Rússia contesta decisão do Tribunal Europeu de Direitos Humanos sobre morte de Litvinenko

© AFP 2023 / Frederick FlorinInterior do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) em Estrasburgo, França, 7 de fevereiro de 2019
Interior do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) em Estrasburgo, França, 7 de fevereiro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 21.09.2021
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Corte europeia afirmou que Aleksandr Litvinenko, ex-agente do Serviço Federal de Segurança russo, foi morto por dois agentes do governo da Rússia, mas Moscou rejeitou as conclusões.
O Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) declarou a Rússia "responsável" pela morte no Reino Unido de Aleksandr Litvinenko (1962-2006), ex-oficial do Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo), dizendo que a Rússia não conduziu uma "investigação interna adequada" sobre as circunstâncias de seu envenenamento, disse na terça-feira (21) o tribunal em uma decisão.
"A requerente [viúva de Litvinenko] propôs ao Tribunal aceitar e adotar a conclusão do inquérito de que havia uma 'forte probabilidade' de o Sr. [Andrei] Lugovoi e o Sr. [Dmitry] Kovtun atuarem como agentes do Estado russo quando assassinaram o Sr. Litvinenko."
O tribunal observou que o governo russo "não fez nenhuma tentativa séria para elucidar os fatos ou para contrariar as conclusões a que as autoridades do Reino Unido chegaram".
Além disso, a Rússia alegadamente não teria realizado uma "investigação interna eficaz" que levasse ao estabelecimento dos fatos, bem como à punição dos responsáveis.
© AP Photo / Alistair FullerAleksandr Litvinenko, ex-oficial do Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo), em sua casa em Londres, Reino Unido, 10 de maio de 2002
Aleksandr Litvinenko, ex-oficial do Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo), em sua casa em Londres, Reino Unido, 10 de maio de 2002 - Sputnik Brasil, 1920, 09.11.2021
Aleksandr Litvinenko, ex-oficial do Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo), em sua casa em Londres, Reino Unido, 10 de maio de 2002
O TEDH considera que podem ser feitas "inferências adversas" da "recusa do Estado demandado [Rússia] em divulgar quaisquer documentos relacionados com a investigação interna".
"O tribunal considera que [...] matando o Sr. Litvinenko, o Sr. Lugovoi e Sr. Kovtun estavam agindo sob a direção ou controle das autoridades russas", diz o documento.
A Rússia foi condenada a pagar à viúva de Litvinenko € 100.000 (R$ 623.275,97) de indenização por danos morais, e € 22.500 (R$ 140.237,09) em custos legais.
Aleksandr Litvinenko, que fugiu para o Reino Unido no ano 2000, morreu em 21 novembro de 2006, pouco tempo depois de obter a cidadania britânica. Após sua morte, um exame forense revelou uma quantidade significativa de polônio-210 radioativo no corpo do ex-agente do FSB.
Sua saúde começou a se deteriorar após se encontrar com Andrei Lugovoi e Dmitry Kovtun e tomarem chá juntos. O principal suspeito no caso, segundo as autoridades britânicas, é o empresário e deputado russo Andrei Lugovoi, que negou as acusações contra ele, chamando o processo de "farsa teatral".
Moscou negou repetidamente o seu envolvimento na morte do ex-agente, afirmando que o caso criminal foi politizado e que o processo de investigação careceu de transparência. A Procuradoria Geral da Rússia também disse que as autoridades britânicas nunca forneceram nenhuma prova de suas afirmações, e que os materiais eram classificados.

Governo russo responde

O governo russo considera errada a decisão do TEDH. O tribunal se afastou de sua prática de considerar demandas individuais relacionadas a disputas entre países, comentou na terça-feira (21) Maria Zakharova, representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Segundo ela, "o tribunal decidiu no fundo carimbar conclusões claramente politizadas e mais do que duvidosas do ponto de vista jurídico de um órgão judicial de um Estado-membro do Conselho Europeu".
"Me abstraio do conteúdo do próprio documento e das conclusões erradas da corte de Estrasburgo, a avaliação jurídica será feita pela Procuradoria-Geral [russa] à luz dos poderes nela delegados de representar nosso país no TEDH. É impossível não notar o desvio arbitrário do tribunal de sua própria prática em relação às demandas individuais que estão ligadas a disputas entre países", lembrou Zakharova.
Zakharova observou que, em 23 de fevereiro, a Ucrânia apresentou sua nona demanda contra a Rússia "em conexão com, como eles a formularam, operações direcionadas para eliminar pessoas vistas como oponentes da Rússia na Rússia e em outros países".
"Portanto, como a demanda 'Litvinenko contra a Rússia', 'Kanter contra a Rússia', se enquadra diretamente no objeto desta ação interestatal, causa perplexidade a falta de coerência do tribunal, que devia ter suspendido a análise do caso, como fez com milhares de outras demandas relacionadas a casos interestatais", explicou a diplomata russa.
"Consideramos inaceitável que o Tribunal Europeu adote abordagens diferentes para situações idênticas", acrescentou.
© REUTERS / Vincent KesslerEdifício do Tribunal Europeu de Direitos Humanos em Estrasburgo, França, 11 de setembro de 2019
Edifício do Tribunal Europeu de Direitos Humanos em Estrasburgo, França, 11 de setembro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 09.11.2021
Edifício do Tribunal Europeu de Direitos Humanos em Estrasburgo, França, 11 de setembro de 2019
A Procuradoria Geral da Rússia disse em 2018 que as autoridades britânicas não forneceram qualquer prova do caso Litvinenko à Rússia, e que os materiais haviam sido classificados.
Yuri Chaika, ex-procurador-geral russo, observou que o Ministério Público britânico estava ciente da ameaça à segurança de Litvinenko meses antes de sua morte, mas não tomou nenhuma medida para protegê-lo, que o empresário Boris Berezovsky "desempenhou um papel fundamental nesta provocação", e que "ele atuou sob o controle dos serviços secretos britânicos e junto com eles, pelo qual mais tarde pagou com sua vida quando decidiu voltar para casa".
Dmitry Peskov, porta-voz presidencial da Rússia, também chamou as declarações do TEDH sobre a alegada responsabilidade da Rússia pela morte de Litvinenko como não tendo fundamentos.
"É improvável que o TEDH tenha o poder ou a capacidade tecnológica para dispor de informações sobre este assunto. Você sabe que ainda não há resultados desta investigação, portanto, fazer tais alegações é pelo menos infundado. Não estamos prontos para aceitar tais decisões", frisou Peskov aos jornalistas.
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