Incapacidade dos EUA em deter ajuda petrolífera do Irã à Venezuela poderia ser 'momento Suez'?

© Sputnik / Marco TeruggiBoas-vindas ao petroleiro iraniano Fortune na refinaria El Palito, na Venezuela (foto de arquivo)
Boas-vindas ao petroleiro iraniano Fortune na refinaria El Palito, na Venezuela (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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O Irã mandou petroleiros com equipamento e produtos químicos para ajudar a Venezuela. Um especialista comentou o fato de os EUA não responderem aos dois países sancionados pelos norte-americanos.

A chegada de petroleiros iranianos à Venezuela representa um aprofundamento da solidariedade entre dois países que enfrentam as sanções dos EUA, disse um especialista iraniano-americano à Sputnik Internacional na quarta-feira (27). Ele a comparou com a crise de Suez de 1956, que confirmou o grau de declínio imperial franco-britânico.

O petroleiro Petunia, de bandeira iraniana, se juntou aos homólogos Fortune e Forest em águas venezuelanas na terça-feira (26), com Faxon chegando na quinta-feira (28), e o Clavel esperado até próxima segunda-feira (1º). Os navios vêm com barris de petróleo refinado para ajudar a aliviar a aguda escassez de gás na Venezuela, causada pela quebra da maior refinaria de petróleo do país.

"Acho que os navios de combustível que foram para a Venezuela foram muito importantes, por que estavam carregando combustível muito necessário para as pessoas de lá", disse Mohammad Marandi, um especialista em estudos americanos e literatura pós-colonial, que leciona na Universidade de Teerã, Irã, à Sputnik.

"A situação era muito ruim, e as sanções que os americanos haviam imposto, e as políticas intimidatórias que eles perseguiam, impediram que outros levassem esse combustível."

"Mas, além do combustível que os iranianos haviam mandado e estão mandando, [está sendo enviada] uma grande quantidade de equipamentos, bem como produtos químicos para ajudar a retomar as diferentes refinarias do país, bem como as usinas elétricas, para que o povo da Venezuela possa colocar sua economia em funcionamento novamente", disse Becker, se referindo a engenheiros iranianos que estão tratando do caso.

O acadêmico refere que a Venezuela precisa de combustível, "como qualquer outra nação deste planeta", estando os norte-americanos e os europeus negando combustível para a Venezuela, e fez paralelos com o que os EUA estão fazendo na Síria.

Opiniões sobre a Venezuela

O acadêmico comentou as justificações feitas para apoiar as sanções.

"E é claro, como sempre, eles [norte-americanos] dizem que tudo isso é em prol dos direitos humanos, mas eles tentam matar as nações de fome, eles tentam criar sofrimento nas nações, e a mídia, a mídia corporativa, a mídia dominante, a mídia estatal, a mídia pública, finge nos países ocidentais que tudo isso é verdade", disse.

"Então, o sofrimento e as mortes são de zero consequências para eles quando se trata de países como Venezuela ou Síria ou qualquer outro país que, por qualquer razão, tenha um problema com os EUA."

© REUTERS / Isaac UrrutiaPessoas com veículos aguardam em fila na tentativa de reabastecer em um posto de gasolina na Venezuela
Incapacidade dos EUA em deter ajuda petrolífera do Irã à Venezuela poderia ser 'momento Suez'? - Sputnik Brasil
Pessoas com veículos aguardam em fila na tentativa de reabastecer em um posto de gasolina na Venezuela

O jornal The Wall Street Journal relatou que em um discurso televisionado na segunda-feira (25), o presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que ele e seus homólogos iranianos rejeitam o "imperialismo norte-americano".

"Somos dois povos revolucionários e rebeldes que nunca vão se ajoelhar diante do imperialismo norte-americano", declarou Maduro.

O comércio de petróleo entre Irã e Venezuela leva a um forte sentimento de solidariedade entre os dois países, ressaltou Mohammad Marandi.

"Há obviamente a economia. Há também a questão de ajudar países como o Irã a resistir ao império [...]. Acho que a questão da solidariedade, apoiando os oprimidos, é, como eu disse, muito forte na cultura iraniana e na cultura política", observou.

"Se fosse um ou dois navios, você poderia interpretar toda a operação de forma diferente, mas enviar cinco grandes petroleiros, um após o outro, para a Venezuela, [isso] está enviando uma mensagem para os EUA [...]. Claro que, em circunstâncias normais, não deve ser um problema; é apenas comércio."

"Não há nada a reclamar, mas esta é uma situação extraordinária, porque o governo dos EUA agora está se comportando mais como uma potência imperial do que talvez qualquer outro país da história da humanidade", explicou o especialista.

Sanções dos EUA

Apesar de ter as maiores reservas de petróleo do mundo e a capacidade de refinar cerca de 1,3 milhão de barris de petróleo por dia, o setor petrolífero venezuelano tem sido atingido por sanções norte-americanas e pela apreensão de ativos, o que reduziu a capacidade de produção e causou um déficit de gasolina em todo o país.

Os EUA têm imposto sanções ao país sul-americano desde 2008. As sanções têm continuado se expandindo nos últimos meses, em uma tentativa de estrangular a administração de Maduro.

Os Estados Unidos também há muito tempo que têm como alvo o Irã através de sanções sobre sua atividade nuclear, e o governo Trump tomou uma posição de "máxima pressão" contra Teerã, fazendo com que muitos iranianos vivenciassem dificuldades econômicas ainda maiores.

Seria declínio dos EUA?

Como os Estados Unidos continuam pressionando suas relações com muitas potências globais, podem estar se aproximando do chamado "momento Suez", observou Marandi.

"Acho que estamos nos aproximando do que eles muitas vezes chamam de momento 'Suez'. E o momento Suez é quando os britânicos e os franceses tentaram reafirmar seu poder global, invadindo o Egito [em 1956], e fracassaram. E depois da Segunda Guerra Mundial, basicamente foi reconhecido que o poder tinha sido transferido para os EUA."

"E eu acho que o comportamento do governo americano agora, em relação à Venezuela, ao Irã e ao mundo, antagonizando a China e a Rússia – hoje em dia todos são inimigos, eu acho que isso é reflexo de algo que está acontecendo dentro dos EUA mais do que fora do país", explicou Marandi.

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