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Países emergentes temem aumento da taxa de juros dos EUA em dezembro

ENTREVISTA COM MAURO ROCHLIN 2 DE 29-10-15
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O Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos, anunciou na quarta-feira, 28, que a taxa de juros para novembro de 2015 será a mesma que está em vigor, oscilando entre 0 e 0,25%.

O mercado financeiro dos Estados Unidos não se surpreendeu com a decisão, embora desde o início de outubro esteja na expectativa de uma majoração da taxa.

Segundo a diretora-geral do Fed, Janet Yellen, não está descartada a possibilidade de a majoração acontecer ainda este ano, o que poderá ser anunciado na próxima reunião dos dirigentes do Federal Reserve, no final de novembro.

Para o economista Mauro Rochlin, professor dos Cursos de MBA da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, a decisão do Banco Central dos Estados Unidos de manter a taxa de juros nos níveis atuais é boa para os países emergentes, entre os quais, o Brasil.

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Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Rochlin afirmou que os grandes investidores internacionais dão sempre preferência aos países que melhor remuneram os seus capitais. Ele disse ainda que, se os Estados Unidos elevarem a taxa de juros, a tendência é de que os investidores retirem seus recursos dos mercados emergentes e os apliquem nos EUA.

A seguir, a entrevista com o professor da Fundação Getúlio Vargas.

Sputink: O que significa a atitude do Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), de manter as taxas de juros entre 0 e 0,25%, sabendo-se que já no mês passado, quando esta decisão foi igualmente mantida, já se vislumbrava a possibilidade de ela ser majorada para o mês de novembro, e que agora só deverá ocorrer em dezembro?

Mauro Rochlin: A manutenção da taxa dá um tempo maior para as economias emergentes, em particular a economia brasileira, para que façam os ajustes necessários ao ambiente de taxas de juros mais elevadas. Uma taxa de juros maior nos Estados Unidos deve acabar por representar uma maior atração de capitais para lá, os títulos do governo norte-americano se tornarem mais atrativos com uma taxa de juros maior. Isto deve atrair mais capital estrangeiro para os EUA, e como o investimento financeiro no mundo normalmente é feito tomando-se como base algo entre a taxa de juros americana e a taxa de juros doméstica de cada país, é isso que o investidor olha na hora de se decidir se vai fazer uma aplicação financeira nos EUA ou no exterior. Dado que essa taxa foi mantida, as economias emergentes têm, ainda, vantagens com relação à economia americana em termos de atração do capital financeiro. Basicamente, a ideia é de que uma taxa de juros menor nos EUA favorece um investimento financeiro maior de americanos e de estrangeiros fora dos EUA.

S: O Brasil é um dos beneficiários desta política?

MR: Sim, o Brasil é um dos beneficiários, porque parte importante da dívida interna brasileira está em mãos de estrangeiros, que têm cerca de 18% da dívida. Na medida em que a taxa de juros americana sobe, isso faz com que esses estrangeiros tenham maior interesse por taxas mais altas. O diferencial das taxas de juros vai diminuir na hora em que se aumentar a taxa de juros americanas, e com isso deve haver alguma migração de capitais financeiros estrangeiros que estão no Brasil para solo americano.

S: O senhor entende que esse processo é automático – o investidor externo deslocar o seu investimento de um país emergente como o Brasil para os EUA já no mês de dezembro se, de fato, houver uma majoração da taxa de juros naquele país?

MR: Não, eu acho que isso não é automático. Esse movimento já se iniciou há algum tempo na medida em que já havia a perspectiva de que esses juros fossem aumentados. Esta perspectiva foi sendo adiada, e a previsão que temos no momento é de aumento em dezembro. E, apesar de ele não ser automático, a ideia é de que este aumento da taxa de juros não se resuma a um só episódio. A ideia é de que, quando se começa um ciclo de alta, ele se conclua com as taxas de juros num novo patamar, ou seja, a expectativa é de que, se elas iniciam um movimento de alta em dezembro, isso acaba por ser um atrativo que vai aos poucos, ao longo do tempo, reduzindo o fluxo de capital para países emergentes e aumentando o fluxo para países desenvolvidos, em particular os EUA.

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S: Uma das alegações do Banco Central americano para a manutenção das taxas de juros é de que a inflação no país continua abaixo de 2% ao ano e o ritmo de crescimento de postos de trabalho diminuiu, embora o desemprego no país esteja se mantendo estável e as exportações continuem enfraquecidas ou não no mesmo ímpeto que tinham anteriormente. Há necessariamente uma relação entre um fato e outro?

MR: Sim. O Banco Central americano usa dois balizadores para definir a taxa de juros: a taxa de inflação e a taxa de desemprego. A taxa de desemprego é um fator fundamental nas decisões do Fed. E o que ele tem verificado é que, apesar de a taxa ser baixa, a evolução do salário real americano é tímida. Este é um indicador importante porque mostra o vigor desta retomada. Na medida em que eles verificam que o salário real não tem avançado e, segundo alguns analistas, isto acontece pela presença forte do trabalho temporário (que, aliás, também é uma outra indicação de que a robustez do mercado de trabalho americano ainda não se mostrou na sua real dimensão). Por conta disso o Banco Central fica monitorando inflação e desemprego e todos os componentes dessas duas taxas para sua decisão final. Uma vez que ainda não se verifica uma consistência maior desta retomada, os postos de trabalho abertos são temporários, e isso acaba por fazer com que o Banco Central adie ainda mais a decisão do aumento da taxa de juros.

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