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Resistência europeia em reduzir restrições ao agronegócio continua o principal obstáculo ao acordo
Resistência europeia em reduzir restrições ao agronegócio continua o principal obstáculo ao acordo - Sputnik Brasil
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As indefinições, em especial do Brasil, durante as negociações, e a intransigência de alguns países europeus em flexibilizar as restrições às importações do bloco sul-americano devem fazer com que o acordo União Europeia-Mercosul só aconteça em 2018.

A análise é de José Meireles, especialista da Associação Brasileira de Consultores de Comércio Exterior (Abracomex). Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, ele diz que dificilmente um acordo será celebrado entre representantes dos dois blocos na próxima reunião em Buenos Aires, no mês que vem.

"O europeu é muito cauteloso nessas coisas e sofre muitas pressões. Vão fazer um acordo com menor incidência ou demorar um pouco mais para ver como a questão no Brasil vai se concretizar. O problema hoje é que não existe confiança e sem confiança você não faz acordo", diz Meireles.

O agronegócio continua sendo a pedra no sapato para um consenso. Na última contraproposta, os europeus aceitaram fixar uma cota de importação de 70 mil toneladas de carne bovina e 600 mil toneladas de etanol combustível. A oferta desagradou a Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina que dizem que só voltam a negociar quando esses patamares, entre outros assuntos, forem revistos.

Dentro da própria Europa, não há consenso. França, Irlanda e Bélgica — que mantêm fortes subsídios a seus produtores rurais — são contra uma assinatura agora. Outros, porém, como Itália, Portugal, Espanha, Reino Unido e Alemanha defendem um entendimento já, ainda que parcial. Enquanto o agronegócio não se resolve, outros pontos importantes dos intercâmbios permanecem paralisados, como o acesso ao mercado de bens e serviços, compras públicas, serviços financeiros e acesso à indústria de medicamentos. Os europeus querem maior proteção a suas patentes.

"Há quase 20 anos está tentando se firmar esse acordo, mas há vários obstáculos, como da Argentina e do Brasil em função da competitividade com a futura instalação de empresas alimentícias nos dois países, para estarem mais próximas das fontes de recursos naturais. Isso poderia comprometer as exportações argentinas para o Brasil", explica o consultor. Meireles cita também os menores investimentos europeus no Brasil, devido à instabilidade política.

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Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que, isoladamente dentro do Mercosul, o Brasil tem vantagem competitiva em cerca de 1.200 produtos de exportação, mas os europeus conservam tarifas, cotas de importação ou barreira não-tarifárias para 68% deles. Devido a isso, de uma corrente de comércio que atingiu US$ 100 bilhões em 2011, as trocas entre Brasil e UE caíram para US$ 64 bilhões no ano passado, com o país exportando US$ 53 bilhões e importando US$ 46 bilhões. Para o consultor isso é compreensível.  “Na Europa você tem um lobby fortíssimo da carne por parte da Irlanda, que não quer ver o seu mercado ser atacado.”

O consultor da Abracomex vê razões diferentes para apoio e resistências a um acordo por parte dos europeus.

"Os grandes países que têm investimentos fortes aqui no Brasil gostariam de um acordo mais forte, mais rápido. O Brasil também não tem tido uma política muito clara, como são prova os painéis na OMC (Organização Mundial do Comércio) abertos pelas ações que o Brasil tomou nos dois, três últimos anos. A posição do Brasil hoje não é das melhores", diz Meireles, citando como exemplo os problemas enfrentados com a exportação de carne após as denúncias da Operação Carne Fraca, deflagrada em março, denunciando um esquema de propinas entre frigoríficos e fiscais da Vigilância Sanitária.

Meireles admite que o país está avançando, mas ainda não conseguiu fechar acordos comerciais importantes. O estudo da CNI mostra que os países com o quais o Brasil tem acordos representam menos de 8% das importações mundiais. Esse percentual, no entanto é bem mais alto na América Latina: 83% no Chile, 74% no Peru e 57% no México.

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