Por que os caças da Rússia na Síria também bombardeiam a hipocrisia dos EUA

© Sputnik / Dmitry Vinogradov / Acessar o banco de imagensPilotos russos ao lado de um caça Su-24 na Síria
Pilotos russos ao lado de um caça Su-24 na Síria - Sputnik Brasil
Nos siga no
Segundo o diplomata iraniano Sayed Hadi Afghahi, o sucesso das operações militares da Rússia na Síria perturba não apenas o Estado Islâmico, mas dá também aos EUA um motivo de séria preocupação, na medida em que Washington percebe a iminência de não conseguir mais disfarçar a hipocrisia de sua guerra contra o terrorismo.

Técnicos reabastecem um Su-34 no aeroporto de Hmeimim, perto de Latakia, na Síria. - Sputnik Brasil
Oficial do Irã destaca cooperação contra o terrorismo e diz que EUA só fazem publicidade
Com base em uma entrevista de Afghahi à agência de notícias Iran.ru, o site de análises políticas What They Say About USA expõe a perspectiva do diplomata, que trabalhou na embaixada iraniana no Líbano e também atua como um reconhecido cientista político.

"Em realidade, os EUA se sentem desconfortáveis com o fato de que a Rússia tenha atraído a atenção mundial para a hipocrisia da coalizão antiterrorista – que levou a cabo uma guerra simulada contra o Estado Islâmico por mais de um ano", provocou Afghahi.

A análise ecoa um comentário feito no início do mês pelo presidente do Comitê para Assuntos Internacionais da Duma (câmara baixa do parlamento russo), Aleksei Pushkov. No Twitter, o deputado insinuou que as reclamações de Washington a respeito dos alvos atacados pela aviação russa encobriam uma verdade embaraçosa para o governo norte-americano:

“Os EUA criticam a Rússia pelos "objetivos indiscriminados" na Síria. O que impediu os EUA durante um ano inteiro de escolher alvos precisos ao invés de bombardear o deserto em vão?!”, questionou Pushkov.

Aeronaves russos Su-24 - Sputnik Brasil
Aviões russos realizam 67 voos e destroem 60 posições do Estado Islâmico na Síria
Segundo o Ministério da Defesa russo, o equipamento dos aviões russos permite atingir alvos do Estado Islâmico em todo o território sírio com “precisão absoluta”. De fato, de acordo com os dados da pasta, os ataques lançados pelos caças Su-34, Su-24M e Su-25 já destruíram uma série de infraestruturas do grupo jihadista e danificaram significativamente a rede de comando e apoio logístico dos militantes.

Afghahi também comentou as alegações da Casa Branca de que a Rússia estaria conduzindo ataques aéreos contra grupos armados que os EUA não consideram terroristas, e classificou como mentiras os relatos da grande mídia ocidental sobre vítimas civis nos ataques russos. No início da semana, o cientista político expressou sua posição à Sputnik da seguinte maneira:

“Todos os serviços secretos militares da OTAN e dos EUA, através dos seus satélites e outros canais de comunicação, sabem quais os locais exatos onde a Força Aérea russa realiza ataques na Síria. Mas nunca faltam oportunidades de desacreditar o prestígio e o sucesso da operação aérea da Rússia aos olhos da comunidade internacional. Eles mesmos mentiam ao mundo inteiro e não conduziam uma luta séria contra o Estado Islâmico na região, mas sim realizavam ataques aéreos simbólicos e sem objetivo, alegadamente contra posições de terroristas, para distrair a atenção. Isto não deu resultados. Ao contrário, o EI fortalece-se a cada dia e vai crescendo. A ideologia e os adeptos deste grupo terrorista já chegaram à Europa. Isto nos diz somente que os EUA sofreram um fiasco total na luta contra o Estado Islâmico, ou então todas as declarações eram blefe e política de duplos padrões”.

Ministro das Relações Exteriores russo Sergei Lavrov (direita) e representante permanente da Rússia na ONU Vitaly Churkin - Sputnik Brasil
Lavrov: para vencer o terrorismo é necessária contribuição de todos países
Além disso, conforme citado pelo site What They Say About USA, Afghahi reiterou que a operação da Rússia na Síria é do interesse de todos os países da região – bem como dos próprios interesses da Rússia, que não deseja lidar com os militantes russos treinados pelo grupo terrorista quando eles já tiverem voltado para casa.  

Mas é mais do que isso: segundo afirmou o Presidente Vladimir Putin em declaração recente, as políticas dos EUA são errôneas e não apenas contradizem os interesses da Rússia, mas também minam a confiança entre os dois países e prejudicam, dessa maneira, os interesses dos próprios EUA.

“Ações unilaterais, na contínua busca pela próxima ‘aliança’ e coalizões que são predeterminadas… Isto não é um método que procura discutir e concordar sobre bases mútuas de entendimento”, criticou Putin, ressaltando que essas ações unilaterais “levam a crises”.   

Ashton Carter, do Pentágono, durante um briefing em 30 de setembro - Sputnik Brasil
EUA (quase) encerram programa de treinamento na Síria
Na mesma ocasião, falando sobre o discurso norte-americano a respeito da ameaça representada pelo Estado Islâmico, o presidente russo exemplificou as contradições inerentes às políticas de Washington. 

Segundo o chefe de Estado russo, a posição norte-americana não se baseia nos fatos e ignora, portanto, que a estratégia de financiar, armar e treinar facções “moderadas” da oposição armada na Síria é totalmente desastrada, na medida em que a moderação é um conceito fluido demais entre mercenários e só se sustenta até o momento em que a perspectiva de lutar ao lado dos terroristas passa a ser mais lucrativa do que a de seguir as instruções do Pentágono.   

“Quem na Terra os armou? Quem armou os sírios que estavam litando contra Assad? Quem criou o clima político-institucional necessário que facilitou esta situação? (…) Vocês realmente não entendem quem está lutando na Síria? Eles são mercenários, a maioria. Vocês entendem que eles são pagos em dinheiro? Mercenários lutam para qualquer lado que pague mais”, afirmou Putin, acrescentando que inclusive sabia as quantias pagas aos rebeldes sírios supostamente moderados.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала