Ex-premiê da Rússia falou à Sputnik sobre EI e mundo árabe em sua última entrevista

© Sputnik / Aleksey Nikolskyi / Acessar o banco de imagensYevgeny Primakov
Yevgeny Primakov - Sputnik Brasil
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O ex-primeiro-ministro da Rússia, Yevgeny Primakov, falecido nesta sexta-feira, concedeu em março desde ano a sua última entrevista à agência Sputnik. Notável especialista em Oriente Médio, ele comentou a operação da coalizão internacional conta o Estado Islâmico e avaliou a atual situação nos países árabes.

Evgeny Primakov - Sputnik Brasil
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Sputnik: Na sua opinião, por que desde a formação de uma coalizão internacional contra o Estado Islâmico e até o momento presente não foram obtidos resultados concretos em relação a esse grupo terrorista?

Yevgeny Primakov: Porque esta coalizão é insuficiente para alcançar resultados concretos contra o EI.

Sputnik: O mundo inteiro está lutando contra o EI enquanto assiste à ampla expansão promovida pelos guerrilheiros desta organização. Na sua opinião, quem apoia esse grupo? O Sr. poderia citar os países que prestam apoio aos membros desta organização?

Yevgeny Primakov: O maior perigo desta organização não é tanto o seu reforço financeiro, mas o humano. Segundo alguns dados, apenas das ex-repúblicas da União Soviética existem 1500 homens lutando sob a bandeira desse grupo terrorista.

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Sputnik: Existem informações de que as fileiras do EI incluem mercenários com cidadania russa. Na sua opinião, que ameaça concreta representa o EI para a Rússia, e como Moscou pode lutar contra isso?

Yevgeny Primakov: O principal, ao meu ver, é a real participação dos países de onde partiram os "voluntários". Junto a isso, o maior perigo não consiste apenas nos próprios mercenários, seja qual for a sua cidadania, mas na sua volta aos seus países de origem. Isso irá alimentar ameaças terroristas regionais. Pode-se destacar que nos últimos tempos o próprio EI tem perdido um pouco o seu foco. Diante da contínua contradição entre sunitas e xiitas estão surgindo novos centros, novos slogans de luta para o estabelecimento de um califado nos territórios ocupados.

Sputnik: Sendo um dos principais especialistas nacionais em Oriente Médio, o Sr. acredita na existência de alguma ligação entre o que acontece no Iraque, Iêmen, Líbia e Síria?

Yevgeny Primakov: É claro, considero que a atual situação desses países é resultado da política dos Estados Unidos. Foi exatamente essa política que levou esses países a uma situação em que a sua própria sobrevivência está sendo questionada.

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Sputnik: Se falarmos em termos mais concretos, existem dados sobre países árabes indicando que o Irã exerce controle sobre Iêmen, Síria, Iraque e Líbano. Sendo alguém que conhece bem a comunidade e os países árabes, o Sr. poderia dizer que tipo de reação podemos esperar do povo árabe nesse sentido?

Yevgeny Primakov: Podemos contar com o fato de que o Irã se tornará um participante ativo da luta contra o Estado Islâmico.

Sputnik: Falando em Síria, como o Sr. avalia os interesses da Rússia, que apoia as autoridades daquele país? Como os Sr. comentaria as últimas conversações entre a oposição e o governo sírios em Moscou, e quais, na sua opinião, são as perspectivas da resolução da crise na Síria?

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Yevgeny Primakov: Os interesses da Rússia consistem na resolução da situação interna na Síria, uma situação que pudesse trazer a paz e a estabilidade ao país.

Evgeny Primakov, nascido em Kiev em 29 de outubro de 1929, foi ministro das Relações Exteriores da Federação da Rússia entre janeiro de 1996 e setembro de 1998. É um dos autores da estratégia da multipolaridade, e entre setembro de 1998 e maio de 1999 exerceu o cargo de chefe do governo da Rússia.

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