em helicópteros Mi-8 durante o exercício militar internacional Rapid Trident 2019, em Yavoriv, região de Lvov, Ucrânia

No entanto, Baltops 2020 e Defensor da Europa 2020 não são comparáveis em amplitude com os exercícios da Guerra Fria, quando a organização do Pacto de Varsóvia e a OTAN mobilizavam para manobras dezenas e dezenas de milhares de tropas, chegando mesmo os exercícios soviéticos Dniepr de 1967 a movimentar mais de um milhão e meio de soldados.

Ao planejar exercícios, a OTAN viola frequentemente acordos internacionais subscritos, sobretudo o plasmado no artigo 8º do Documento de Viena sobre Medidas de Confiança e Segurança, assinado em 2011, que impõe muitas limitações às manobras em larga escala, relacionadas à notificação prévia.

Para contornar o estabelecido, a OTAN apresenta seus exercícios como uma série de manobras diferenciadas em diferentes países, eximindo-se à sua qualificação como de "grande escala".

Enquanto o Ocidente ignora os acordos internacionais, a Rússia notifica a realização de exercícios ou os conduz longe de fronteiras alheias. A título de exemplo, as manobras Cáucaso 2020, previstas para este ano, terão lugar na região do Volga e do Cáucaso Norte.

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