Michelle Bachelet: 10 anos de poder e mil desafios no Chile

ENTREVISTA COM PROFESSORA DEHILDE
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No mês em que comemora 10 anos da posse no primeiro de seus dois mandatos – um, de 2006 a 2010, e o outro a partir de 2011 –, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, parece viver um problema comum aos atuais governos progressistas na América Latina: queda nos índices de popularidade, crise econômica e denúncias de corrupção.

Depois de suceder a Ricardo Lagos e assumir a Presidência como a primeira mulher no Chile, Bachelet vem sofrendo com a opinião da maioria da população. Recente pesquisa do Instituto Adimark revela que a desaprovação dos chilenos à presidente chega a 70% dos entrevistados.

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Como a maioria dos países que têm na exportação de commodities a maior parte de suas receitas, o Chile viu despencar a cotação do cobre (35% do consumo mundial vêm de minas chilenas), obrigando o Estado a rever e realocar investimentos básicos. Mas, apesar das dificuldades, mesmo opositores admitem que o país avançou muito em questões básicas como educação e direitos humanos.

A professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP) Denilde Holzhacker aponta ganhos nesses dois mandatos, mas também vê desafios importantes a serem superados:

“Esse segundo mandato é considerado bastante progressista em termos de políticas sociais e de acesso à universidade. No primeiro ela teve muita dificuldade em lidar com a pressão dos estudantes. Já neste segundo houve alguns avanços nas discussões sobre quais seriam as possibilidades de gratuidade de cursos e também na política de direitos humanos, muito forte e progressista.”

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A professora da ESPM diz que Michelle Bachelet é vista como bastante aberta ao diálogo com diversos setores, mas neste segundo mandato ela tem sofrido com uma série de questões ligadas à corrupção durante sua campanha e que atingiu até seu filho e sua nora. Sebastian Dávalos foi demitido do cargo de diretor social da Presidência depois que vazou a notícia de que, um dia após Bachelet ser eleita para o segundo mandato, o Banco do Chile concedeu a ele um empréstimo de US$ 10 milhões para compra de terras agrícolas em Mochali, as quais depois seriam transformadas em lotes urbanos, beneficiando assim a Caval, empresa de sua esposa Natalia Campagnon.

A professora da ESPM também aponta a questão econômica como outra agravante da crise pela qual passa Bachelet:

 “Como em outros países da América Latina, a diminuição do peso [preços] das commodities no mercado global tem afetado o Chile. Mesmo tendo políticas sociais, o Governo tem sido visto como inoperante, prejudicando a relação de Bachelet com a população. Há também uma pressão muito forte dos grupos oposicionistas, até por renúncia. Este ano vai haver eleições municipais, que serão uma prévia para as parlamentares no próximo ano. Há também uma crítica de que ela não conseguiu diversificar a economia, que continua sendo muito dependente do mercado internacional e dos Estados Unidos.”

Denilde Holzhacker discorda, porém, da tese de que os problemas enfrentados pelos Governos progressistas na América Latina são fomentados por orquestração externa.

“O cenário externo não tem contribuído para os problemas que têm acontecido. Tanto no Brasil quanto no Chile parte da crise política é resultado de uma maior insatisfação do ponto de vista econômico e de uma diminuição do crescimento de todos os Governos que foram baseados numa ideia muito forte de distribuição de renda. No momento em que o Estado tem que diminuir sua capacidade de investir em políticas sociais começa a haver outros tipos de pressão.”

Segundo a especialista da ESPM, a política na América Latina estava sendo conduzida com relações entre o público e o privado de forma não muito clara, com baixa transparência.

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“A gente chegou a um momento na América Latina de consolidação da democracia em que arranjos que antes conseguiam sobreviver, como as relações patrimonialistas entre Estado e setor privado, já não têm mais espaço, exatamente porque o sucesso dessas políticas de inclusão e distribuição de renda fez com que mais grupos começassem a pressionar por políticas mais eficazes e por questionar algumas práticas que não eram questionadas. Sempre penso no que pode sair de bom dessas crises, e um dos pontos é melhorar as relações do Estado com a sociedade e ter maior transparência agora entre o setor privado e os Governos.”

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