Acordo arriscado de gás entre Polônia e EUA é uma tentativa de manipular a Rússia?

© AP Photo / Jens MeyerHomem observa tubo de gás que faz parte do projeto Nord Stream
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A Polônia assinou um acordo de 20 anos com uma empresa norte-americana produtora de gás natural. Os poloneses foram motivados pelo desejo de reduzir a dependência do gás natural fornecido pela Rússia.

Ainda não está claro se o novo contrato, que obriga a Polônia a comprar 2 milhões de toneladas de combustível por ano, irá ser rentável para Varsóvia.

Segundo o diretor da empresa de gás natural polonesa PGNiG, Piotr Wozniak, o valor a ser pago à empresa norte-americana será em torno de 20 ou 25 por cento menos que o valor pago pelo gás russo. No entanto, esse aparenta ser um contrato repleto de riscos.

O contrato prevê que a Polônia seja obrigada a comprar gás natural a duas subsidiárias da Venture Global, empresa norte-americana, em uma base FOB (free on board) a partir de 2022, no mesmo ano em que o acordo com a Rússia de fornecimento de gás natural terminará.

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Atualmente, dois terços do gás consumido na Polônia são fornecidos pela Rússia e, com esse acordo, os poloneses acreditam que irão reduzir sua dependência energética em relação a Moscou. Ao ser questionado sobre o acordo de alto risco com os EUA, o ministro da Energia da Polônia, Krzysztof Tchorzewski, enfatizou que "no contexto polonês, esse gás é um bem civilizacional".

Além disso, o país acredita que possa revender o gás adquirido pelos EUA a outros países. É provável que os exportadores poloneses tenham em mente o rápido crescimento do mercado de energia na China, o que cria grandes expectativas de negócio.

Outro fator que motiva os poloneses é a elevação das tarifas aplicadas por Donald Trump contra Pequim, já que a China está fazendo com que as compras chinesas de gás e petróleo nos EUA diminuam drasticamente. Sendo assim, a Polônia poderá ter um papel de intermediário entre os dois rivais, além da possibilidade de, juntamente com a Venture Global, exercer pressão sobre a Gazprom após 2022.

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Em todo caso, os detalhes do acordo não foram revelados, o que levanta uma suspeita sobre os reais benefícios de Varsóvia.

A condição de free-on-board (FOB) significa que a Polônia será responsável pelo transporte do gás norte-americano, elevando o custo inicial em 30 por cento, o que contradiz a informação de que o gás estadunidense teria um valor menor do que o gás russo.

Outro fator a ser considerado é que as plantas de Calcasieu Pass e Plaquemines, às quais a PGNiG iria comprar o gás a partir de 2022 e 2023, ainda não estão operacionais. Além disso, a Comissão Federal Reguladora de Energia (FEARC) ainda tem que emitir a permissão para construir essas plantas. Também não há garantias de que a Polônia conseguirá ocupar um nicho no mercado chinês em 2022.

Um outro fator importante que deve preocupar os poloneses é que a China e a Rússia estão firmando um acordo sobre um segundo gasoduto da Gazprom para entregar 30 bilhões de metros cúbicos anuais de gás natural russo à China, além de que a China tem comprado gás natural no Golfo Pérsico há anos.

A Polônia está tentando utilizar o gás norte-americano para manipular a Rússia e levá-la a fazer concessões, mas essa não parece ser uma decisão muito inteligente, já que o gás russo possui um custo mais baixo que o gás norte-americano.

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