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Opinião: Inflação vai cair, mas virada da economia brasileira só se dará em 2017

ENTREVISTA COM ROBERTO FENDT 2 DE 03 09 15
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“As taxas de inflação serão reduzidas no próximo ano e ficarão bem próximas da meta estabelecida pelo Governo”, afirma o economista Roberto Fendt, diretor-executivo do Cebri – Centro Brasileiro de Relações Internacionais, falando com exclusividade para a Sputnik Brasil.

Roberto Fendt analisou as consequências e as razões de o Copom – Comitê de Política Monetária ter mantido em 14,25% para o mês de setembro a taxa de juros anunciada em agosto passado.

Nas palavras de Fendt, as autoridades financeiras do Brasil se convenceram de que não há mais espaço para uma nova elevação dos juros no país. Segundo o economista, juros elevados têm um custo muito alto, pois paralisam os investimentos, inibem os empregos e levam as pessoas a uma maior contenção em seus gastos.

O especialista entende que a manutenção da taxa de juros pelo Copom em 14,25% sinaliza que os meses finais de 2015 ainda terão juros elevados, mas a partir dos primeiros meses de 2016 a tendência é de declínio dos juros e, consequentemente, da inflação.

A seguir, a entrevista de Roberto Fendt à Sputnik Brasil.

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Sputnik: Para onde vai a inflação com esta taxa de 14,25% mantida pelo Comitê de Política Monetária?

Robert Fendt: O Copom havia anunciado na reunião em que elevou a taxa para 14,25% que o ciclo de alta da taxa de juros estava encerrado, ou seja, não sobe mais. E também não baixa. E por que não baixa? Porque os resultados fiscais não estão sendo suficientes para conter a inflação. Resta ao Banco Central o seu único instrumento, que é o aperto da liquidez, e com isso a taxa fica alta. E por que não sobe mais? Porque muito provavelmente a inflação vai arrefecer daqui para a frente, na medida em que formos pegando os últimos 12 meses nós vamos ter inflações declinantes. A inflação vai, devagarinho, sair de um patamar superior a 9% e vai caminhar para um patamar mais próximo da meta. Hoje o mercado está estimando que a inflação vá chegar, no ano que vem, a 5,5%, o que em grande parte vem do fato de que ela tinha acelerado muito pelos preços administrados. Como a taxa de juros tem muito a ver com a inflação, com uma inflação de quase 10% a taxa de juros líquida da inflação está numa faixa, se olharmos para trás, de 4%. Se olharmos para a frente, a taxa líquida da inflação vai subir muito porque a inflação está caindo, e isso deverá fazer com que o Banco Central, lá na frente, baixe a taxa de juros.

S: Você arriscaria uma previsão do percentual de fechamento da inflação em 2015?

RF: Um percentual bem abaixo dos 9%, mas não muito abaixo. O reajuste dos preços administrados ainda impacta na inflação deste ano, ainda tem algum efeito. A partir de fevereiro do ano que vem, quando tirarmos da inflação apurada esses reajustes dos preços administrados, teremos uma redução muito significativa já no primeiro trimestre.

S: O que se pode esperar dos resultados das medidas de ajuste fiscal propostas pelo Ministro da Fazenda Joaquim Levy?

RF: Muito pouco efeito, porque, em primeiro lugar, o lobby fiscal é muito complicado, 92% das despesas correntes hoje, com toda a legislação em vigor, inclusive normas constitucionais, não são passíveis de redução. Os grandes grupos de despesas que são os pagamentos de benefícios previdenciários – pensões e aposentadorias –, os salários e encargos dos servidores públicos também não podem ser reduzidos. Não se pode mandar as pessoas embora a seu bel prazer. A lei de responsabilidade fiscal autoriza que se reduza o número do funcionalismo, mas em vez de diminuir, de 2003 para cá, houve um salto enorme de 28% de acréscimo no número de servidores públicos. E também não é possível o Governo deixar de pagar os juros e os encargos da dívida pública. O que ele pode fazer é baixar a taxa de juros, mas qualquer que seja ela, terá que ser paga no vencimento ou então pode se dar um calote aos detentores da dívida pública. Isto tudo junto e mais outras vinculações para educação, saúde, estas vinculações precisariam de mudanças ou na Constituição, em alguns casos, ou na lei. Nada disso foi feito. Então o impacto é pequeno porque os outros 8% dizem respeito àquele custo mínimo de operação do Governo, de investimento. Sou um pouco cético: enquanto não for possível fazer algumas reformas de profundidade o lado fiscal vai ajudar muito pouco.

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S: Você acredita que a economia brasileira neste ano de 2015 está perdida?

RF: Nós vamos fechar o ano com uma grande recessão. Há uma enorme discrepância entre as empresas de consultorias e dos bancos que fazem projeções. Temos no mercado gente que acha que o ano vai fechar com uma queda em torno de 2%, e outros apostam que a queda vai ser da ordem de 2,5%. Se for, será uma das recessões mais brabas que já tivemos. O grupo que data as diversas fases do ciclo econômico da Fundação Getúlio Vargas e que mostra que nós estamos em recessão desde o primeiro trimestre de 2015 diz que temos oito trimestres de recessão: o produto caindo o ano todo de 2015 e ainda no ano de 2016. A recuperação começaria no final de 2016.

S: Ou seja, a virada vai ficar mesmo para 2017, conforme o próprio Joaquim Levy já antecipou.

RF: Sem dúvida. É unânime. Não há ninguém achando que vai ser diferente disso.

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