Morre o célebre Givi, miliciano de Donbass: quem era e quem o matou?

© Sputnik / Mikhail Parhomenko  / Acessar o banco de imagensO comandante do Batalhão Somali da milícia da RPD Mikhail Tolstykh, mais conhecido por seu apelido Givi
O comandante do Batalhão Somali da milícia da RPD Mikhail Tolstykh, mais conhecido por seu apelido Givi - Sputnik Brasil
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O comandante do Batalhão Somali da milícia da RPD Mikhail Tolstykh, mais conhecido por seu apelido Givi, morreu na sequência de um atentado na manhã de quarta-feira (8). A Sputnik apresenta-lhes as eventuais causas e a trajetória dos acontecimentos trágicos que custaram a vida ao miliciano e revela detalhes da sua folha de serviço.

Guerreiro que morreu fora do campo de batalha

Hoje (8) de manhã, por volta das 6h locais, o comandante do batalhão da milícia independentista da República Popular de Donetsk (RPD), Givi, morreu no seu escritório em resultado de um disparo de lança-foguetes Shmel, comunicou um representante do Ministério da Defesa da autoproclamada RPD.

As milícias, por sua vez, cercaram imediatamente o edifício onde se deu o atentado. As forças de emergência da República continuam vigiando o local do incidente. O comando operacional da autoproclamada RPD comunica que foi declarado um plano de intercepção em toda a República na sequência do acontecido.

Givi era comandante do batalhão de milícia da RPD Somali (Somália em russo), cujo nome foi inventado por outro miliciano, Motorola, morto no ano passado. Segundo revelou o próprio Givi em uma entrevista, ao ver o destacamento pela primeira vez, Motorola exclamou: "Mas estes são verdadeiros piratas! Que nem somalis!" Depois o nome permaneceu, já que Givi sempre considerou seus homens serem destemidos e ousados como os piratas.

Quem está por trás do acontecido?

As autoridades da RPD atribuem a responsabilidade pela morte do comandante às forças especiais ucranianas, adiantando que o atentado que levou a vida do comandante do batalhão Somali é uma "continuação da guerra de terror declarada pela liderança de Kiev contra os habitantes de Donbass".

"Pelas provas indiretas se pode dizer com certeza que esta tragédia foi articulada pelos serviços secretos ucranianos. Não descartamos a possibilidade do conselheiro do ministro do Interior ucraniano, Shkiryak, ter estado envolvido neste atentado", pormenorizou um representante do Ministério da Defesa da RPD aos jornalistas.

O porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov, afirmou que se trata de uma "provocação e de tentativas para desestabilizar a situação em Donbass".

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"Sem dúvida que esperamos haver uma certa reserva de resistência e que aqueles que estão por trás dessas mortes não consigam provocar uma escalada ulterior. Porque, infelizmente, a situação já continua muito tensa devido às ações agressivas empreendidas pela parte ucraniana", precisou o representante oficial do Kremlin.

Vladimir Kornilov, cientista político de Donetsk e presidente do Centro de Estudos Euroasiáticos afirmou, em uma entrevista à Sputnik, que não gostaria de criar especulações e teorias até que fossem apurados todos os detalhes do acontecido, mas frisou:

"Eu não queria especular sobre quem disparou e quem enviou os terroristas, mas prestem atenção ao fato de todas as redes sociais ucranianas se estarem regozijando, felicitando os 'heróis ucranianos' que mataram o 'terrorista'. Ao mesmo tempo, ao público os mesmos jornalistas e políticos dizem que não foram eles, que foram os serviços secretos russos ou elas [milícias] próprias. Então surge uma questão — Kiev continua chamando os combatentes de Donbass de terroristas, mas os atentados acontecem em Donetsk e não em Kiev."

O especialista comparou esta situação com o atentado em Odessa em 2 de maio de 2014, quando todos "sabiam quem tinha queimado [o edifício cheio de] manifestantes, os jornalistas e bloggers ucranianos se parabenizavam uns aos outros pelo acontecido, mas depois diziam que foram os próprios manifestantes" que o fizeram.

"É nisso que consiste a estratégia de guerra midiática dos ativistas ucranianos", resumiu.

Além disso, as autoridades ucranianas propuseram aos presidentes das repúblicas autoproclamadas de Lugansk e Donetsk, Plotnitsky e Zakharchenko, a que se rendessem. Isso foi expresso pelo conselheiro do ministro do Interior ucraniano Zoryan Shkiryak, que afirmou que "eles podem ser os próximos".

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O acadêmico Vladimir Kornilov adiantou que tais ações repetidas apontam para o fato de a Ucrânia ter anunciado um "caminho de guerra e terror" às repúblicas autoproclamadas e no final isto pode levar os representantes das milícias a "começarem respondendo com as mesmas medidas".

"Acho que todos os participantes do Quarteto da Normandia, Trump, ou quem quer que seja que possa exercer pressão sob a Ucrânia, deve convencer Kiev a parar com os atentados na RPD e RPL para não escalar a situação ainda mais", concluiu Kornilov.

Quem era Givi, o 'pirata somali'?

O coronel Mikhail Tolstykh nasceu em 19 de julho de 1980 na cidade de Ilovaisk, que a partir de 2014 passou a ser controlada de fato pelas autoridades da autoproclamada República Popular de Donetsk.

Tolstykh escolheu seu apelido durante seu serviço no Exército ucraniano em homenagem ao seu avô georgiano que combateu durante a Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, e limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados).

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Após o golpe de Estado na Ucrânia, Givi se tornou em um dos ativistas do movimento pela autodeterminação das regiões orientais do país. Quando as tropas ucranianas começaram a operação militar contra a RPD e RPL, ele foi nomeado comandante e participou das batalhas por Slavyansk e Ilovaisk, bem como pelo aeroporto de Donetsk. O miliciano recebeu a medalha de herói da RPD e muitas outras condecorações.

Givi já foi por várias vezes alvo de atentados, mas sempre conseguiu escapar ao perigo até ao trágico dia 8 de fevereiro. Em outubro de 2016, foi morto outro miliciano da RPD, Arsen Pavlov, mas conhecido como Motorola.

Desde manhã cedo, os internautas continuam expressando seu pesar nas redes sociais.

"Givi foi morto em Donetsk na sequência de um atentado.
Custa a crer…
Viva a Memória Eterna!"

"As palavras de um verdadeiro herói: ‘Eu cresci aqui, vivo aqui e vou morrer na minha Terra'. Que descanse em paz…"

Muitos recordam o vídeo no qual Givi aparece sendo entrevistado em pleno bombardeio.

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