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Valentina Matvienko em Brasília: Influência dos BRICS causa ciúme no resto do mundo

© Sputnik / Ekaterina Chesnokova / Acessar o banco de imagensValentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação da Rússia
Valentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação da Rússia - Sputnik Brasil
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Em entrevista exclusiva concedida à Sputnik em Brasília, onde está em visita às duas Casas do Congresso, a Senadora Valentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação da Rússia, fala sobre as relações entre os dois países e também da importância dos Parlamentos para o progresso do bloco BRICS.

Sputnik: Como a senhora avalia as perspectivas da cooperação parlamentar entre Rússia e Brasil?

Valentina Matvienko: As relações entre Brasil e Rússia se desenvolvem de forma muito participativa e dinâmica, baseadas na longa história da nossa cooperação, sustentada na interação e confiança, e, sem dúvida, o papel da cooperação parlamentar aumenta a cada ano. Nós completamos uma relação de dez anos de cooperação parlamentar entre os dois países, estabelecendo um contato muito ativo em nível de chefes dos Parlamentos do Conselho da Federação e do Senado do Brasil, com a criação de grupo de cooperação. Temos um intercâmbio ativo entre delegações e uma série de diferentes formatos, e entendemos que, com o crescimento da dinâmica de crescimento econômico e cooperação humanitária, cresce o papel dos parlamentares no apoio legislativo à cooperação bilateral. Brasil e Rússia entendem bem que somente com esforços conjuntos é possível desenvolver abordagens corretas e decisões que atendam às demandas dos novos tempos. E no âmbito da cooperação interparlamentar nós abordamos uma ampla gama de questões. Os parlamentares representam a escolha de diferentes forças políticas e grupos sociais, e por isso o diálogo parlamentar acontece de forma mais informal, mais aberta, considerando os interesses de diferentes partidos políticos, grupos socioeconômicos, e esse diálogo é sempre amigável.

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No âmbito da cooperação bilateral, planejamos assinar, durante a visita, o acordo para criar uma base jurídica para a nossa interação parlamentar e construir esse trabalho de forma sistêmica. Não apenas no âmbito dos grupos de cooperação, mas também entre comitês especializados, comissões, criando intercâmbio sobre experiências legislativas, fazendo tudo para aproximar nossas legislações, harmonizá-las, ratificando os documentos assinados em nível de chefes de Estados e Governos. É certo que a visita de hoje permitirá não só discutir todo o espectro da cooperação bilateral, a esfera econômica, energética, preservação da natureza, a esfera humanitária, mas estabelecer uma perspectiva de longo prazo. Inclusive Brasil e Rússia realizam hoje um diálogo intensivo no nível de alto escalão, os nossos chefes de Estado estão permanentemente em contato, encontram-se regularmente.

Além da cooperação bilateral, tem sem dúvida uma grande importância a nossa cooperação nas arenas parlamentares internacionais. Isso diz respeito à Cúpula dos BRICS, ao G20, à União Interparlamentar. Rússia e Brasil têm posições semelhantes e pontos de vista sobre muitas questões globais, regionais e internacionais. Isso nos permite coordenar os nossos esforços nos mercados internacionais e perseguir essas decisões e resoluções que atendam aos interesses de nossos países. E, claro, o acordo interparlamentar dentro do BRICS soou como algo completamente novo. Esta é uma associação de integração séria, que a cada ano vem ganhando força. E ela está se tornando um dos centros de influência política e econômica no mundo.

S: Queria justamente lhe perguntar sobre isso. Neste ano a Rússia preside o BRICS, e muitos eventos parlamentares já foram realizados. Como a senhora avalia as perspectivas deste formato? Por exemplo, existe alguma ideia de criar algo semelhante ao Parlamento Europeu, criar um Parlamento dos países BRICS?

VM: A Presidência da Rússia nos BRICS permitiu a realização de uma dinâmica de interação muito séria dentro desta associação de integração interregional. Estou absolutamente certa de que, se a dinâmica de cooperação econômica entre os BRICS ganhar impulso, a participação parlamentar será seriamente demandada. Nós nos convencemos disso quando realizamos em Moscou, neste ano, o primeiro Fórum Parlamentar dos Países BRICS. Existe interesse em ampliar esta cooperação. Em comparação com o Parlamento Europeu, o BRICS não tem estruturas supranacionais. Estamos ativamente discutindo com os colegas como pode se configurar esta espécie de dimensão parlamentar. Talvez na forma de fóruns anuais ou na criação de uma assembleia ou de quaisquer grupos de trabalho sobre áreas de cooperação necessárias. Mas o fato de que este tipo de cooperação, sob qualquer forma, pode ser e será desenvolvido – não há dúvida. E, como parte da nossa visita ao Brasil, eu e os meus colegas queremos discutir isso. Ouvir a opinião brasileira, seu ponto de vista. Somos muito gratos aos nossos parceiros dos BRICS, eles têm apoiado todas aquelas prioridades que foram apresentadas pela Rússia em sua presidência este ano. Estão sendo realizados contatos muito intensivos em diferentes áreas de cooperação. Começamos a entender melhor uns aos outros. E eu acredito que quando a presidência da Rússia terminar vamos deixar um legado muito bom para a contínua promoção dos BRICS. Inclusive, justamente no ano de presidência da Rússia nos BRICS foi realizado o primeiro Fórum Parlamentar.

S: E tem mais uma iniciativa. O Fórum Universitário dos Países BRICS. Foi decidido criar uma Universidade BRICS em rede – é uma associação universal pela internet de estudantes desses países. O quanto a senhora considera que esta união é promissora? E é necessário que o Brasil e a Rússia aumentem a cooperação nesta linha?

VM: É uma direção de perspectiva muito boa. Eu acredito que a criação de um espaço educativo comum dos BRICS é um novo passo importante para promover e aprofundar a nossa integração. A criação de uma universidade de rede no âmbito dos BRICS se tornará o mecanismo para expandir a nossa cooperação no domínio da educação. Em 18 de novembro de 2015 será realizada a Terceira Reunião dos Ministros da Educação dos Países BRICS em Moscou. Lá será assinada uma declaração especial. É claro, o nosso sistema de ensino é diferente. São diferentes métodos de ensino. Mas o objetivo da rede universitária é selecionar todas as melhores práticas que existem nos sistemas de ensino e colocá-las a serviço da criação de um único espaço educacional. Já foram definidas as direções de tais programas educacionais. A rede universitária vai prepara os profissionais que serão necessárias na implementação dos nossos programas conjuntos entre os BRICS. Acredito que a área da educação é muito promissora, pois haverá novos investimentos em capital humano, novos programas de pesquisa conjunta com a participação dos alunos de todos os nossos países. Esta é uma oportunidade de receber educação em diferentes países. A Rússia destina anualmente bolsas de estudo do Estado para o Brasil e outros países. E vamos continuar esta prática. Esta é uma direção promissora, que arrastará consigo outras direções.

S: O Brasil tem um sonho de longa data de se tornar um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Como a Rússia vê isso? O Brasil pode contar com o apoio da Rússia sobre esta questão?

VM: O Brasil é um país muito grande e influente, não só na região mas em todo o mundo. E as estruturas das Nações Unidas hoje já devem refletir as realidades econômicas e políticas atuais. No âmbito da cúpula dos BRICS em Ufá, na Rússia, foi enfatizado que a Rússia e a China apoiam o desejo do Brasil e da Índia de desempenharem um papel cada vez mais importante nos processos globais dentro da ONU. E se for tomada a decisão de expandir a ONU, no quadro da reforma da organização, visto que o mundo se transformou significativamente, a Rússia, é claro, vai apoiar o Brasil. Nós vemos no mundo de hoje como é deformado o direito internacional, é ignorado, como as decisões são tomadas sem ter em conta as opiniões das Nações Unidas e do Conselho de Segurança. Isso tudo traz a nós, os países BRICS, uma preocupação séria. Portanto, o fortalecimento desses novos atores com grandes economias como o Brasil certamente reforça os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas. Por isso, vamos certamente apoiar o papel crescente do Brasil nos assuntos mundiais.

S: Para concluir, em breve será realizada a cúpula do G20, em 15 e 16 de novembro, na Turquia. E no contexto do evento sempre ocorrem encontros dos líderes BRICS. A senhora poderia dizer o que será discutido nesta cúpula, se existe tal informação?

VM: Via de regra, nestas arenas internacionais acontecem encontros bilaterais e encontros multilaterais. Acontecerá, é claro, o encontro entre os chefes de Estado dos BRICS. Vamos ter paciência e esperar. Mas estou certa de que, com o desenvolvimento da reunião de cúpula realizada em Ufá, será discutida toda uma gama completa de prioridades que sejam direcionadas a uma maior promoção da integração. É importante que os países BRICS sempre demonstrem compreensão e confiança mútua. As discussões ocorrem sempre com uma atitude positiva. Não temos nenhuma contradição fundamental, conceitual. Todos os países apresentam um verdadeiro interesse em aprofundar a cooperação no âmbito do BRICS. Talvez para alguns isto cause alguma espécie de ciúme, pois os BRICS vêm ganhando influência no mundo. E é considerada uma das plataformas de integração mais eficazes. Eu quero enfatizar que nós não somos parceiros contra alguém. Somos parceiros em favor do interesse de nossos países. Nós temos um enorme potencial de cooperação. Rússia e Brasil são Estados federais, e somos muito similares. E o Senado do Brasil também é a Câmara de Representantes de regiões. A nossa cooperação está mais perto das pessoas, é menos burocrática e dá um resultado concreto de forma mais rápida.

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