Opinião: autoridades da Polônia não conseguem enxergar 'ameaça nacionalista' ucraniana

© AFP 2023 / ANATOLII STEPANOVNacionalistas marcham em Kiev
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A reação de Varsóvia ao recente bombardeamento do Consulado polonês na cidade de Lutsk, na Ucrânia ocidental, pode ser descrita como um "estado de senilidade impotente", afirmou à Sputnik o historiador e observador político independente polonês, Bohdan Pietka.

Em uma entrevista à Sputnik Polônia, o especialista afirmou que Varsóvia continua fechando os olhos ao ressurgimento do nacionalismo e chauvinismo ucranianos que se manifestaram de modo evidente no bombardeamento do Consulado polonês em Lutsk.

​Ele chamou a reação das autoridades polonesas ao bombardeamento de um "estado de senilidade impotente".

Na quarta-feira (29), atacantes não identificados bombardearam o Consulado Geral polonês em Lutsk com um lança-granadas. O incidente não provocou vítimas, mas o edifício ficou danificado, segundo comunicou a missão diplomática polonesa.

Comentando o assunto, Pietka relembrou que em 16 de março uma série dos maiores grupos nacionalistas ucranianos, tais como Liberdade, Congresso de Nacionalistas Ucranianos e Setor de Direita, adotaram o assim chamado Manifesto Nacional.

O documento fala, particularmente, da intenção de derrubar as atuais autoridades ucranianas, de Kiev dever ter acesso a armas nucleares, bem como da criação da União do Báltico e Mar Negro.

"Isto foi negligenciado pelas autoridades polonesas, que classificam imediatamente todos os incidentes negativos, especialmente na Ucrânia ocidental, de provocações russas", disse Pietka.

"Estas pessoas não querem prestar atenção à natureza antipolonesa do nacionalismo e chauvinismo ucranianos, que se desenvolveu e ganhou força após o golpe de Maidan na Ucrânia. Eles não veem que os processos seguem em uma direção muito perigosa, já que Kiev não controla a situação política, não só na Ucrânia ocidental, mas em todo o país", partilhou Pietka.

Ele também frisou o fato dos nacionalistas ucranianos estarem dispostos a formar uma aliança geopolítica entre a Ucrânia, a Polônia, os países do Báltico e a Bielorrússia, na qual Kiev seria a força principal.

Nesse respeito, ele se referiu a uma série recente de incidentes por toda a Ucrânia, inclusive um em Kiev, no qual foi profanado um cemitério militar polonês. Em outro incidente, foi atacada a Embaixada da Polônia, com a instalação de um retrato enorme de Bandera, líder nacionalista ucraniano.

"Lamentavelmente, tanto as autoridades polonesas como a oposição, inclusive o antigo sindicato Solidariedade, preferem ignorar a ameaça proveniente do crescente nacionalismo ucraniano. Eles recusam entender o fato de os nacionalistas ucranianos serem parceiros absolutamente irrelevantes para uma cooperação política", sublinhou.

Mais cedo, a agência de imprensa polonesa comunicou que os representantes da Aliança de Esquerda Democrática polonesa consideram uma "bofetada na cara" à Polônia e ao seu presidente o fato do Parlamento ucraniano ter reconhecido o Exército Insurgente da Ucrânia (UPA) como lutadores pela independência.

O Exército Insurgente da Ucrânia está sendo glorificado, sendo que foi aprovada uma lei que reconhece "o papel especial desempenhado pelo UPA na história ucraniana". De acordo com a lei, "qualquer um que afirmar que o UPA é uma organização criminal envolvida no genocídio [de poloneses] pode ser castigado".

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Ao longo da década passada, as relações entre a Ucrânia e a Polônia se têm agudizado devido às tentativas dos historiadores ucranianos para branquear os crimes cometidos pelo UPA no tempo da Segunda Guerra Mundial.

Os historiadores ucranianos acusam os soldados da UPA de terem matado entre 100 e 130 mil civis poloneses, bem como entre 5 e 10 mil civis ucranianos na Galícia do Leste e na Volínia, sendo que tais dados têm sido rejeitados ou subestimados pelos historiadores ucranianos.

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