Processo sobre vídeos de alimentação forçada em Guantánamo é espetáculo político

© AFP 2023 / MLADEN ANTONOVGuantánamo
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Um prisioneiro da Base Naval da Baía de Guantánamo que teria passado por alimentação forçada quase 1.300 vezes conta sua história à Sputnik.

O processo judicial que visa publicar vídeos em que presos de Guantánamo, prisão norte-americana para detentos acusados de terrorismo, são alimentados à força é um espectáculo político, disse o ex-prisioneiro Jihad Deyab à Sputnk.

“Eu é que tomo a decisão se os vídeos devem ser lançados ou não, e ainda não decidi,” disse na quarta-feira (15) Deyab, de 44 anos, que passou 13 anos em Guantánamo sem julgamento. Agora ele está no Uruguai.

Deyab, um sírio naturalizado nascido no Líbano, teria sido submetido a cerca de 1.300 alimentações forçadas em Guantánamo. Ele foi o primeiro prisioneiro da prisão que conseguiu fazer com que os funcionários da justiça civil mandássem os militares norte-americanos parar de o alimentar pela força.

Vários meios de comunicação, incluindo o The New York Times e o The Guardian, pediram para obter os vídeos em que Deyab é alimentado pela força. Estas exigências se adicionaram às dos advogados de prisioneiros de Guantánamo.

"Vou pedir que eles [o tribunal] me deem a versão editada e só então vou decidir", disse Deyab à Sputnik, explicando que os vídeos mostram seu "sofrimento pessoal" e que ele é "a única pessoa autorizada [a permitir que o vídeo seja lançado], já que eu [Deyab] fui o protagonista involuntário dessas gravações  que eu nunca pude ver".

Espetáculo político

Na semana passada, a Juiza Federal Gladys Kessler pediu ao governo dos EUA para parar de atrasar a publicação de mais de 30 vídeos em que Deyab é alimentado pela força durante onze horas seguidas.

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De acordo com o ex-prisioneiro de Guantánamo, todo o processo judicial sobre os vídeos é um "espetáculo político", incluindo "denúncias da mídia, escutas, decisões judiciais segundo os quais o governo deve ser obrigado a somente “fingir” que as autoridades obedecem à lei e ao processo judicial devido. “Se esse processo tivesse sido seguido de modo verdadeiro em primeiro lugar, Guantánamo nunca teria existido", Deyab disse à Sputnik.

Deyab foi libertado de Guantánamo em dezembro de 2014. Em outubro de 2014 Kessler ordenou a publicação de vídeos de alimentação forçada, mas o governo dos EUA recorreu da decisão e um tribunal de apelação devolveu o caso ao juiz. Agora, o juiz diz que as autoridades devem publicar a primeira parte de cinco horas de gravações antes de 31 de agosto, mas a decisão pode ser apelada em tribunal pela segunda vez.

Deyab disse à Sputnik que ele assinou um acordo a este respeito com seus advogados "para que eles não possam fazer nada sem meu consentimento" e pediu ao governo dos Estados Unidos para devolver "escritos, desenhos e pinturas" que ele fez em Guantánamo.

Táticas cruéis

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Jihad Deyab foi um dos prisioneiros de Guantánamo que participaram na greve de fome em fevereiro, 2013. Além disso, ele é um dos quarenta prisioneiros que foram alimentados pela força. De acordo com Deyab, a prática mais comum foi inserir um tubo através do nariz dos prisioneiros.

Os advogados de Deyab fizeram uma proposta solicitando o fim da alimentação forçada em junho de 2013 porque é um tratamento cruel e incomum.

Deyab disse à Sputnik que os guardas de Guantánamo o bateram até ele desmaiar cada vez que no noticiário mostraram o processo judicial sobre a alimentação forçada.

A prisão de Guantánamo situada em Cuba é criticada severamente pelos ativistas dos direitos humanos, governos e mídia desde a sua criação em 2002. Os trabalhadores da saúde, inspetores e ex-prisioneiros descreveram as condições na prisão como cruéis e desumanas, falando sobre o uso da tortura.

Barack Obama, presidente dos EUA, tem afirmado repetidamente que ele iria fechar a prisão, mas esta continua a funcionar.

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