Passados 21 anos dos bombardeios da OTAN, Sérvia ainda desconhece número exato de vítimas

© Sputnik / Aleksei VitvitskyAntigo edifício do Ministério da Defesa, em Belgrado, destruído após o bombardeio da OTAN em 1999
Antigo edifício do Ministério da Defesa, em Belgrado, destruído após o bombardeio da OTAN em 1999 - Sputnik Brasil
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Sérvia assinalou em 24 de março com diversas cerimônias os 21 anos do início dos bombardeios da OTAN ao seu território, oficialmente justificados por alegada repressão sobre o Kosovo.

Decorridas mais de duas décadas, a Sérvia continua sem uma lista oficial de vítimas civis causadas pelos bombardeios da OTAN.

Apesar de existirem diversas listas, por serem tão díspares não tem sido possível a conciliação de dados.

Para além disso, ainda não está definido o método de contabilizar as "vítimas adiadas", ou seja, civis que morreram devido à inação da KFOR após os bombardeios e as mortes causadas por urânio empobrecido e bombas de fragmentação.

Vítimas civis ainda por contabilizar

O cenário do desconhecimento das perdas civis contrasta com as baixas militares, que estão devidamente identificadas.

"O Exército e a Polícia mantinham estatísticas, nós sabemos exatamente quem morreu. Havia também instituições estatais que contavam os mortos e desaparecidos no Kosovo e Metohija. Presumo que haja dados do Ministério do Interior, que registrou as mortes de cidadãos sérvios em todo o país. Portanto, existem dados relevantes de instituições estatais. Talvez eles só precisem de ser reunidos para determinar que informação está faltando. Todas as instituições estatais mantiveram estatísticas sobre mortos, feridos e desaparecidos", disse à Sputnik Sérvia o historiador Bojan Dimitrijevic.

Segundo o especialista, algumas ONG, como a Humanitarian Law Foundation, tentaram contabilizar as vítimas no Kosovo, mas existe o problema de eles não distinguirem as vítimas por pertença a cada uma das partes.

Vítimas da inação da OTAN após os bombardeios

Outro historiador, Predrag Markovic, observou à Sputnik que uma das questões mais importantes é se devemos contar apenas as vítimas diretas da agressão da OTAN, ou seja, as que pereceram sob as bombas, ou também as que faleceram em consequência da inação da OTAN após o fim da agressão, quando esta assumiu funções de manutenção da paz e ordem pública.

Markovic não tem dúvidas: houve mais baixas após os bombardeios do que as vítimas diretas da agressão.

O historiador levanta ainda uma segunda questão, a de saber se se devem incluir as vítimas albanesas do Kosovo, quer as decorrentes de bombardeios por engano da OTAN, quer as de lutas fratricidas entre os albaneses.

"Em sentido lato, poderíamos culpar a OTAN pelas vítimas que ocorreram desde que a Aliança assumiu a responsabilidade pela paz e pela ordem no Kosovo", acredita Markovic, para quem existem três categorias de vítimas da agressão da OTAN.

Categorias de vítimas

A primeira seria constituída pelas vítimas diretas dos bombardeios, a segunda seriam resultado da inação da OTAN no Kosovo após os bombardeios e, finalmente, as vítimas que surgiram posteriormente, dados os efeitos das bombas de fragmentação e do urânio empobrecido que se prolongaram no tempo, continuando a matar muito depois.

Para Markovic, deve-se começar por contabilizar as vítimas diretas dos bombardeios, pois computar as das segunda e terceira categorias seria uma operação bem mais complexa.

As estimativas do número de vítimas civis dos bombardeios da OTAN em 1999 variam muito. A maioria das fontes sérvias aponta para até 2.500 civis sérvios mortos e cerca de 6.000 feridos durante as 11 semanas de bombardeios, enquanto a ONG Human Rights Watch indica entre 489 e 528 civis mortos.

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