Ex-embaixador alemão: Discurso de Putin em Munique foi um sinal para o Ocidente despertar

© Sputnik / Aleksey Nikolskyi / Acessar o banco de imagensVladimir Putin
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O discurso sensacional de Putin, pronunciado dez anos atrás em Munique durante a Conferência de Segurança, foi recebido de modo negativo pelo Ocidente, mas na Rússia continua sendo fundamental para sua política externa.

Frank Elbe, ex-alto funcionário da diplomacia alemã, considera que aquela intervenção de Putin foi um sinal para o Ocidente e que este o ignorou.

"Posso compará-lo [ao discurso] com as teses de Martin Luther que foram uma espécie de convite para uma discussão acadêmica. Na introdução ao seu discurso Putin também chamou todos à discussão", declarou Frank Elbe em uma entrevista à Sputnik Alemanha.

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Foram proclamadas três coisas importantes: primeiro, o presidente russo criticou o modelo de mundo unipolar, que demostrou falta de eficácia e a impossibilidade de ser uma base para a civilização contemporânea. Em segundo lugar, Putin disse estar preocupado devido ao desenrolar da defesa antimíssil na Europa. E, a terceira coisa para que chamou a atenção o líder russo, foi a atividade da OTAN como fator provocador.

Estes temas permanecem até hoje como atuais na agenda internacional. Mas por que o mundo Ocidental ficou chocado e ignorou a mensagem de Putin?

"Do ponto de vista da Rússia, este discurso foi um sinal para despertar que poderia se ter tornado na base para uma discussão séria e racional. Este discurso fazia pensar", assegurou Frank Elbe.

A relação negativa foi provocada não pelo próprio discurso de Putin, mas pela nota publicada por um ensaísta do Die Zeit, que escreveu "Isto é a nova Guerra Fria" indicando assim o rumo para a discussão do tema junto da opinião pública, especialmente do pensamento coletivo, especialmente do alemão.

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Vale lembrar que vários políticos avaliaram o discurso de Putin de modo muito positivo, um deles foi o próprio Barack Obama que, sob influência das teses apresentadas pelo líder russo dois anos depois, por meio do seu vice-presidente, Joe Biden, declarou que não iria continuar desenvolvendo o projeto do sistema de defesa antimíssil, desaprovado por Putin, e disse estar pronto para o "reset" nas relações com a Rússia.

Angela Merkel, que em 2007 falou antes de Putin, sem conhecer o conteúdo do discurso do presidente russo, também destacou a importância da cooperação, porque "nenhum país tem poder, dinheiro e influência suficientes para combater sozinho os desafios contemporâneos".

Frank Elbe assinala que hoje em dia cerca de 80% dos alemães querem o melhoramento nas relações com a Rússia, mas a mídia maistream continua fazendo uma cobertura russófoba e critica Moscou dizendo que as sanções que não podem ser levantadas até que Kremlin cumpra os Acordos de Minsk.

"A desonestidade dessa atitude é que ninguém critica a Ucrânia por não deixar que as repúblicas [de Donetsk e Lugansk] sejam autônomas e realizem eleições. Se nós não começarmos a nos comportar de jeito honesto neste assunto, correremos o risco de estragar a nossa cooperação com a Rússia e de criar uma ameaça à paz e segurança. Mas o que me preocupa mais é que podemos perder a Rússia e o povo russo", confessa Frank Elb.

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Falando da Conferência de Segurança do ano de 2017, Elb comentou que não está muito claro como se vão comportar as atuais autoridades dos EUA, que estão divididas pela abordagem política em relação à Rússia.

"É exatamente isso que nós estamos observando [luta nos bastidores políticos dos EUA]. Vou dizer com precaução: o desajeitamento nas ordens fez com que o campo de McCain se reforçasse. Agora é necessário ver como este trio — presidente, secretário de Estado e secretário de Defesa — vão seguir a política do presidente", diz Elb.

Em conclusão, ele destacou que é de uma mentalidade muito primitiva pensar que Putin é culpado da falta de entendimento entre a Rússia e Ocidente, que sem ele a situação seria muito melhor.

"Eu acho que para nós Putin é um parceiro muito seguro, mas será difícil conseguir que todos o compreendam. Estou seguro que Putin aposta na colaboração com o Ocidente e em perspectiva de longo prazo ganharemos se não tentarmos isolar Putin e o reconhecermos como parceiro".

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