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Opinião: Na ditadura, havia conivência entre serviços de segurança de Brasil e EUA

© AFP 2023 / VANDERLEI ALMEIDA / Acessar o banco de imagensManifestação realizada no Rio de Janeiro em 2014 contra a opressão do regime militar brasileiro, 50 anos após o golpe de 1964
Manifestação realizada no Rio de Janeiro em 2014 contra a opressão do regime militar brasileiro, 50 anos após o golpe de 1964 - Sputnik Brasil
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A notícia de que os Estados Unidos tinham conhecimento quase que instantâneo do que se passou no Brasil durante o regime militar, envolvendo sequestros, prisões e torturas de presos políticos, não surpreendeu o especialista Professor João Cláudio Platenik Pitillo. Ele falou sobre o assunto com exclusividade para a Sputnik Brasil.

Em sua avaliação, a notícia revelada esta semana, de que o Governo norte-americano entregou às autoridades brasileiras 538 documentos comprovando o seu conhecimento sobre a matéria, é uma demonstração de que havia estreita conivência e cooperação entre os serviços de segurança do Brasil e dos Estados Unidos.

Diz o Professor João Cláudio Pitillo: “Essa informação não surpreende quem estudou o golpe de 1964 [a chamada Revolução Militar de 31 de março daquele ano, que derrubou o Governo de João Goulart e implantou a ditadura militar no Brasil]. Nós sabemos quem foi Lincoln Gordon [embaixador dos Estados Unidos no Brasil entre 1961 e 1966], nós sabemos quem foi Vernon Walters [militar, diplomata e ex-vice-diretor da CIA, que atuou no Brasil e em outros países da América Latina] e sabemos quem foi Dan Mitrione, oficialmente, um funcionário da USAID mas, na prática, professor de técnicas de tortura para policiais do Brasil e do Uruguai. Nós sabemos como estes três homens agiam junto ao governo militar brasileiro e de que forma eles articularam para que tudo aquilo relacionado à segurança do regime chegasse ao conhecimento imediato do Governo dos Estados Unidos. Todos esses personagens tiveram participação ativa no golpe de 1964. Eles trouxeram vários ‘assessores’ dos Estados Unidos ao Brasil para que também cooperassem na repressão, na tortura, e para que os Estados Unidos soubessem, quase que imediatamente, o que se passava no Brasil”. 

Dentre os 538 documentos entregues pelos Estados Unidos ao Brasil, há um memorando sobre o desaparecimento do Deputado Rubens Paiva, cujo mandato foi cassado em 1964. Rubens Paiva foi preso em casa, no Rio de Janeiro, em 1971. Após a prisão, ele foi levado para instalações militares. A morte de Rubens Paiva só foi confirmada no Brasil em 2012, mas nos Estados Unidos a confirmação chegou bem antes, em fevereiro de 1971, logo após a prisão do político.

Segundo o Professor João Cláudio Pitillo, “isto prova que havia conivência entre os serviços de segurança do Brasil e dos Estados Unidos. Rubens Paiva foi preso e morto em 1971. Os Estados Unidos souberam disso no mesmo ano; o Brasil só recebeu esta confirmação em 2012”.

Pitillo ressalta ainda que o Presidente João Goulart [o último civil no poder até o golpe de 1964] jamais teve qualquer envolvimento com movimentos de esquerda ou foi seu simpatizante. “Os Estados Unidos sabiam disso mas precisavam de um pretexto. Então, como Goulart havia sido ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, havia estado na China e defendia um capitalismo controlado pelo Estado com preocupações pela justiça social, foi chamado de comunista. Criado o pretexto, tentou-se de tudo para afastar João Goulart do poder. Foi inclusive montado um plano para abater o avião que o trazia da China de volta para o Brasil. Mas os militares preferiram afastá-lo, e só lhe restou, então, cuidar de suas terras no Brasil e no Uruguai”. 

Para Pitillo, as causas da morte de João Goulart, em 6 de dezembro de 1976, em Mercedes, distrito de Corrientes, na Argentina, ainda não estão esclarecidas: “Os militares disseram que ele sofreu ataque cardíaco, mas um agente da Operação Condor [aliança político-militar montada entre regimes de países da América do Sul, como Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai, e a CIA, dos Estados Unidos, para combater grupos e militantes opositores entre os anos 1970 e 1980] admitiu publicamente que havia mexido nos remédios que o ex-presidente usava, para provocar a sua morte. Nada ficou provado, mas as dúvidas persistirão”.


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