Do incêndio do Reichstag a 'tubinho' de Colin Powell: provocações como pretexto de guerra

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Navio sendo torpedeado durante exercícios navais (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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O ataque químico na cidade síria de Douma, realizado no dia 7 de abril deste ano, foi uma "provocação planejada", cujo objetivo era justificar a agressão contra um Estado soberano, declarou Aleksandr Shulgin, embaixador da Rússia na OPAQ, nesta segunda-feira (16).

Os EUA, França e Grã-Bretanha, que acusaram o exército sírio de usar armas químicas em Douma, lançaram mais de 100 mísseis contra a Síria em 14 de abril. Três civis ficaram feridos. O ataque foi feito antes mesmo dos investigadores da OPAQ chegarem a Douma.

Cumpre lembrar que os especialistas do Centro de Reconciliação Russo na Síria estiveram no local do suposto ataque químico antes do ataque da coalizão ocidental, mas não encontraram quaisquer vestígios de substâncias tóxicas. Também não houve relatos sobre pacientes envenenados em hospitais locais.

A Sputnik fez uma compilação de vários exemplos de provocações instigadas com objetivos políticos e que, em alguns casos, desencadearam conflitos militares de grande escala.

Incêndio do Reichstag

Na noite de 27 para 28 de fevereiro, foi atiçado fogo no Reichstag, em Berlim. Ao chegar ao local, a polícia prendeu um jovem comunista desempregado de origem holandesa, Marinus van der Lubbe.

CC0 / Record Group 208: Records of the Office of War Information, 1926 - 1951 / Firemen work on the burning ReichstagBombeiros lutam contra as chamas no Palácio do Reichstag, Berlim (foto de arquivo)
Bombeiros lutam contra as chamas no Palácio do Reichstag, Berlim (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
Bombeiros lutam contra as chamas no Palácio do Reichstag, Berlim (foto de arquivo)

As autoridades nazistas usaram o incêndio do Reichtag para fins políticos, acusando os comunistas alemães pelo ato. Assim, foram canceladas as liberdades individuais e os comunistas foram alvo de caça.

Existem várias hipóteses: desde uma conspiração nazista até a um ato individual. Uma investigação posterior desvendou que vários pontos do prédio já tinham pegado fogo quando o comunista holandês apareceu no Reichstag. Jacques Delarue, historiador francês, considera que o incêndio foi provocado por iniciativa de Herman Goring.

Tubinho de antraz como falso pretexto para iniciar a guerra no Iraque

Em 5 de fevereiro de 2003, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, sacudiu um suposto tubinho com antraz perante a ONU. Segundo os norte-americanos, esse tubo com pó branco provava que o Iraque, cujo líder na época era Saddam Hussein, escondia armas de destruição em massa.

© AP Photo / Elise AmendolaColin Powell apresenta frasco de antraz no Conselho de Segurança da ONU
Colin Powell apresenta frasco de antraz no Conselho de Segurança da ONU - Sputnik Brasil
Colin Powell apresenta frasco de antraz no Conselho de Segurança da ONU

Membros do Conselho de Segurança da ONU, no entanto, se recusaram a dar luz verde à intervenção militar. Um mês e meio depois, iniciou-se a operação britânica e norte-americana no Iraque. Durante a operação, 9.200 militares iraquianos e 7.300 civis foram mortos. Evidências da existência de armas biológicas, químicas ou nucleares nunca foram encontradas no Iraque.

Um ano depois da guerra no Iraque, Powell reconheceu que foi mal informado e que os dados publicados eram imprecisos ou foram manipulados.

Incidente de Mukden

O incidente de Mukden (atualmente, Shenyang) marcou o início da Segunda Guerra Mundial na Ásia.

Na noite de 18 para 19 de setembro de 1931, soldados do Exército de Kwantung do Japão colocaram uma bomba perto dos trilhos de ferrovia perto da cidade de Mukden. O Japão, que culpou a China, usou isso como pretexto para invadir a Manchúria. A ocupação japonesa durou até 15 de agosto de 1945.

O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, estabelecido em Tóquio conforme a Declaração de Potsdam de 1945, descobriu que vários oficiais japoneses de alto escalão participaram da conspiração.

Incidente do Golfo de Tonkin

Dois episódios, que ocorreram no Golfo de Tonkin em 2 e 4 de agosto de 1964, deram origem à guerra do Vietnã.

Segundo a versão oficial, lanchas vietnamitas atacaram em 2 de agosto de 1964 o destroier norte-americano Maddox que estava no Golfo de Tonkin em águas internacionais. Os historiadores acreditam que o destroier entrou deliberadamente nas águas territoriais do Vietnã. Para ajudar o Maddox, foram enviados caças F-8 Crusader. As lanchas vietnamitas foram danificadas e voltaram à base.

CC0 / U.S. Navy - Official U.S. Navy photo USN 711524 from the U.S. Navy Naval History and Heritage Command / the U.S. Navy destroyer USS Maddox (DD-731) Lancha vietnamita procura evitar o fogo do USS Maddox (2 de agosto de 1964)
Lancha vietnamita procura evitar o fogo do USS Maddox (2 de agosto de 1964) - Sputnik Brasil
Lancha vietnamita procura evitar o fogo do USS Maddox (2 de agosto de 1964)

O presidente Lyndon Johnson ordenou que o destroier Turner Joy se juntasse ao Maddox. Na noite de 4 de agosto, a caminho do golfo de Tonkin, os destroieres foram atacados por navios desconhecidos durante uma tempestade e abriram fogo de resposta. No entanto, as aeronaves não detectaram navios inimigos, mas Washington já havia sido avisado do "ataque". De acordo com documentos da Agência de Segurança Nacional dos EUA desclassificados em 2005, desde o início que surgiram muitas dúvidas sobre o "ataque" no Golfo de Tonkin.

Devido ao incidente de Tonkin, o Congresso dos EUA autorizou o presidente Johnson a lançar uma operação militar no Vietnã em 7 de agosto de 1964. Em 1965, mais de 200 mil soldados norte-americanos foram enviados para o Vietnã e outros 200 mil em 1966. No início de 1968, já havia mais de 500.000 deles, segundo o historiador norte-americano, Howard Zinn. A guerra no Vietnã durou dez anos.

Explosão no cruzador blindado Maine

Em 15 de fevereiro de 1898, houve uma explosão no encouraçado norte-americano Maine que estava ancorado no fundeadouro da baía de Havana. Dois terços da tripulação (mais de 260 pessoas) morreram. Os Estados Unidos acusaram a Espanha. Muitos jornais falaram do envolvimento da Espanha como um fato consumado, apesar da falta de evidências.

Em 19 de abril do mesmo ano, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma resolução na qual os norte-americanos instaram os espanhóis a deixarem Cuba. Em 22 de abril, uma esquadra norte-americana abriu fogo contra as baterias costeiras espanholas em Havana. Em 3 de julho de 1898, a Espanha foi derrotada nessa guerra. Os dois lados assinaram um tratado de paz, segundo o qual a Espanha foi privada de todas as suas colônias na Ásia e na América Latina (Filipinas, Guam, Porto Rico e Cuba). Três das ex-colônias espanholas passaram para os Estados Unidos.

Em 1976, o almirante norte-americano Hyman Rickover conduziu uma investigação e sugeriu que a perda do navio poderia ter sido causada pela combustão espontânea de carvão betuminoso, que era um perigo real para os navios da época.

Incidente de Mainila

O bombardeio de Mainila, que se tornou o pretexto para o início da Guerra Russo-Finlandesa (1939-1940), ocorreu em 26 de novembro de 1939, quando o governo soviético enviou uma nota a Helsinki na qual expressou seu protesto relacionado ao bombardeio, que matou quatro e feriu nove militares do 68º Regimento de Infantaria.

© Sputnik / Ilia TiminGuerra soviético-finlandesa de 1939-1940. Soldados do Exército Vermelho disparam contra fortificações finlandesas na Carélia (foto de arquivo)
Guerra soviético-finlandesa de 1939-1940. Soldados do Exército Vermelho disparam contra fortificações finlandesas na Carélia (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
Guerra soviético-finlandesa de 1939-1940. Soldados do Exército Vermelho disparam contra fortificações finlandesas na Carélia (foto de arquivo)

A URSS exigiu que a Finlândia afastasse suas tropas de 20 a 25 quilômetros da fronteira. A Finlândia, por sua vez, exigiu que as tropas soviéticas também fossem retiradas da fronteira até à mesma distância. A URSS recusou-se a fazê-lo, pois significava retirar as tropas até Leningrado. Os militares soviéticos receberam ordem para abrir fogo em resposta a qualquer tentativa de ataque à fronteira. Em 8 de novembro, a URSS rompeu o pacto de não-agressão com a Finlândia e, quatro dias depois, a guerra soviético-finlandesa começou.

Os historiadores soviéticos nunca duvidaram que os finlandeses foram os responsáveis pelo incidente, mas para os outros países isso foi uma provocação com o propósito de criar um pretexto formal para o ataque à Finlândia. Após o colapso da URSS, outras versões foram divulgadas na Rússia. Por exemplo, alguns historiadores têm sugerido que o 68º Regimento de Infantaria foi atacado pelo Comissariado Popular dos Assuntos Internos (NKVD, na sigla em russo), enquanto outros acreditam que em 26 de novembro de 1936 não houve qualquer bombardeio e não houve mortos ou feridos. Até agora, nenhuma das versões foi confirmada.

Incidente de Gleiwitz

Essa provocação foi organizada pelos nazistas na cidade de Gleiwitz (atualmente, Gliwice) em 1939 e ocasionou a Segunda Guerra Mundial.

Na noite de 31 de agosto para 1º de setembro, seis soldados alemães, acompanhados por doze condenados a quem foi prometida a liberdade, vestindo uniformes poloneses, tomaram a estação de rádio alemã Sender Gleiwitz, em Gleiwitz.

Isso se tornaria o pretexto para atacar a Polônia.

CC BY-SA 3.0 / Smerus / The Gliwice radio towerTorre de rádio de Gliwice
Torre de rádio de Gliwice - Sputnik Brasil
Torre de rádio de Gliwice

Os agressores transmitiram uma mensagem em que os poloneses que viviam na Silésia eram chamados a pegar em armas e criar uma insurreição contra Hitler. A mensagem foi transmitida apenas localmente, o que, no entanto, não impediu que o plano fosse implementado até ao fim.

Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha atacou a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial. Em 3 de setembro, a França entrou na guerra e a Grã-Bretanha em 4 de setembro.

Grande incêndio de Roma

O incêndio, que varreu uma das maiores cidades da antiguidade em 18 de julho de 64 d.C., se propagou por seis dias e sete noites e se espalhou por quase toda a cidade. Três dos catorze quarteirões de Roma arderam completamente e outros sete ficaram gravemente danificados. Houve milhares de mortos.

O Imperador Nero tomou medidas para restaurar a cidade, o que, no entanto, não silenciou aqueles que afirmavam que o imperador era o culpado pelo incêndio que devastou Roma. É por isso que Nero acusou os cristãos pelo fogo. O historiador romano Tácito aponta que a perseguição aos cristãos começou imediatamente após o incêndio.

CC0 / Carl Theodor von Piloty (1826-1886) / Nero Views the Burning of RomeNero nas ruínas de Roma, por Carl Theodor von Piloty (imagem referencial)
Nero nas ruínas de Roma, por Carl Theodor von Piloty (imagem referencial) - Sputnik Brasil
Nero nas ruínas de Roma, por Carl Theodor von Piloty (imagem referencial)

Os cristãos associam a morte dos apóstolos Pedro e Paulo ao fogo. Isso também foi escrito pelo antigo historiador e escritor romano Caio Suetónio Tranquilo. Se surgiram dúvidas sobre a autenticidade dos fatos citados por Tácito e Suetónio, é indiscutível que perseguições contra os cristãos ocorreram na Roma Antiga.

Qualquer semelhança entre provocações históricas e eventos atuais é acidental. Tal como o grande incêndio de Roma levou a violência sangrenta contra civis, qualquer provocação, seja ela qual for, pode levar a uma onda de violência e até à guerra. Esperemos que nenhum país do mundo obrigue a humanidade a pagar esse preço em nome de seus interesses nacionais.

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