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Dia das Mães na pandemia: brasileiros compram menos presentes e comem mais carne, dizem economistas

© Folhapress / Alessandro Buzas/Futura Press Comércio fechado na região de Botafogo no Rio de Janeiro (RJ), nesta sexta-feira (20), por conta do novo coronavírus.
 Comércio fechado na região de Botafogo no Rio de Janeiro (RJ), nesta sexta-feira (20), por conta do novo coronavírus. - Sputnik Brasil
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Extremamente impactado pelas medidas de isolamento, o comércio sofre para se manter e não realizar demissões em massa durante a pandemia. Para economistas, a situação tende a piorar, embora alguns setores ainda possam crescer.

Considerada a segunda data mais importante do ano para o comércio brasileiro, o Dia das Mães foi diferente este ano em virtude do isolamento social imposto pela quarentena.

Qual o impacto do isolamento no período de vendas do Dia das Mães no comércio? Segundo Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o varejo teve um desempenho negativo em função da pandemia do coronavírus.

"O volume de vendas, nessa data tão importante para o varejo, apresentou uma retração de cerca de 60% na média. Em alguns segmentos, relacionados à essa data, a queda chegou a 75%, como no caso do segmento de vestuário", disse Fábio Bentes à Sputnik Brasil.

Nas últimas semanas, em algumas lojas de grandes redes varejistas, cartazes foram afixados nas portas com nomes e número de Whatsapp de vendedores. Segundo Bentes, essa foi "uma tentativa desesperada do setor para tentar recuperar parte da receita perdida". Ele revelou que, além de venda por redes sociais, shoppings ofereceram vendas através do sistema de drive thru, nos estacionamentos. De todo modo, os efeitos da crise são graves.

Em circunstâncias normais, segundo o especialista, o Dia das Mães é a segunda data comemorativa mais importante no calendário do varejo nacional, ficando atrás somente do Natal. No ano passado, o volume de vendas no varejo durante o Dia das Mães alcançou a cifra de R$ 9,7 bilhões.

"Diante desta queda de aproximadamente 60%, este ano o volume movimentado ficou pouco acima dos R$4 bilhões. Isso equivale ao que o varejo vendia em 2008, portanto foi um retrocesso de 12 anos em termos de movimentação financeira", alertou o economista da CNC.

Ele acrescentou, entretanto, que o Dia das Mães não foi a primeira grande data comemorativa afetada pela pandemia. Durante a Páscoa foi registrada uma queda de 35% em relação ao ano passado. A queda só foi menor, do que a atual, porque os segmentos que vendem produtos para a festa religiosa são considerados essenciais. De todo modo, as perspectivas para o futuro não são animadoras e o presidente da CNC considera que o Dia dos Namorados, no dia 12 de junho, também deverá ser afetado.

"Seguramente vai ser algo próximo ao que foi o Dia das Mães. Bom lembrar que o Dia dos Namorados é uma data com tíquete médio mais baixo e geralmente o perfil do consumidor é mais jovem. E quanto mais jovem é consumidor, maior tende a ser o impacto do desemprego e da queda da renda no bolso", disse o entrevistado.

O economista citou um levantamento recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), segundo o qual o índice de confiança do consumidor atingiu o patamar mais baixo da série histórica, iniciada há 15 anos. "Portanto as perspectivas do varejo, não só nas datas comemorativas, mas como ao longo de todo o ano de 2020, não são positivas", ponderou Bentes.

"O Dia dos Namorados, o Dia dos Pais e até mesmo o Natal seguramente vão apresentar desempenhos negativos este ano. Porque, mesmo após a pandemia, vai ficar uma herança bastante negativa do ponto de vista econômico", acrescentou ele.

Online não compensa

Para Fábio Bentes, o varejo ainda pode se beneficiar com as vendas no e-commerce, seguindo uma tendência que já acontecia mesmo antes da pandemia.

No entanto, o economista destacou ser importante lembrar que, as vendas online ainda "representam 4%, no máximo 5%, do volume de vendas do varejo".

Ele destacou que as perdas semanais no varejo no final de março ultrapassaram a marca de R$23 bilhões em todo o Brasil. Já ao longo de abril, as perdas foram um pouco menores mas, "ainda assim, estamos falando de perdas semanais na casa dos R$18 bilhões".

Por isso, as vendas online, mesmo sendo uma área a ser explorada pelo varejo em tempos de dificuldade, ainda não compensam o impacto negativo da atual crise.

"Esse é um percentual pequeno, que aumentou durante a pandemia, mas seguramente não foi suficiente para compensar a forte retração das vendas presenciais", concluiu.

Esperança no setor agropecuário

Em tempos de crise em quase todos os setores, os produtores de carne brasileiros são uma das poucas categorias que ainda pode comemorar. Além do tradicional aumento do consumo do produto em datas comemorativas, a tendência, em 2020, é de crescimento.

O economista e especialista em economia agrícola, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Agostinho Celso Pascalicchio, elucidou o quadro para a Sputnik Brasil.

"Apesar da cautela que a população está tendo nos gastos, principalmente durante esta quarentena, as compras sazonais e para datas comemorativas continuam", disse o economista.

O setor de alimentos, supermercados e outras lojas de conveniência, continua de portas abertas. O economista aponta esse fato como o principal motivo da manutenção das vendas. Além disso, o pagamento dos salários no início de maio aqueceu o mercado e o preço dos produtos, graças a boa oferta, não tem subido de maneira significativa. As previsões de inflação são baixas e as compras de alimentos e de carne devem permanecer em maio.

"A produção de carne no Brasil é estimada este ano em 12 milhões de toneladas. As exportações devem ser de dois milhões de toneladas. Isso significa que exportamos cerca de 15% da produção total. O mercado interno brasileiro está bem ofertado e o Brasil tem aproveitado bem as oportunidades internacionais", explicou o entrevistado.

Pascalicchio argumentou que o Brasil possui o segundo maior rebanho no mundo, com 240 milhões de cabeças até o final do ano, depois da Índia, com 310 milhões de cabeças. Já a China, terceiro colocado, tem somente 94 milhões de cabeças. Essa grande diferença, segundo o acadêmico, significa uma boa oferta e um mercado bem aquecido.

"O consumo de carne [no Brasil] poderá crescer em torno de 9% este ano. É um bom crescimento e o crescimento se deve a uma boa oferta de carnes a preços adequados. A nossa expectativa é de que, devido ao controle da inflação, não deva ter um aumento significativo [no preço] das carnes, essenciais para população", concluiu.

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