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Brasileiros lideram ranking de estrangeiros com bolsas de pesquisa do governo português

© Folhapress / Ricardo RibeiroUniversidade de Coimbra, Portugal (foto de arquivo)
Universidade de Coimbra, Portugal (foto de arquivo)  - Sputnik Brasil
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Doutorandos brasileiros são os estrangeiros que mais recebem bolsas da Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT), órgão do governo de Portugal que financia pesquisa científica. Das 1.350 bolsas atribuídas pelo concurso de 2019 da FCT, 62 foram para brasileiros.

Os italianos aparecem em segundo lugar no ranking dos estrangeiros, recebendo 26 bolsas. Em seguida estão os iranianos, com dez bolsas, e espanhóis, com oito.

O número de brasileiros aprovados em concursos da FCT vem em crescimento desde 2016, quando apenas três receberam bolsas. A subida coincide com os períodos mais recentes em que os investimentos para pesquisa científica no Brasil sofreram alterações.

"Esse momento que o Brasil está vivendo é bastante delicado. Esses cortes têm o objetivo de sucatear mesmo. Claro que se intensificou nesse governo, mas não é novo. A gente tem acompanhado isso pelo menos nos três últimos anos. Quando Temer assumiu, já tinha a proposta desse contingenciamento. O governo Bolsonaro aumentou ainda mais", analisa Fernanda Campos, doutora em Educação, para a Sputnik Brasil.

Fuga de cérebros

Os últimos cortes do governo brasileiro para as verbas da educação atingem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que já perdeu cerca de 12 mil bolsas ao longo de 2019, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que corre o risco de ver seus 80 mil bolsistas sem recursos financeiros nos próximos meses.

"É bastante preocupante, porque para os projetos de desenvolvimento tecnológico no Brasil, é a universidade que dá conta disso, em várias áreas. As empresas não ocupam esse lugar, também não existem tantas parcerias entre empresas e universidades, então o lugar das cabeças pensantes está ali e estão querendo cortar. É bastante delicado para o momento presente, mas para o futuro também", diz Fernanda Campos.

Com um cenário de incertezas, o exterior acaba se tornando cada vez mais atrativo. A chamada "fuga de cérebros" caracteriza o movimento de saída de pesquisadores do Brasil para outros países, que vão "motivados por uma preocupação, ou uma vontade de continuar esses estudos, e procurando uma segurança no ambiente acadêmico", avalia a docente.

Portugal não esconde que quer atrair e segurar mão de obra qualificada. O número de bolsas oferecidas pela FCT cresceu 87% nos últimos quatro anos e o recurso atual da instituição, no valor de 616 milhões de euros (mais de 2,8 bilhões reais), são 11% maior do que o do ano passado.

"Os concursos da FCT são muito competitivos. Quem tem as bolsas são os melhores. É muito importante criarmos condições para que bons estudantes brasileiros possam encontrar em Portugal também as condições para poderem estudar. Muitos vinham tradicionalmente com financiamento brasileiro, que é mais raro neste momento devido às prioridades do governo, mas nós continuamos abertos", diz à Sputnik Brasil o ministro da Educação português, Tiago Brandão Rodrigues.

O ministro considera que estudantes estrangeiros em geral "são absolutamente fundamentais" para o país.

"Temos que continuar a dar resposta positiva, até para aqueles brasileiros que vêm por curtos períodos, em intercâmbios, ou para fazer parte dos seus doutorados. Continuamos a trabalhar para diversificar nossas ofertas e darmos condições, como já fazemos, até para que quem faz o vestibular no Brasil possa também ter acesso ao ensino superior aqui em Portugal", completa o ministro.

Planejamento

A docente Fernanda Campos acredita que as facilidades de uma mudança para Portugal tornam o país atrativo. "Os vários acordos existentes entre Brasil e Portugal favorecem. Seja em termos de saúde, tem também a língua, e os próprios acordos acadêmicos. Cursos com notas 6 e 7 da CAPES são considerados de excelência, têm reconhecimento de diplomas praticamente automático em Portugal."

Fernanda avalia que o aumento nas políticas de estímulo ao desenvolvimento científico em Portugal nos últimos anos é real, mas recomenda cautela e planejamento.

"Quando voltam para o Brasil, para reconhecer um diploma português lá é mais difícil. Aqui em Portugal existem bem menos universidades e também são bem menos vagas, então quando abre um concurso público é muito concorrido. Há muita gente que tem doutorado e está trabalhando em outras áreas, se virando, porque não consegue emprego. Se eu puder dar um conselho é: viva o ambiente acadêmico, porque isso é o que vai abrir portas que são muito concorridas."

Para concorrer a uma bolsa de doutorado pela FCT, o candidato já precisa morar em Portugal com título de residência emitido pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e estar matriculado em um curso de doutorado no país. Os concursos costumam abrir entre os meses de fevereiro e março, com resultados publicados logo antes do início do ano letivo nacional, que ocorre em setembro.

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