– Santiago O’Donnell, você considera realmente importante para a Argentina essa visita da Presidente Cristina Kirchner a Moscou, e sua reunião com o chefe de Estado russo, Vladimir Putin?
– É importante porque é parte de uma política exterior que o Governo argentino está tentando para se aproximar dos BRICS e ter uma alternativa à tradicional relação com os Estados Unidos e a Europa.
– É possível que o Ocidente tente se vingar da Argentina por conta dessa aproximação com a Rússia, realizando, por exemplo, operações de espionagem ou impedindo, de alguma maneira, a transferência de tecnologias ao país sul-americano? A tentativa do Reino Unido de vetar o fornecimento ao Brasil dos caças Gripen, que têm alguns componentes de origem britânica, parece indicar que o Ocidente está disposto a tudo. O que você pensa sobre isso?– Eu creio que a espionagem do Ocidente, da Rússia ou de qualquer país vai continuar sendo feita. A concorrência pela transferência da tecnologia é muito grande, e, seguramente, o Ocidente vai tentar pressionar para que a Argentina siga adquirindo a tecnologia ocidental. Mas, ao mesmo tempo, assim como a Venezuela mudou grande parte dos seus armamentos para os de tecnologia russa, também me parece que a América do Sul está aberta tanto à tecnologia russa como à chinesa.
– No livro de sua autoria, intitulado “ArgenLeaks”, você aborda as citações da Argentina no WikiLeaks, de Julian Assange. Há casos concretos de espionagem eletrônica a líderes ou empresas argentinas, como o que revelou Edward Snowden, sobre a presidente brasileira, Dilma Rousseff, e a Petrobras?
– Não há casos específicos desse tipo de espionagem. O que eu aprendi com o meu livro é que existe uma linha delicada entre a diplomacia e a espionagem. Nas últimas semanas, foi revelado algum documento, também através de Edward Snowden, que fala sobre uma espionagem britânica em relação às ilhas Malvinas. No entanto, é muito genérico esse documento. Não é específico.– Então não é como no Brasil, com Dilma Rousseff, Petrobras e outros…
– Não, não. Os documentos do Brasil mostram que não só espionavam a Dilma, mas também a empresa Petrobras. Esse tipo de informação, tão específica, não surgiu na Argentina. E me parece que é lógico, digamos, porque o Brasil é um país mais poderoso e mais importante… e de maior interesse do que a Argentina.
– Talvez pelo fato de o Brasil fazer parte do BRICS…
– O Brasil é uma potência regional, é o principal país da América do Sul. Até agora não surgiu uma informação de que estão espionando Cristina Kirchner ou alguma empresa argentina.
– Como você acha que as eleições de outubro vão afetar as relações entre Argentina e Rússia?
– Nenhum dos candidatos à Presidência tem a mesma simpatia pela Rússia que tem a atual presidente, Cristina Kirchner. Parece-me que nenhum dos possíveis presidentes vai manter laços tão firmes de amizade como os estabelecidos por ela. Entretanto, seguramente, tampouco vão romper os laços ou ter uma política antagônica. Mas os três principais candidatos são mais próximos e têm boas relações com os Estados Unidos.– Mais à direita?
– Sim, mais à direita.
– Então, um projeto como o da construção de uma usina nuclear, pela Rússia, na Argentina poderia estar correndo riscos?
– Não sei. Entendo que a Argentina tem muita tecnologia nuclear, e é inclusive uma exportadora de centrais nucleares. Não conheço a fundo esse projeto, mas me parece que será avaliado em termos técnicos, e não só políticos.
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