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Estupro coletivo: especialista aponta comportamento cínico da sociedade

ENTREVISTA COM LUCIA XAVIER 2 DE 30 05 16
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O caso da adolescente de 16 anos estuprada por mais de 30 homens na Zona Oeste do Rio continua repercutindo no Brasil e no exterior. O caso está sendo apontado por profissionais de saúde, sociólogos, psicólogos e ONGs como um exemplo que ressalta a vulnerabilidade da mulher e as contradições da sociedade brasileira.

Para a coordenadora de estudos da Organização Não-Governamental (ONG) Criola, com sede no Rio, Lúcia Xavier, o estupro coletivo da jovem fala também sobre um modo de pensar a cidadania das mulheres, dos grupos excluídos, daqueles que estão em situação de vulnerabilidade. O tema, segundo ela, apesar de doloroso e difícil, tem várias pontas. 

"Uma é o sentido da segurança das mulheres numa sociedade como a nossa onde, por exemplo, no Estado do Rio de Janeiro 13 mulheres são estupradas por dia. Esse é um número bastante forte que já indica para as autoridades e a sociedade que tem algo errado e isso no momento em que as leis para as mulheres crescem, há uma lei forte contra a discriminação de gênero e ao mesmo tempo uma reação negativa de certos setores da sociedade que acabam sendo condescendentes com esse tipo de prática. Sabemos que crimes dessa natureza falam de diferentes perspectivas da sociedade. Existe uma cultura de violência contra a mulher até, de fato, uma omissão das instituições públicas em relação a esse tipo de problema."

Segundo Lúcia, há uma contradição evidente no comportamento social que diagnostica que a culpada pelo estupro é a jovem, mesmo após a brutalidade na participação de 30 homens no ato.

"Esse assunto também revela a dificuldade da sociedade em aceitar os direitos das mulheres como direitos humanos. Boa parte da sociedade ainda vive uma situação longe da perspectiva dos direitos de gêneros. Recentemente o Brasil foi assolado por uma discussão sobre o fim da ideologia de gêneros. Isso só nos deixa mais sobressaltadas porque essa reação em cadeia fortalece atitudes como essa. A maioria desses homens não se sente responsável, nas medida em que não percebe uma atuação por parte do poder público de vigilância e controle sobre esses atos."

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Três Comissões da OAB acompanham o caso da adolescente vítima de estupro coletivo

A alegada demora das investigações, segundo a família da vítima e de vários especialistas, é vista pela coordenadora da ONG como uma questão de cuidado das autoridades públicas em apontar acusados rapidamente para determinadas situações de criminalidade e violência no sentido de ter as provas e evidências necessárias. Ainda assim, Lúcia faz uma ressalva:

"Em situações em que as vítimas têm melhor condições de vida, são de outras classes, têm uma defesa mais contundente e conhecem os representantes do sistema de Justiça a primeira coisa que se faz é defender a vítima, e nesse caso a primeira coisa que se fez foi atacar a vítima, mostrar que a palavra (dela) não tem força, que o que ela disse que viu não foi exatamente o que aconteceu. Trinta homens estupram uma mulher, que morta de vergonha leva quatro dias para denunciar, no serviço de saúde ninguém notou os ferimentos, não foi colhido material, não foi feito nenhum tipo de cuidado com essa mulher, que fica por conta da família dela e quando ela diz isso me aconteceu, dizem: 'ah! isso pode não ser bem assim. Olha, você pode estar fantasiando, não é bem isso. O que você foi fazer lá?' Tenho ouvido muito isso. Para essa sociedade isso não importa, o que importa é que ela não agiu bem."

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