A seguir, na íntegra, o artigo do blogueiro.
“Em 1998, foi lançado no Brasil o livro ‘Como Eles Roubaram o Jogo’, de David A. Yallop, com os ‘segredos dos subterrâneos da FIFA’. Muito do que você lê nos jornais de hoje está detalhado lá. O livro denuncia a polêmica atuação de João Havelange no comando da entidade e o modus operandi de dirigentes, empresas de marketing e patrocinadores. O livro de Yallop quase não repercutiu no Brasil. A mídia não deu muita atenção ao calhamaço de denúncias. Poderoso e íntimo dos 'capi' da imprensa, Havelange, que Yallop chama de ‘Rei Sol’, foi poupado, à época, por jornais e revistas. Qualquer jornalista que atuou no esporte durante os anos dourados do ‘Rei Sol’ sabe que jornais, revistas e TVs não publicavam matérias críticas ao poderoso ex-presidente da CBD, da CBF, da FIFA e membro do Comitê Olímpico Internacional. Ao contrário, Havelange desfilava em tapete vermelho nas redações e só cairia em desgraça uma década depois a partir de acusações de envolvimento na escolha de países-sede de Olimpíadas, alvo de investigações e processos na Europa.“‘Como Eles Roubaram o Jogo’ revela não apenas propinas e subornos ou pagamentos em dinheiro para cabalar votos de confederações como manipulação extracampo (jogadores suspensos e rapidamente absolvidos à véspera de jogos importantes, escalação duvidosa de árbitros, coisas do tipo). Até a famosa ISL, empresa suíça de marketing esportivo que foi saudada pela mídia brasileira com exemplo de profissionalização do futebol ao assinar contrato com o Flamengo há cerca de 15 anos, tem suas digitais nos fatos levantados pelo livro-reportagem de Yallop. A ISL, que intermediava patrocínios, prometeu investir 80 milhões de dólares no clube brasileiro. A parceria virou escândalo com denúncias de lavagem de dinheiro em paraíso fiscal. A empresa suíça foi acossada nos anos seguintes, pediu falência e deixou dívidas para o Flamengo pagar. Um detalhe importante: quando o Flamengo assinou contrato, a ISL já era personagem do escândalo denunciado no livro ‘Como Eles Roubaram o Jogo’. As matérias da época, apesar do livro lançado dois anos antes, não fizeram essa ligação. A mídia via a chegada da ISL como uma espécie de ‘abertura dos portos’ do futebol. Tudo isso era conhecido, incluindo-se as suspeitas recorrentes sobre as vendas de milionários direitos exclusivos de transmissão de campeonatos.
“As denúncias atuais, que levaram à prisão, entre outros, do ‘revolucionário’ de 1964, o servidor da ditadura José Maria Marin, merecem várias leituras. É bom não comprar gato por lebre. Que a corrupção existe, ninguém duvida. Por aqui, já houve a famosa CPI da Nike, implodida pelos deputados da chamada ‘bancada da bola’ eleitos pelo financiamento privado de empresas e interesses ligados ao futebol brasileiro, de entidades a clubes e patrocinadores. Esse mesmo financiamento privado que a Câmara dos Deputados acaba de perpetuar e que equivale a um ‘investimento’, a empresa banca eleições e depois vai cobrar resultados do seu ‘legislador-funcionário’.“No ano passado, a Polícia Federal desvendou um esquema multinacional de venda de ingressos para a Copa, uma espécie de rico mercado paralelo. Houve prisões seguidas dos habituais habeas corpus e o escândalo deu em nada. Há duas semanas, o Estadão revelou um estranho contrato que a CBF fez com uma empresa de marketing que manda e desmanda na programação de amistosos da Seleção.
“Agora, surge essa surpreendente operação do FBI. O mérito da ação é trazer à tona mais uma vez o jogo de propinas e subornos. A dúvida é quanto aos reais propósitos da operação deflagrada às vésperas das eleições na FIFA, com os Estados Unidos apoiando o príncipe jordaniano Ali [Ali Bin Al-Hussein], representante de um país aliado. Para os estadunidenses, seria vital assumir o controle da FIFA às vésperas da Copa do Mundo de 2018, cuja sede é a Rússia. Com o revitalização da ‘guerra fria’, os Estados Unidos e a sempre submissa União Europeia, em choque com Moscou, trabalham para viabilizar um boicote ao Mundial.
“Está mais do que claro o objetivo político da investida do FBI na Suíça. O alvo é a Copa de 2018. É o caso típico de um ‘cavalo de Tróia’, que é a ‘boa causa’ (o combate à corrupção), que leva nas entranhas o inconfessável objetivo de passar a manipular o futebol através de um entidade que tem mais países filiados do que a ONU.
“Trata-se, mesmo que se apoie o resultado em função da transparência que se exige no futebol, de um perigoso precedente. Não é por apoiar a investigação – e espera-se que através da Polícia Federal produza efeitos também no Brasil – que se deve esquecer certos aspectos da ação contra a FIFA. Não há mocinhos nesse jogo.”
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