A seguir à Grécia, ministro português também cede ao Eurogrupo

© AFP 2023 / THIERRY MONASSEDa esquerda à direita: os ministros das Finanças de Portugal, Mário Centeno, da Finlândia, Alexander Stubb, da Grécia, Euclid Tsakalotos, e da Alemanha, Wolfgang Schauble, no encontro das pastas na sede do Eurogrupo em 11 de fevereiro de 2016
Da esquerda à direita: os ministros das Finanças de Portugal, Mário Centeno, da Finlândia, Alexander Stubb, da Grécia, Euclid Tsakalotos, e da Alemanha, Wolfgang Schauble, no encontro das pastas na sede do Eurogrupo em 11 de fevereiro de 2016 - Sputnik Brasil
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Acaba de terminar em Bruxelas a reunião dos ministros das Finanças da zona do euro, que avaliou, entre outros temas, as linhas gerais do Orçamento proposto pelo novo governo socialista português.

O tom do ministro português Mário Centeno à saída da reunião foi, não obstante as declarações em linguagem muito técnica, de submissão às exigências das regras econômicas europeias.

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"Portugal está muito comprometido em manter uma trajetória de consolidação orçamental no cumprimento daquilo que são as suas obrigações no âmbito europeu.", disse o ministro à saída da reunião em declarações ao canal SIC.

Na coletiva de imprensa no fim da reunião do Eurogrupo, em Bruxelas, o presidente deste organismo, Jeroen Dijsselbloem, referiu que os ministros das Finanças da zona do euro saudaram o compromisso das "autoridades portuguesas de prepararem medidas adicionais para garantir que o Orçamento de Estado 2016 irá cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento".

O ministro português declarou há poucos minutos em Bruxelas:

"Em linha com a opinião da Comissão Europeia, aquilo que o Eurogrupo pede ao Governo português é para estar preparado para adotar novas medidas quando elas forem necessárias <…> O governo tem que estar preparado e tem que preparar essas medidas".

Antes desta reunião do Eurogrupo, já tinha havido uma negociação do governo português com a Comissão Europeia. Houve conversações durante vários dias (semelhantes às efetuadas com a Grécia) e, por fim, chegou-se a um acordo de compromisso, o que levou a recuos do governo português relativamente a algumas políticas que estavam no seu programa eleitoral e que não será possível concretizar.

O primeiro-ministro, António Costa, confessa que gostava mais da versão inicial do Orçamento de Estado, mas teve que alterar o documento porque prefere que Portugal continue na zona do euro.

© AFP 2023 / PATRICIA DE MELO MOREIRAPrimeiro-ministro de Portugal, António Costa, durante a assinatura de um acordo com a transportadora aérea TAP, em 6 de fevereiro de 2016
Primeiro-ministro de Portugal, António Costa, durante a assinatura de um acordo com a transportadora aérea TAP, em 6 de fevereiro de 2016 - Sputnik Brasil
Primeiro-ministro de Portugal, António Costa, durante a assinatura de um acordo com a transportadora aérea TAP, em 6 de fevereiro de 2016

O primeiro-ministro admite que cedeu às pressões da Comissão Europeia para poder permanecer na zona do euro.

Desta forma, a política económica socialista, voltada para aliviar a anterior "austeridade", repor os cortes nos salários e pensões feitos pelo anterior governo, já não vai ser levada à prática tal como foi anunciada no programa eleitoral do PS.

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Mais do que isso: estas cedências, ao que foi dito hoje na reunião do Eurogrupo, não serão as últimas.

O que significam então em linguagem mais simples as "medidas adicionais" indicadas acima? Significam que, se o governo português quiser levar a cabo uma política mais de esquerda, favorável à população mais carenciada (e, provavelmente, aumentar a despesa), terá a Comissão Europeia, trimestralmente a "corrigir" tais opções, a exigir mais cortes ou mais impostos.

Coincidência ou não, esta quinta-feira foi dia de nova queda na bolsa de Lisboa. O PSI 20 desvalorizou 4,47%. Os juros da dívida pública portuguesa subiram hoje exponencialmente, já ultrapassando os 4,5%.

Talvez por isso mesmo, Mário Centeno quis acalmar os mercados à saída da reunião do Eurogrupo:

"Os ministros partilharam a necessidade de comunicar ao mercado todos estes compromissos, todos estes princípios de ação, que fazem deste governo um governo que pretende melhorar o processo de reformas estruturais", disse, citado pelo canal de TV SIC.

As conversações com a Comissão Europeia levaram o deputado Paulo Sá, do Partido Comunista (partido que concedeu apoio parlamentar ao atual governo) a reclamar:

"Dizemos não à chantagem, às pressões e às ingerências grosseiras de Bruxelas que impediram mais medidas de caráter positivo", afirmou o deputado durante a audição do ministro das Finanças no Parlamento.

No fundo, o governo de Lisboa, para respeitar o referido Pacto de Estabilidade e Crescimento, não terá uma política autónoma. Esta será sempre alvo de "acompanhamento" e "monitorização" por parte de Bruxelas.

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