Líder da maçonaria portuguesa explica à Sputnik como combater Daesh e intolerância

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Maçons de todos os países unam-se contra o populismo e o extremismo, podia ser o lema da reunião que levou dezenas de organizações maçônicas europeias a Lisboa.

O grão mestre da organização portuguesa maçônica Grande Oriente Lusitano, Fernando Lima, em declarações à Sputnik Brasil, valorizou nos seguintes termos a realização de um encontro da Aliança Maçônica Europeia (AME) para discutir os problemas e os desafios em que se encontra a Europa e o mundo: "AME é uma associação internacional sem fins lucrativos, inscrita no registo de transparência da União Europeia, e que surge no quadro do diálogo entre as instituições europeias e as organizações religiosas, filosóficas e não confessionais, estabelecida no início dos anos 90 e que foi formalizada no Artigo 17º do Tratado de Lisboa."

"A Aliança Maçônica Europeia, que agrega hoje 45 Obediências Europeias, desempenha um papel central no diálogo entre as Obediências Maçônicas e os órgãos da União Europeia. A importância desta reunião em Lisboa resulta da importância que a AME assume no contexto europeu e enquadra-se no quadro de reciprocidade de visita entra as organizações participantes", acrescentou.

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Trata-se da primeira vez que uma reunião deste gênero aconteceu em Portugal, dia 18 de novembro de 2017, mas encontros similares ocorrem regularmente em vários países da Europa e o objetivo é sempre o mesmo: que os maçons europeus trabalhem juntos na defesa de valores em que todos acreditam, segundo garantiu o presidente da Aliança Maçônica Europeia, Marc Menschaert, à agência portuguesa Lusa.

Sobre o diagnóstico que esta reunião a portas fechadas fez da atual situação político-social na Europa e no mundo, o grão mestre português remeteu para as declarações do presidente da AME. 

Marc Menschaert, em entrevista à Lusa, sublinhou o caráter "discreto" da reunião e das suas conclusões. 

"A maçonaria, o trabalho maçônico, é para unir as pessoas, a extrema-direita é mais um movimento que divide. Para nós, a extrema-direita é claramente um perigo", avisou.

Menschaert defendeu que a educação é um tema importante para a maçonaria, e por isso a instituição questiona o que devem fazer os maçons e o que devem fazer os países europeus "para lutar, por exemplo, contra o fanatismo".

Marc Menschaert não crê que a Europa esteja se tornando intolerante, mas admite que haja pessoas e partidos que são. E reafirma que por isso é preciso "investir nos jovens" para que estes pensem por si só, que reflitam sobre o que se passa ao seu redor, que pensem de forma crítica, porque "o importante é que a pessoa, entendendo o que se passa, ouvindo, escutando, refletindo, tome a sua própria posição, sem influência de ideias populistas".

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Por isso, defendeu, "é importante que a Europa esteja unida" e que nessa união os países ou regiões mais pobres sejam ajudados pelos mais ricos. E só uma Europa mais unida, mais forte e desenvolvida, sem divisões que a questão da Catalunha poderia prenunciar, é capaz de ajudar os países mais pobres a chegar a um nível elevado de desenvolvimento e de educação.

"Defendemos no fundo a solidariedade, e é nesse ideal que para nós a Europa tem de ser unida, o mais forte possível. Não uma Europa da finança mas que esteja lá para desenvolver a sociedade, também apoiando os mais pobres para que juntos eles cheguem a um nível considerado aceitável", disse na entrevista.

E depois, acrescentou, não é justo uma União Europeia "a duas ou três velocidades", pelo que tem de haver uma Europa atenta, a Portugal, à Grécia e a outros países, e que continue investindo nesses países.

À pergunta se a relação com a UE é de apoio ou de contestação, Marc Menschaert diz ser de apoio quando a União Europeia investe em valores que a maçonaria preza, mas acrescenta: "quanto aos refugiados, por exemplo, é importante dizer que consideramos que eles sejam uma oportunidade para a Europa, que não é concebível que essas pessoas morram atravessando o Mediterrâneo".

Se há países que "investem muito, que fazem muito" pelos refugiados, há outros que não, e nas palavras do presidente da AME é importante lembrar às instituições europeias a relevância de tratar os refugiados com respeito e com dignidade.

Sobre o crescimento de movimentos fundamentalistas terroristas, como o Daesh, o grão mestre português Fernando Lima defendeu à Sputnik Brasil que "sobre esta matéria, a posição do Grande Oriente Lusitano é consistente e clara: consideramos que só a defesa e a valorização dos valores-matriz da Maçonaria podem eficazmente combater a ignorância e o medo, sobre os quais crescem este e todos os tipos de extremismos e intolerâncias".

"O Grande Oriente Lusitano-Maçonaria Portuguesa sempre esteve, está e estará na vanguarda da defesa dos direitos, liberdades e garantias, dos genuínos princípios democráticos e cívicos, da justiça social, da dignidade humana, da fraternidade, da solidariedade, da instrução e da educação, contra a violência, a xenofobia, o racismo e a tirania", afirmou.

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Durante a cúpula de Lisboa, a extrema-direita portuguesa, ligada a setores ultranacionalistas, convocou uma concentração em frente ao palacete no Bairro Alto de Lisboa, que alberga o Grande Oriente Lusitano. 

O que levou o responsável da maçonaria portuguesa a reagir da seguinte forma: 

"A existência dessa manifestação evidencia quão fundamentais são os valores que Grande Oriente Lusitano defende, e evidencia sua atualidade e importância, como refere um conhecido provérbio árabe: 'só se atiram pedras a arvores carregadas de frutos'."

Vale destacar que o Grande Oriente Lusitano, que teve um papel relevante na implantação da República em Portugal, 1910, foi várias vezes perseguido e proibido. Sendo várias vezes interditado no tempo do Intendente Pina Manique e durante o Estado Novo, por decreto de maio de 1935.

Ironicamente, o mentor e dirigente do golpe de Estado de 28 de maio de 1926, que levou posteriormente o ditador António Salazar ao poder, o Marechal Carmona, era maçon. O decreto da ditadura fascista expropriou os bens da maçonaria e perseguiu e levou para a prisão muito dos seus membros que militavam na oposição democrática.

A maçonaria só viu a liberdade e a restituição dos seus bens com a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974.

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