Guterres: Vou inspirar Rússia e EUA a se aproximarem

© AFP 2023 / JEWEL SAMADNovo secretário-geral da ONU, António Guterres, e o secretário-geral da Organização atual, Ban Ki-moon, na cerimônia de designação do principal responsável da ONU, Nova York, EUA, 13 de outubro de 2016
Novo secretário-geral da ONU, António Guterres, e o secretário-geral da Organização atual, Ban Ki-moon, na cerimônia de designação do principal responsável da ONU, Nova York, EUA, 13 de outubro de 2016 - Sputnik Brasil
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O secretário-geral da ONU recém-eleito, António Guterres, disse em entrevista à agência russa RIA Novosti que fará tudo para a aproximação entre os EUA e a Rússia.

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Sputnik: Você assume o cargo quando, segundo as suas palavras, "falta paz ao mundo". Terá, pelo menos, cinco anos para alterar algo. Você considera que conseguirá fazer isso?

António Guterres: Não é o secretário-geral que leva paz para o mundo. O secretário-geral deve convencer e ser um mediador honesto, mas a liderança pertence aos países-membros. Utilizei todos os meus esforços para cooperar com os países, para oferecer o meu serviço de mediador para criar condições em que as pessoas podiam reunir-se e compreender que, em resultado de conflitos que enfrentamos hoje, perdem tudo. Não há vencedores. Parar os conflitos é do interesse de todos. Se olharmos para a Síria, Iraque e Afeganistão, Iêmen, Líbia, Mali, Nigéria – todos estes conflitos tornam-se interligados, todos têm um sério problema novo, o terrorismo mundial.

Parar estes conflitos é um interesse vital para todos nós. Creio que será possível convencer gradualmente os países-membros de que é mais importante parar estes conflitos do que manter as divergências existentes. O nosso interesse comum – a paz e a segurança – deve dominar.

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S: Dois países-membros da ONU, dois membros permanentes do Conselho de Segurança – a Rússia e os EUA – passam hoje por um período complexo nas relações bilaterais. A sua candidatura ao cargo de secretário-geral da ONU foi escolhida e aprovada por consenso. Tendo recebido um apoio conjunto, você considera que é possível aproximar Moscou e Washington?

AG: Gostaria de fazer todo o possível para apoiar e aumentar a confiança entre os países-membros em geral. Com certeza, os EUA e a Rússia são países absolutamente centrais no mundo atual. Gostaria que as negociações sobre a Síria comecem de novo. Irei sempre inspirar estes dois países, tal como outros,  para consolidarem as relações. Estou plenamente convencido de que, se estes dois países se aproximarem, terão uma grande oportunidade de mobilizar os outros e de convencer que as divergências existentes podem ser ultrapassadas.

S: Terão uma oportunidade de mobilizar outros países, acha que terá possibilidade de os estimular a fazer isso?

AG: Farei todo o possível, serei delicado. O secretário-geral da ONU não é o presidente do mundo, é um oficial principal da ONU responsável pelo trabalho eficiente da ONU, pelas respostas às necessidades das pessoas que apoiamos por todo o mundo. Além disso, o secretário-geral pode oferecer os seus serviços de mediador. É o que tentarei fazer.

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Ao longo de toda a minha vida fui uma pessoa de diálogo e consenso. Quando fui primeiro-ministro, a oposição criticou-me mesmo por levar a cabo muito diálogo e poucas ações. Não considero que era uma crítica honesta, mas ninguém me criticou por que não dialogar.

Todos os meus esforços serão dirigidos <…> a dar oportunidades de os países se aproximarem.

A minha primeira mulher que já faleceu era psicanalista. A lição que me deu está no centro da minha vida política e na vida como político internacional. Explicou-me que quando duas pessoas se reúnem, não há duas, mas seis. São essas duas pessoas presentes, mais as pessoas que eles vêm nos outros e as pessoas que elas acham que são. Penso que a mesma coisa acontece com os países. Por exemplo, se se trata dos EUA e da Rússia. É importante, tanto nas relações interpessoais como na diplomacia, tentar ultrapassar estas divergências, fazer dois de seis. Farei tudo para ajudar em todas as condições e situações, sejam elas quais forem, a resolver estes problemas de compreensão e confiança.

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S: O senhor começará a trabalhar como secretário-geral da ONU praticamente ao mesmo tempo que o novo presidente dos EUA. O que espera do novo líder dos EUA? Já se havia encontrado com os candidatos?

AG: Encontrei-me com Hillary Clinton, mas com Donald Trump, nunca. Espero que os EUA, bem como a Rússia, expressem lealdade, confiança em que atingiremos sucesso na criação de condições para que a nossa prioridade principal seja a paz. E para que tenhamos oportunidades eficientes na luta com o terrorismo que ameaça as pessoas hoje.

S: É evidente que, em janeiro de 2017, quando assumir o cargo, o conflito na Síria estará longe da resolução. Como planeja resolver a situação? Tem um plano de ações?

AG: Não, atualmente não tenho plano. Em primeiro lugar, ainda não sou secretário-geral. Em segundo lugar, o assunto-chave aqui é aproximar os que desempenham papéis centrais neste conflito porque participam do conflito ou podem influenciar partes do conflito. Tentarei fazer todo o possível para que todos os países envolvidos compreendam que é uma guerra em resultado da qual todos perdem. A guerra se tornou um pesadelo para os sírios, se tornou uma ameaça assustadora para a estabilidade regional e tem ligações evidentes com a ameaça terrorista que observamos no mundo.

S: O presidente russo Vladimir Putin já felicitou você pelo novo cargo…

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AG: Ligou-me. Foi uma oportunidade de trocar opiniões com ele em breve. Estou agradecido por isso.

S: Qual é o papel da Rússia na ONU para você? Quais são os seus pontos fortes que gostaria de utilizar? Que aspetos provocam as suas críticas do país?

AG: Não é tempo para expressar avaliações positivas ou negativas. A Rússia é uma coluna central no mundo multipolar e a contribuição russa para a resolução dos problemas mundiais é absolutamente necessária. Farei tudo o que depende de mim para que a cooperação da ONU com a Rússia seja eficiente em grande medida e corresponda ao objetivo de busca de resolução global dos problemas globais.

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