Corrida ao ouro dos gigantes financeiros: pânico ou porto seguro?

© REUTERS / Michael DalderBarras e moedas de ouro empilhadas na sala de cofres da casa-depósito de metais preciosos Pro Aurum em Munique, Alemanha, 14 de agosto de 2019 (foto de arquivo)
Barras e moedas de ouro empilhadas na sala de cofres da casa-depósito de metais preciosos Pro Aurum em Munique, Alemanha, 14 de agosto de 2019 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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No primeiro trimestre de 2020 os gigantes financeiros aumentaram suas compras de ouro, enquanto as transferências físicas deste metal precioso para os EUA atingiram níveis recorde.

Será isto sinal de que algo muito grave está chegando? O economista Philippe Herlin faz sua análise para a Sputnik França.

Corrida ao ouro

A crise pandêmica desencadeou uma verdadeira corrida ao ouro. O metal amarelo, sempre um porto seguro em tempos de crise, valorizou fortemente em tempos de pandemia. Uma onça de ouro (28,35 gramas) está sendo negociada atualmente a mais de US$ 1.700 (R$ 8.704), um nível bem acima do período anterior à pandemia.

A onda de choque econômico causada pelo coronavírus já está começando a ser sentida em muitos países. De acordo com muitos observadores, o pior ainda está por vir. Será que os gigantes financeiros Morgan Stanley, Bank of America, UBS, Wells Fargo e Blackrock anteciparam o desastre?

A questão é legítima, tendo em conta que essas grandes empresas aumentaram repentinamente suas reservas de ouro em quase US$ dois bilhões (R$ 10,24 bilhões) no primeiro trimestre de 2020, totalizando US$ sete bilhões (R$ 35,84 bilhões).

Por exemplo, a Blackrock, a maior empresa gestora de ativos do mundo, triplicou suas aplicações no metal amarelo.

Para o economista Philippe Herlin, os gigantes financeiros "fazem isso em grande parte para seus próprios clientes institucionais, significando que estes últimos estão redirecionando parte de suas carteiras para o ouro. Eles consideram que é um bom investimento para os próximos meses".

Concretamente, a Blackrock aumentou sua carteira em ouro de US$ 387 milhões (R$ 1,98 bilhão) em 31 de dezembro de 2019 para US$ 1,2 bilhão (R$ 6,14 bilhões) em 31 de março de 2020.

Já no caso da Morgan Stanley, as suas aplicações em ouro pularam de US$ 600 milhões (R$ 3,07 bilhões) para US$ 2,05 bilhões (R$ 10,50 bilhões).

O site Or.fr informou que, desde finais de março, ocorreram transferências físicas recorde de ouro para os Estados Unidos: nada mais nada menos que 550 toneladas de ouro, ou seja, aproximadamente o equivalente à produção mundial no mesmo período.

A maior transferência física de ouro jamais efetuada

Ouro, porto seguro

Para Philippe Herlin, é tudo uma questão de opções.

"Quando você olha para as principais classes de ativos, verá que o ouro está muito bem posicionado. Os imóveis, tanto comerciais quanto residenciais, sofrerão com a explosão do desemprego e a recessão. É difícil imaginar que se valorizarão em um futuro próximo. No que diz respeito às ações, os mercados quase voltaram a seus níveis pré-crise, mas isso se deve em grande parte à política monetária dos bancos centrais".

Para o especialista, "as perspectivas para a economia real são bastante sombrias. Os títulos já estão sendo negociados a taxas próximas de zero ou mesmo negativas. Ainda há as criptomoedas e os mercados de arte, mas os volumes são residuais".

Perante tal contexto, o economista – que considera que o ouro não está supervalorizado – o metal amarelo seria o ativo com maior margem de crescimento.

Cenário dramático em perspectiva

Perante o cenário de drama econômico e social, com depreciação das moedas, inflação, desemprego e quedas abruptas do Produto Interno Bruto (PIB) quer nos EUA quer na Europa, os países e os bancos centrais não hesitaram em recorrer à "artilharia pesada" para combater os efeitos da crise econômica.

Nos Estados Unidos, o regulador FED está injetando milhares de bilhões de dólares, sobretudo sob a forma de empréstimos às empresas.

Como Philippe Herlin gosta de lembrar, "o FED não pode imprimir ouro", ao contrário do papel-moeda.

Na Europa, a intervenção do Banco Central Europeu atingirá níveis sem precedentes: mais de 1,6 trilhão de euros (R$ 7,55 trilhões).

Isso cria um contexto propício a um aumento exponencial no preço do ouro? Philippe Herlin prevê que sim.

"O preço do ouro em euros já bateu seu recorde de 2011. Acho que o ouro vai ultrapassar os US$ 1.900 (R$ 9.728) por onça".

Esta previsão do especialista francês vai de encontro a um relatório dos analistas do Bank of America, que elevaram a previsão a 18 meses do preço do ouro para US$ 2.000 - US$ 3.000 (R$ 10.240 - R$ 15.360) por onça.

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