Ameaças à estabilidade que marcaram 2019 na Ásia e como a região vai lidar com elas

© AFP 2023 / KCNA VIA KNSLançamento do míssil balístico Pukguksong-3 da Coreia do Norte, 2 de outubro de 2019
Lançamento do míssil balístico Pukguksong-3 da Coreia do Norte, 2 de outubro de 2019 - Sputnik Brasil
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O ano de 2019 foi um ponto de virada nas relações entre as grandes potências nucleares. Isso teve consequências diretas para a situação estratégica na Ásia, segundo refere o especialista militar russo Vasily Kashin.

Em 2019 os EUA se retiraram do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário de 1987 (conhecido como Tratado INF) e, logo depois disso, realizaram testes de mísseis proibidos por esse tratado – um míssil balístico e um de cruzeiro.

"Aparentemente, o abandono do tratado era desde o início o objetivo dos EUA, enquanto todas as acusações feitas à Rússia foram uma mentira deliberada para colocar a responsabilidade sobre os ombros de Moscou", disse especialista.

O objetivo real dos EUA era implantar mísseis de médio e longo alcance na Ásia, a fim de monitorar e fazer frente às crescentes capacidades de mísseis e nucleares da China. Mas os EUA não obterão a superioridade tão facilmente, apontou Vasily Kashin em entrevista à Sputnik China.

A China já supera significativamente os EUA na tecnologia de produção de mísseis de alcance intermediário, sublinha Kashin, o que foi mais uma vez demonstrado durante o desfile militar de 1º de outubro de 2019, dedicado ao 70º aniversário da criação da república popular. A China apresentou o seu primeiro míssil de alcance intermediário com a ogiva hipersônica DF-17. Ademais, a China tem maior capacidade para produzir mísseis balísticos e de cruzeiro.

"Na região Ásia-Pacífico já se desenrolou uma ativa luta diplomática. Os EUA, como é costume, (por enquanto não oficialmente) tentam exercer pressão sobre seus parceiros na região para obter sua concordância em instalar, no futuro, mísseis norte-americanos de alcance intermediário", disse.

A China toma medidas preventivas para evitar isso, explica especialista. Um exemplo é a declaração do Ministério da Defesa da China, em agosto de 2019, advertindo os países do Círculo do Pacífico para não consentirem na instalação de mísseis norte-americanos.

Particularmente, foram mencionados o Japão, a Coreia do Sul e a Austrália como as regiões mais prováveis de instalação destes mísseis.

"Sem dúvida, os países que permitirem a implantação dos mísseis enfrentarão uma forte pressão por parte da China", aponta especialista. Em 2016-2017, quando o sistema de defesa antimísseis THAAD foi instalado na Coreia do Sul, Pequim introduziu duras sanções econômicas (embora não anunciadas oficialmente) contra este país, o que teve um impacto significativo nos negócios sul-coreanos.

"Pode-se admitir que, em caso de colocação deste tipo de armas americanas em qualquer país da região, as consequências serão muito mais sérias."

O conflito por causa da instalação de armamentos estratégicos foi um traço característico da Guerra Fria entre os EUA e a URSS. As crises mais perigosas nesse período estiveram ligadas precisamente com a instalação de mísseis de alcance intermediário.

A Crise dos Mísseis de Cuba foi resultado da tentativa da União Soviética de implantar lá estes armamentos e acabou com a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba, em troca da retirada dos mísseis norte-americanos da Turquia. A crise perigosa do início dos anos 1980 teve a ver com a instalação de novos tipos de mísseis norte-americanos e soviéticos de alcance intermediário na Europa.

"Podemos assumir que futuras crises de mísseis na Ásia não vão ser menos perigosas. Seus participantes principais serão os EUA e a China, mas outros países também estarão envolvido", disse Kashin.

Moscou e Pequim já têm um acordo de princípio a propósito das questões ligadas à estabilidade estratégica e a sua visão comum destes problemas tem sido registrada em declarações conjuntas, aprovadas pelos líderes dos dois países em 2016 e 2019.

De outro lado, os EUA vão continuar tentando reforçar suas alianças na Ásia e atrair os europeus para a contenção da China, concluiu especialista.

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