Opinião: Avião-espião americano na Venezuela faz parte da ‘diplomacia secreta’ dos EUA

TUDO É POLÍTICA 02 DE 11-11-15
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O vice-ministro do Exterior da Venezuela para América do Norte e Europa, Alejandro Fleming, entregou na terça-feira, 10, ao encarregado de Negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Lee McIeeny, uma carta de protesto contra a incursão de um avião militar dos Estados Unidos sobre território venezuelano.

O fato vem sendo denunciado pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, desde o domingo, 8. Na segunda-feira, foi a vez do Presidente Nicolás Maduro protestar contra os Estados Unidos e exigir um pedido de desculpas.

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Na avaliação de Maduro, a atitude dos EUA configura uma clara ameaça à integridade da Venezuela, e por este motivo os fatos devem ser denunciados também a organismos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas), a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e a Unasul (União das Nações Sul-Americanas), entre outros.

O Professor José Niemeyer, coordenador dos Cursos de Relações Internacionais do Ibmec-Rio, também considera muito graves os fatos denunciados pelo Governo venezuelano contra os EUA.

A seguir, o comentário do Prof. Niemeyer para a Sputnik Brasil.

“Se já há este nível de formalização de protesto do Governo venezuelano com relação ao Governo norte-americano, ele deve ter provas cabais de que isso ocorreu. Este assunto deve estar sendo tratado nas altas esferas dos dois Governos, com muito mais importância no venezuelano do que no norte-americano, porque faz parte da estratégia dos EUA, principalmente durante o período Obama, não dar muita confiança a este tipo de postura crítica de um segundo ou terceiro Governo. O grave é que realmente pode ter acontecido, porque nós vivemos hoje um ambiente internacional de muita indefinição, de muito pouca previsibilidade. Realmente, um avião norte-americano pode ter sobrevoado o espaço aéreo venezuelano em busca de informações, até porque toda a capacidade aérea norte-americana é muito concentrada na alta tecnologia, principalmente na busca de informações não só via satélite mas também por aviões que se aproximam, e todo um sistema de tecnologia de informação consegue obter dados sensíveis.

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Eu tenho a impressão de que este tipo de reclamação por parte do Governo venezuelano, e não só por parte dele, mas por parte de outros Governos, vai ser uma tônica dos próximos anos, porque o momento de indefinição e pouca previsibilidade vai fazer com que os países tenham sempre muito receio de perceberem suas informações cooptadas pelo serviço secreto de outro país. Isto está acontecendo em várias partes do mundo. Com países em relação a países que são mais poderosos – por exemplo a Venezuela e os EUA, uma superpotência econômica e militar versus um país sul-americano. Parece-me algo padrão essa reclamação de ingerência em assuntos internos de outro país, de vazamento de informações, de busca não autorizada de informações. Isso me parece uma tônica hoje, principalmente na relação entre países que são preponderantes no sistema internacional e países que não são tão relevantes. Vamos lembrar o caso de Brasil e EUA. O Brasil também reclamou de uma ingerência norte-americana a partir da sua infraestrutura de computadores, que estaria buscando informações sigilosas sobre empresas e o Governo brasileiros. Isto lembra um pouco a guerra-fria.

Os EUA sempre fizeram e continuam fazendo diplomacia secreta. Alguns países têm uma agenda de diplomacia secreta muito clara. É aquela forma de fazer diplomacia em parceria com o serviço secreto, os diplomatas quase são agentes secretos. A primeira questão é uma questão formal conceitual: os norte-americanos não vão admitir que fizeram esta ação de espionagem. E há uma outra questão que envolve toda a postura, toda a agenda do Governo Obama, que é a seguinte: qual a marca do Governo Obama? Para muitos é um Governo dúbio porque se aproxima da Palestina ao mesmo tempo que é aliado de Israel; negocia acordos com a União Europeia, mas, ao mesmo tempo, desconfia de algumas posições de Alemanha e França; se posiciona com relação à abertura do regime cubano mas não deixa clara a intenção desta abertura por parte dos EUA; vê o Brasil como aliado na América do Sul mas desconfia do Brasil como liderança solitária nesta região.

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A política externa do Governo Obama não tem um padrão de conduta, muda muito, e muda de propósito. É diferente das administrações republicanas, que tinham uma linha de política externa e iam até a guerra, se fosse necessário. Obama, não. Ele tem uma política externa que titubeia propositalmente. Faz parte da estratégia da política externa dele em parceria com a ação do serviço secreto. Sabe que a Venezuela é um país importante na América do Sul, para o fornecimento de petróleo e gás para os EUA; percebe que no Governo Maduro a situação até se aprimorou do ponto de vista do relacionamento entre os dois países, comparado à época Chaves, porém organiza uma ação de espionagem com relação aos interesses venezuelanos. Faz parte da política externa de Obama.”

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