Esta semana, Jair Bolsonaro cancelou, em cima da hora, uma audiência com chanceler francês Jean-Yves Le Drian. Bolsonaro afirmou afirmou que tinha outros compromissos, mas durante o horário planejado para o encontro fez uma live cortando o cabelo.
Antes, o presidente teria criticado a agenda do ministro francês, que teria planejado reuniões com a sociedade civil e ONGs. Esse seria o verdadeiro motivo do cancelamento da recepção, segundo analistas questionados sobre o tema pela imprensa.
A mídia francesa, por outro lado, noticiou o fato e alguns comentaristas consideraram que Bolsonaro teria "humilhado" a autoridade francesa.
Para o cientista político Paulo Velasco, Professor de Relações Internacionais da UERJ e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em conversa com Sputnik Brasil, a reação foi "exagerada".
"Eu não colocaria em termos tão duros, mas é algo que causa constrangimento", disse o professor que, todavia, acrescentou que o ministro foi acompanhado durante sua visita pelo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Ou seja, o protocolo foi cumprido.
Apesar disso, a atitude do presidente "abala o diálogo de alto nível".
"É muito ruim, de última hora, o presidente cancelar um encontro que teria com chanceler de um país da envergadura da França", pontuou o acadêmico.
"A França é um dos países de peso que apoia oficialmente o pleito do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A França é um parceiro histórico do Brasil em temas sensíveis como a temática militar. Foi nosso parceiro no programa do submarino nuclear e programa de submarinos de modo geral", explicou Paulo Velasco.
Por outro lado, o professor de Relações Internacionais concorda que nem tudo está bem no relacionamento do Brasil e da França, "agravado depois da eleição de Bolsonaro", em função de um certo "negacionismo" do presidente brasileiro das questões ambientais".
"Brasil tem a tendência de minimizar o aquecimento global", disse o especialista.
O interlocutor da Sputnik pontuou, entretanto, que a Europa costuma abusar do discurso ambientalista com fins políticos.
"Os países europeus se aproveitam sempre de qualquer brecha que tenham para ter algum tipo de poder de barganha com o Brasil, para pressionar o país a fazer ou deixar de fazer alguma coisa com interesses comerciais e econômicos", concluiu Velasco.
Por sua vez, em entrevista à Sputnik França, Christophe Ventura, especialista em assuntos latino-americanos do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicos (IRIS), declarou que, de certo modo, a postura de Jair Bolsonaro demonstrou sua insatisfação com as autoridades francesas sobre a necessidade de proteger o meio ambiente.

O especialista francês também cita que a postura de Bolsonaro foi "uma encenação política para demonstrar sua irritação com o governo francês".
A questão do meio ambiente e a campanha sul-americana de Jean-Yves Le Drian para promover o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas não teria agradado Bolsonaro, que pode estar interpretando a ação francesa como uma pressão sobre a América do Sul.
Além disso, Bolsonaro não teria gostado de Jean-Yves Le Drian pretender se encontrar com o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão.
Ao ser questionado se os pontos de vista de Bolsonaro eram anti-imperialistas, Christophe afirmou que o presidente do Brasil gosta de falar palavras vazias que não trarão consequências, não sendo uma pessoa com postura anti-imperialista.
"Jair Bolsonaro quer agradar àqueles que têm rancor contra os europeus [...], pois ele é presidente de um país que considera a Europa uma região de superioridade que possui muita influência na elite brasileira, bem como em sua cultura. Isso é uma provocação [...] confirmando que Bolsonaro redefiniu o curso do Brasil de acordo com os interesses de Washington”, opina o especialista francês.
Com relação à possível contradição entre a assinatura de um acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul, além do acordo climático de Paris, Christophe afirma que há uma série de questões econômicas e comerciais que podem agravar ou alterar clima, que o acordo de Paris pretende combater. "Nesse caso, o acordo de livre comércio contradiz as iniciativas sobre a mudança climática, já que o princípio de livre comércio pode elevar a emissão de CO2."

Contudo, o Acordo de Paris não prevê medidas restritivas, ou seja, os países que assinaram o documento não impuseram quaisquer restrições ou condições para uma solução ambiental. Sendo estabelecida apenas uma meta, na qual a elevação da temperatura não deve exceder 1,5 graus Celsius, completou Christophe Ventura.
Vale destacar que, embora Emmanuel Macron e Jair Bolsonaro demonstrem com frequência atritos especialmente em questões ambientais, as relações bilaterais entre os dois países continuam sendo importantes, isso porque o Brasil é o maior parceiro comercial da França na América Latina.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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