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Especialistas: Avaliações feitas sobre o Brasil no exterior têm critérios políticos

ENTREVISTA COM PROFESSOR JOSE MARIA 2 DE 19 02 16
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A agência de classificação de risco Moody’s divulgou relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevendo que o Brasil só deve sair da recessão em 2018. A Moody’s é a única das três agências que ainda não revisaram a situação do Brasil. Fitch e Standard&Poor’s já rebaixaram o rating para o nível especulativo.

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Segundo o estudo da OCDE, a economia brasileira deve encolher 4% este ano, acima do recuo de quase 3% em 2015 – em novembro, a previsão era de uma queda de 1,2%. Caso a previsão se confirme, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 e 2016 seria de 6,6%, a maior para dois anos desde a década de 80. Segundo a organização, a recessão deve continuar em 2017 com crescimento zero, e no ano seguinte voltar a crescer, ainda assim em um ritmo modesto, de 2% por ano até 2021.

Alguns especialistas, no entanto, têm apontado pessimismo excessivo nas avaliações e, principalmente, componentes políticos por parte de alguns organismos internacionais e das agências de classificação. Alguns países, segundo eles, em situação fiscal e econômica tão difícil, como a Argentina, por exemplo, têm sido poupados de críticas mais pesadas nas análises e projeções.

Um desses especialistas é José Maria de Souza Jr., professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, em São Paulo. Para ele, está havendo dois pesos e duas medidas.

"As agências estão bastante voltadas para o movimento de recursos de grandes atores financeiros mundiais. A questão da Argentina agora é, com o Presidente Mauricio Macri, para onde o país está apontando, se em direção mais do mercado, de competitividade, de fazer alguns acertos na política macroeconômica que podem estar mais alinhados com as práticas com que essas agências de risco e os investidores se sentem mais confortáveis.”

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Souza Jr. observa, porém, que essas políticas argentinas ainda não deram resultado por estarem sendo adotadas agora.

“O Macri está trabalhando bastante para satisfazer a plataforma pré-eleitoral dele, mas é preciso ver, no final deste ano ou no começo do ano que vem, quais serão os impactos e os caminhos que a Argentina vai tomar a partir dos próprios indicadores. As agências não estão esperando resultado. De certa forma, elas estão olhando para onde a Argentina está acenando, como se isso já tivesse dado resultado. Em minha opinião, isso é um certo equívoco, uma antecipação exacerbada das agências com relação às mudanças na Argentina e ao mesmo tempo um pessimismo talvez até exagerado com relação ao Brasil, porque o Brasil tem mais reservas, está com uma inflação menor e tem uma produção ainda significativamente maior.”

Apesar das críticas, o especialista concorda que os números da OCDE correspondem à realidade brasileira.

"A perspectiva em novembro do ano passado era a do próprio Governo. Ultimamente, tanto as perspectivas governamentais quanto as com relação ao crescimento do PIB e inflação vão sendo recalibradas ao longo do ano. O PIB sempre vai calibrando para baixo e a inflação para cima, o pior dos cenários. Espero que a perspectiva dela [OCDE] não seja confirmada, mas acho que eles têm bastante embasamento para fazer essa projeção."

O economista argentino Fabián Amico é outro especialista que compartilha a teoria de que componentes políticos estão presentes nas avaliações dos ratings soberanos pelas agências de risco. Amico, atualmente no Brasil, trabalhou no Centro de Estudos de Macroeconomia e Finanças para o Desenvolvimento da Argentina, fechado há um mês, logo após a posse de Mauricio Macri na Presidência.

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Segundo ele, uma prova das diferentes leituras pode ser observada nas avaliações que vêm sendo feitas não só pelas agências de risco mas também por instituições internacionais, da fragilidade das economias de Brasil e Argentina. Embora o país vizinho tenha registrado inflação real de quase 30% em 2015, esteja com reservas internacionais abaixo de US$ 30 bilhões, tenha desvalorizado o peso – cotado hoje a 15,30 por dólar – e continue sem resolver o pagamento da dívida externa com os chamados fundos abutres, as avaliações têm sido mais amenas do que as feitas sobre o Brasil.

"Não posso precisar, mas algo em torno de 25% das avaliações feitas pelas agências de risco são constituídos de critérios políticos. No caso brasileiro, não há qualquer risco em relação à dívida interna, por exemplo. Nenhum país pode quebrar se sua dívida está em moeda nacional", diz Amico. Segundo o economista, a situação das contas externas da Argentina é completamente diferente do Brasil.

Ele aponta outra contradição na avaliação das agências de risco. "Há seis anos, o quadro econômico da Argentina era muito melhor do que o atual, mas a avaliação das agências era pior que a de hoje."

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