Unasul está disposta a intermediar conflito de fronteira entre Venezuela e Colômbia

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Colômbia e Venezuela vivem momentos de tensão desde a semana passada, quando ocorreu um incidente na fronteira entre os dois países. Na ocasião, um ataque de paramilitares colombianos provocou a morte de três militares e um civil venezuelanos.

Após o incidente, ocorrido na quinta-feira, 20, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, decretou o fechamento da região de fronteira com a Colômbia por 72 horas. O prazo deveria ter-se esgotado no domingo, 23, mas logo no início da semana Maduro decidiu estendê-lo. Diante das críticas do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e do consequente agravamento das tensões entre os dois países, o secretário-geral da Unasul e ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper, ofereceu-se para intermediar a paz entre os governos colombiano e venezuelano.

Todos estes fatos foram comentados, em entrevista exclusiva para a Sputnik Brasil, por Rafael Araújo, professor de História e Relações Internacionais de duas instituições de ensino superior, a Unilasalle e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

A seguir, a entrevista com o especialista em políticas latino-americanas, em especial da Venezuela.

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Sputnik: O que levou Nicolás Maduro a estender o tempo de restrições na fronteira com a Colômbia?

Rafael Araújo: Maduro, num primeiro momento, decretou o fechamento da fronteira por 72 horas em razão do atentado que feriu três membros do exército venezuelano. Posteriormente, ele decretou estado de exceção na área, estendendo esse prazo para dois meses, sob o argumento de não só prender aqueles envolvidos no atentado da semana passada mas também de agir contra o crime organizado, contra as milícias que se encontram na região de fronteira e que transitam entre Táchira, na Venezuela, e Santander, na Colômbia.

S: Os integrantes das milícias são de qual nacionalidade?

RA: São paramilitares colombianos e contrabandistas dos dois países que agem na região, traficando drogas e armas e até alimentos, que são subvencionados pelo Governo venezuelano por meio de redes de mercado que têm o apoio do Estado. Esses alimentos saem da Venezuela e vão para a Colômbia, já que são mais baratos. A fronteira é muito caótica, porque passa de tudo, de arma, droga e comida, e o Governo venezuelano se aproveitou do atentado da última semana para agir contra o crime organizado na região. E em paralelo a isso iniciou um processo intenso de deportação de colombianos ilegais que estão na fronteira. Cerca de mil pessoas já foram deportadas da Venezuela para a Colômbia.

S: Essa tensão pode evoluir para um confronto militar entre os dois países?

RA: Eu acredito que não, já que Juan Manuel Santos tem tido declarações bem sensatas sobre o tema e de certa forma não está alimentando uma confrontação com a Venezuela, só tem questionado essa medida de deportação dos imigrantes ilegais que estão em território venezuelano. Podemos até refletir se havia necessidade de Maduro realizar esta medida neste momento, já que de 5 a 6 milhões de colombianos vivem na Venezuela. Uma grande massa desses colombianos é de ilegais. Os números são muito imprecisos, já que não há um instrumento tanto do Estado venezuelano quanto do colombiano, para averiguar de forma correta estes números. Os dados que estou dando aqui são de uma associação de colombianos na Venezuela.

S: O secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia, revelou-se disposto a intermediar o conflito entre os dois países. Quais as possibilidades de Samper ser bem sucedido?

RA: Ele apontou que só pode fazer algum tipo de intervenção caso haja uma demanda dos dois países, porque a resolução de criação da Unasul traz este elemento: a Unasul só pode intervir no conflito entre países sul-americanos caso haja uma demanda dos países envolvidos.

S: É preciso que haja consenso, a iniciativa unilateral não é admitida.

RA: Exatamente. Não adianta, por exemplo, Juan Manuel Santos pedir intervenção da Unasul se a Venezuela não demandar isso também. Está havendo uma reunião entre as ministras das relações exteriores da Venezuela e da Colômbia, em Cartagena, e talvez o mais breve possível tenhamos uma resolução deste encontro, e se vai haver um pedido de intervenção da Unasul.

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S: Mas a questão parece ser eminentemente política. Temos que levar em consideração a forte presença política do ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, que lidera organizações de direita e tem todo o interesse nas eleições locais e regionais de 6 outubro. E Nicolás Maduro já voltou suas baterias contra Uribe, que estaria contribuindo para fortalecer este antagonismo entre Colômbia e Venezuela. Este clima de tensão tende a se esgotar ou a se prolongar?

RA: A boa vontade, tanto da Colômbia quanto da Venezuela, em negociar uma solução aponta para que possivelmente haja uma paralisação destas tensões, haja uma resolução política para essa questão fronteiriça. De sexta-feira passada até hoje já mudou muito o cenário, é tudo muito dinâmico, mas eu acredito que haja uma resolução. Um conflito armado entre Venezuela e Colômbia não interessa a ninguém. Talvez interesse a forças escusas que possam agir no sentido de levar ao confronto entre os dois países, mas não me parece ser o desejo nem a intenção de Colômbia e Venezuela. Acredito que haja uma solução negociada, ainda mais com a possibilidade de a Unasul se colocar como uma agente de negociação entre os dois países.

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