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Uruguai repudia impeachment de Dilma: Crise pode ter forte impacto no Brasil e na AL

© AFP 2023 / EVARISTO SATabaré Vázquez e Dilma Rousseff em 21 de maio de 2015, no Planalto.
Tabaré Vázquez e Dilma Rousseff em 21 de maio de 2015, no Planalto. - Sputnik Brasil
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A Frente Ampla, coalizão liderada pelo presidente uruguaio Tabaré Vázquez, manifestou apoio à Presidenta Dilma Rousseff e ao PT na questão da abertura do processo de impeachment.

Durante uma sessão do Plenário Nacional da Frente Ampla, realizada em Montevidéu, a coalizão emitiu uma moção de repúdio ao que chamou de “tentativas de destituição da Presidenta Dilma Rousseff e de desestabilização de seu Governo, por parte dos que querem a qualquer preço recuperar o controle da política, não hesitando em gerar uma crise de forte impacto no Brasil e na região". 

O Professor Diogo Dario, doutor em Relações Internacionais pela Universidade Saint Andrews, do Reino Unido, chama a atenção para o fato de que Tabaré Vázquez é o primeiro chefe de Executivo a se pronunciar de forma explícita contra um eventual processo de impeachment.

“É a primeira reação oficial no exterior”, nota o Professor Dario, referindo-se ao Presidente Vázquez. “Nós tivemos a reação dos mercados, que era algo que estava sendo aguardado, estávamos na expectativa de que o dólar subisse ou não, e acabou que eles reagiram, digamos assim, de forma neutra. Alguns editoriais americanos reagiram com uma certa preocupação, mas ainda não tinha havido um governo ou uma coalizão se posicionando a respeito do assunto de forma tão demarcada.”

Segundo Diogo Dario, o fato de ser uma reação vindo de um presidente latino-americano, liderando um governo de esquerda, isso leva a uma reflexão sobre como o quadro de polarização política na América Latina, na América do Sul, está se movimentando.

Ao ser questionado sobre a importância do repúdio do Governo uruguaio às tentativas de destituição da Presidenta Dilma Rousseff e de desestabilização de seu Governo, por setores da política e do Judiciário, e que isso chegue até outras lideranças internacionais, o Professor Diogo Dario acha que para o Partido dos Trabalhadores essas manifestações seriam muito importantes.

“O PT defende a ideia de que, de certa forma, está sendo vítima da própria virtude. Como um Governo que combate a corrupção, ele está sendo controlado justamente por promover essa transparência. Mas mais importante do que isso é a questão do que o PT precisa construir para conseguir impor uma narrativa que o favoreça, porque o impacto desse tipo de declaração [do Presidente Tabaré Vázquez], nos trabalhos de médio prazo do Congresso, vai ser mínimo. A oposição está mobilizada para avançar o processo de impeachment, mas em algum momento os políticos têm que ouvir as ruas. Eles vão precisar se posicionar vendo a perspectiva de serem reeleitos para os próximos mandatos. O PT precisa, para colocar a maré da opinião pública a seu favor, construir uma narrativa eficiente.”   

O especialista em Relações Internacionais acredita que – assim como ocorreu com o processo de impedimento do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que diminuiu a credibilidade do Governo paraguaio – o processo de impeachment da Dilma pode diminuir a credibilidade do Governo brasileiro.

“Essa impressão vai colocar as instituições brasileiras, e não só o PT, como instituições fracas, instituições que não merecem credibilidade. Isso, sim, geraria um impacto muito importante na hora de os políticos tomarem a decisão da conveniência ou não de afastar Dilma Rousseff”.

Diogo Dario também ressalta que a declaração do Uruguai traz uma certa inversão de expectativas, pois do início do Governo Lula até agora o Brasil tem sido visto como um país estável, tentando se colocar como garantidor dos governos de esquerda num momento em que eles enfrentavam instabilidade.

“O Brasil se colocou contra o processo de impedimento de Fernando Lugo, presidente do Paraguai, em 2012. O próprio Lula remediou crises na Bolívia em mais de uma oportunidade, e na Venezuela logo no início do seu mandato. O Brasil estava construindo todo um aparelho institucional na América do Sul para se colocar como um mediador, e a premissa disso era que o Brasil tinha um Governo estável o suficiente para cumprir esse papel, em contraponto a países que precisavam dessa estabilidade. E o que se vê agora é um Brasil que está com um quadro político fragmentado, o Partido dos Trabalhadores e o Governo precisam construir uma narrativa para se consolidar institucionalmente.”

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