EUA poderiam impedir China de assumir liderança no comércio do Pacífico?

© REUTERS / Daisuke SuzukiO secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo e o primeiro-ministro do Conselho de Estado e chanceler chinês Wang Yi antes de uma reunião
O secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo e o primeiro-ministro do Conselho de Estado e chanceler chinês Wang Yi antes de uma reunião - Sputnik Brasil
Nos siga no
Pequim pode aderir ao Tratado de Parceria Transpacífico depois que os EUA, sob o governo Trump, saíram da parceria original em 2017. No entanto, Washington poderia dissuadir a entrada de mais países.

A China pode aderir ao Tratado de Parceria Transpacífico Abrangente e Progressivo (TPP-11, na sigla em inglês) no futuro, disse na última sexta-feira (29) o primeiro-ministro chinês Li Keqiang. Ao assinar esse acordo, Pequim não só preencherá a lacuna deixada por Washington, mas também poderá se tornar sua principal força impulsionadora, diz o especialista Xu Liping, pesquisador do Instituto de Estudos Ásia-Pacífico e Estratégia Global da Academia Chinesa de Ciências Sociais à Sputnik China.

O acordo de Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês) para livre comércio foi assinado em 4 de fevereiro de 2016 por apenas três países, Nova Zelândia, Singapura e Chile, para estabelecer uma zona de livre comércio regional. Gradualmente, mais estados da região Ásia-Pacífico aderiram à TPP.

O objetivo deste acordo foi reduzir barreiras tarifárias, bem como regular normas no campo do direito do trabalho, proteção da propriedade intelectual, meio ambiente e outras áreas.

Por que só agora?

Washington começou a apoiar ativamente a iniciativa sob o governo Obama como uma espécie de contrapeso à crescente influência da China na região. Como resultado, Pequim não pôde assinar o acordo por muito tempo.

Durante sua campanha eleitoral, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, criticou duramente o acordo, ressaltando que a participação nesta integração internacional não era rentável para seu país: segundo ele, reduziu empregos e proporcionou injustamente as maiores vantagens competitivas aos países menos desenvolvidos. Como resultado, tendo vencido as eleições, Trump retirou unilateralmente os EUA da TPP.

Apesar disso, a parceria não deixou de existir, mas mudou um pouco seu formato. Onze países, incluindo o Japão, México, Singapura e Austrália, assinaram o TPP-11 em 2018, que incluiu a maioria das disposições do acordo anterior. Seu objetivo era criar um mercado comum na região da Ásia-Pacífico, semelhante ao da União Europeia.

Até agora, a China ainda não mostrou sua posição quanto ao TPP-11. No entanto, as atuais declarações do primeiro-ministro do Conselho de Estado chinês enviam o primeiro sinal de que o país asiático pode considerar a adesão a este acordo.

Se isso acontecer, Pequim se tornará a força comercial mais poderosa entre todos os membros do TPP-11 e, portanto, tomará o lugar dos EUA, disse Liping.

© AFP 2023 / StringerLiaoning, primeiro porta-aviões da China, navegando durante exercícios militares no Pacífico
EUA poderiam impedir China de assumir liderança no comércio do Pacífico? - Sputnik Brasil
Liaoning, primeiro porta-aviões da China, navegando durante exercícios militares no Pacífico

"Acredito que a China está desempenhando um papel cada vez mais construtivo na promoção da liberalização do comércio. Na verdade, essa estratégia satisfaz não apenas os interesses chineses, mas também os de toda a região", disse o especialista.

Exemplo do Vietnã ajudaria a superar divergências

Apesar de o governo chinês estar considerando aderir ao acordo, Pequim não concorda com a permissão para estabelecer sindicatos organizados e limitar o papel das empresas estatais no comércio.

Por outro lado, o exemplo do Vietnã mostra que um país socialista de economia mista pode se adaptar perfeitamente às exigências do TPP-11 e até mesmo se beneficiar muito com um acordo de livre comércio. Durante os primeiros sete meses de participação de Hanói no TPP-11, o superávit da balança comercial foi de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,21 bilhões), e metade desse valor foi acumulado graças ao acordo.

Como a China tem se concentrado recentemente em aumentar a abertura de sua própria economia e apoiar o livre comércio, os requisitos da TPP-11 não devem se tornar um sério obstáculo para o país asiático se este quiser assiná-la.

EUA como principal obstáculo

É improvável que outros membros da TPP-11 se oponham ao estabelecimento de um regime comercial especial com a China, uma vez que o país asiático é o maior mercado e o principal parceiro comercial da maioria deles, incluindo a Austrália, Nova Zelândia e Japão. O livre comércio com a China fortalecerá a posição competitiva dos produtos desses países no mercado chinês. Mas, embora os Estados Unidos tenham se retirado do acordo, podem pressionar outros países a não aceitarem a China na TPP-11, advertiu Xu Liping.

"Washington não quer que Pequim adira a este acordo porque a China pode assumir a liderança na liberalização do comércio na região. Este resultado não corresponde aos interesses geopolíticos, comerciais e econômicos do país norte-americano", comenta o especialista.

Atualmente, os 11 países da TPP-11 são responsáveis por 13% da economia mundial. Uma vez unida a eles, a China fortalecerá consideravelmente o potencial dessa integração internacional, já que sua participação na economia global é muito maior do que a de outros signatários da TPP-11 juntos.

© AFP 2023 / Saul LoebDocumento de retirada dos EUA do Acordo de Associação Transpacífico (TPP) sendo assinado pelo presidente Donald Trump, 23 de janeiro de 2017
EUA poderiam impedir China de assumir liderança no comércio do Pacífico? - Sputnik Brasil
Documento de retirada dos EUA do Acordo de Associação Transpacífico (TPP) sendo assinado pelo presidente Donald Trump, 23 de janeiro de 2017

A história tem mostrado que o fator EUA não deve ser subestimado. A Austrália, por exemplo, que é o parceiro-chave dos norte-americanos, foi inesperadamente o primeiro país a solicitar uma investigação internacional sobre as causas do novo coronavírus em Wuhan, mas foi Washington que promoveu ativamente a teoria relacionada a um vazamento do SARS-CoV-2, sem fornecer evidências até o momento.

Enquanto isso, os outros aliados tradicionais dos EUA, incluindo os da União Europeia, tentaram manter uma postura neutra sobre o assunto para não ofender os Estados Unidos e afastar a China. Neste aspecto, a Austrália foi rápida em se envolver em uma situação desagradável. Como resultado, suas relações com a China começaram a se deteriorar. O comércio com a China, que é vital para a Austrália, foi o primeiro a sofrer.

Os outros países que se encontram em um triângulo com a China e os Estados Unidos devem pesar todos os prós e contras com mais cuidado antes de apoiarem o curso norte-americano graças ao mau exemplo de Camberra, concluiu Liping.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала