As negociações começaram em Havana em 2012 e até agora têm conseguido avançar temas como a reforma agrária, a participação política das FARC e o narcotráfico. A questão da justiça, que começou a ser discutida este ano, é complicada pelo fato de ambos os lados culparem-se mutuamente de responsabilidade maior pela violência armada no país latino-americano.
Segundo Rafael Rezende, pesquisador do Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL) do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), as FARC constituem o movimento guerrilheiro mais antigo da América Latina em atividade, tendo atuado desde os anos 1960 na organização de camponeses segundo uma visão marxista-leninista e em prol de uma Colômbia socialista.Nesse contexto, de acordo com o especialista, os Estados Unidos tentaram desde os anos 1980 associar diretamente a atividade guerrilheira das FARC com o narcotráfico, a fim de justificar intervenções militares no continente.
“Já nos anos 2000 os EUA preparam o Plano Colômbia, dizendo que o objetivo seria combater o narcotráfico e a produção de cocaína no território colombiano, mas, na verdade, foi um plano militar, uma ponta de lança da entrada dos EUA e de seu controle na América Latina”, explicou Rezende em entrevista à Sputnik, acrescentando que o Plano foi “um fracasso total” tanto na ofensiva contra as FARC quanto no combate ao tráfico de drogas.
O analista do IESP disse ainda que, desde a entrada do Presidente Juan Manuel Santos, a Colômbia tem tentado exercer uma política mais soberana no trato com as FARC e no combate ao narcotráfico.
“Um dos compromissos já alcançados com as FARC é que, quando depuserem as armas, contribuirão com a solução ao problema das drogas ilícitas”, disse Santos em declaração televisionada, acrescentando que já foram discutidos planos conjuntos para a substituição dos cultivos de coca.
Para Rezende, o encontro de hoje com os negociadores de paz em Havana é animador, apesar de ainda restarem muitos tópicos na mesa de negociações.
“Uma das dificuldades encontradas nesse processo de paz é a desconfiança, por parte da guerrilha, em relação ao governo. Em primeiro lugar, porque existem diversas guerrilhas paramilitares de direita alimentadas e toleradas pelo governo colombiano – e essas guerrilhas também deveriam ser desarmadas”, pontuou o analista.
Um segundo fator problemático, segundo ele, diz respeito ao fato histórico, registrado principalmente durante os anos 1980, de que os grupos guerrilheiros que tentaram depor as armas e seguir pela via democrática na Colômbia acabaram sendo atacados pelos grupos paramilitares do país. “O caso do M-19 é exemplar. Boa parte da cúpula do grupo foi exterminada por grupos paramilitares após abandonar a guerrilha”, lembrou.
Apesar dos problemas, a expectativa para um acordo de paz é alta. Ontem, a ex-senadora e defensora dos direitos humanos da Colômbia, Piedad Córdoba, felicitou o Presidente Santos e a liderança das FARC pelo acordo iminente sobre o ponto de justiça e reparação às vítimas.
Felicito al Gobierno de @JuanManSantos y a las @FARC_EPaz por la inminente firma del punto de justicia y víctimas. Ya viene la paz!!!
— Piedad Córdoba Ruiz (@piedadcordoba) 23 setembro 2015
Em comunicado, a presidência da Colômbia afirmou que “a justiça é o centro das negociações de paz e com um acordo no tema o sonho de construir um país em paz começa a se tornar uma realidade”.
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