Ex-reclusos contam à Sputnik pormenores das torturas sofridas em prisão secreta da Ucrânia

© Sputnik / Evgeny KotenkoSoldados do regimento ucraniano Azov
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No âmbito da investigação sobre a existência de prisões secretas na Ucrânia , sob a proteção tácita do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU).

A Sputnik conseguiu encontrar mais um ex-agente do SBU, que providenciou informações sobre os lugares onde as pessoas teriam sido torturadas.

Na primeira parte da investigação, um ex-agente do Serviço de Segurança ucraniano (serviço secreto), apresentou fotografias em uma coletiva de imprensa que decorreu em Moscou, que provam a existência de uma prisão não oficial no aeroporto na cidade de Mauriupol, controlada pelas forças ucranianas.

Para além das fotografias e declarações prestadas pelo referido ex-agente desta estrutura, a Sputnik consegui encontrar outro ex-agente do SBU, cujas declarações não tinham sido anteriormente publicadas.

De acordo com ele, o regimento ucraniano Azov (uma organização paramilitar criada em 2014) era necessário ao Serviço de Segurança ucraniano para "influenciar" os suspeitos. Depois de terem estado na prisão secreta, tinham que ser tratados longamente nos hospitais locais para não terem marcas de tortura.

Os próprios reclusos pediam para serem enviados o mais rápido possível para o centro de detenção preventiva do SBU, para não voltarem para a prisão do aeroporto.

O encontro com o ex-agente foi realizado em Moscou (por medo de retaliações, ele pediu para que o seu nome e a patente militar fossem mantidos em segredo).

Ele prestou serviço na cidade de Mariupol durante dois anos, demitiu-se no início de 2017. Foi para Odessa e, mais tarde, viajou para a Rússia.

De acordo com ele, a prisão secreta no aeroporto tinha sido organizada assim que o regimento Azov tomou controle da cidade de Mariupol.

"O Azov era utilizado para execução de tarefas "necessárias", como, por exemplo, "trabalhar" os detidos...pela prisão passavam todos os que os que eram suspeitos de ligações com a RPD [República Popular de Donetsk] em Mariupol. Segundo as minhas estimativas, havia pelo menos 120 pessoas suspeitas, disse o ex-funcionário.

Segundo as suas declarações, "os detidos após terem estado [na prisão secreta] e antes de serem transferidos para o centro de detenção do SBU eram tratados em hospitais da cidade de Mariupol durante vários dias" para que as marcas de tortura desaparecessem. Só eram enviados para o SBU para serem interrogados quando já estavam "apresentáveis".

"Eles [os suspeitos] pediam para serem transferidos o mais rápido possível para o centro de detenção e não voltar para o aeroporto", afirma o ex-funcionário.

Kirill Filichkin, de 30 anos, habitante de Mariupol, foi um dos primeiros a ser colocado na prisão do aeroporto no dia 7 de maio de 2014. Naquela altura, o regimento Azov, com outras forças, estava ocupando a cidade.
Filichkin foi brutalmente espancado e torturado.

"Colocavam os dedos em uma coronha e batiam com a outra. Me cortaram os tendões nas mãos com a baioneta militar, para eu não conseguir apertar no gatilho", recorda o homem mostrando as cicatrizes nas mãos.

O espancamento continuou durante a viagem quando estava sendo levado para Kiev. "Para que eu não adormecesse, batiam com a coronha no pescoço. Picavam-me com a baioneta. Eu perguntava: por que vocês fazem isso? Estamos simplesmente aborrecidos, diziam eles".

Oito-dez pessoas desapareciam em Mariupol diariamente

Mas Kirill ainda teve sorte, ele sabe que havia uma espécie de cemitério no aeroporto de Mariupol para aqueles que morriam ali, para os que não aguentavam as torturas ou eram assassinados a tiros pelos carcereiros.

"Escavavam um buraco [na terra], metiam ali os corpos. Quando a cova ficava cheia, colocavam cimento por cima e cobriam [com terra], conta Filichkin as palavras de outras testemunhas.

Os combatentes do regimento Azov paravam ônibus com trabalhadores retiravam os que lhes pareciam suspeitos.

Ao todo, Kirill Filichkin passou 3,5 anos na prisão. Em 8 de junho de 2015 ele foi condenado a uma pena de 12 anos, mas, em 27 de dezembro 2017, foi liberado durante a troca de prisioneiros.

Todos os acontecimentos no aeroporto de Mariupol, e em outras prisões secretas ucranianas (e nas repúblicas autoproclamadas), sempre estiveram no centro das atenções da missão da ONU de monitoramento dos direitos humanos na Ucrânia e foram registrados em relatórios.

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