Guerra não é brincadeira: Polônia sedia primeiros jogos militares simulando agressão russa

© AP Photo / Geert Vanden WijngaertJens Stoltenberg, o secretário geral da OTAN e Andrzej Duda, presidente da Polônia
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Ao longo dos últimos dias, um dos estádios de futebol poloneses virou palco de uma batalha simulada – ou seja, a simulação de uma ofensiva russa contra os países europeus. A Sputnik Polônia falou com Adam Wielomski, vice-editor-chefe do portal Konserwatyzm.pl, sobre o assunto e como se pode entender o evento.

Nesta quinta-feira (26) terminaram os Jogos Militares no estádio de futebol de Varsóvia, organizados em cooperação entre Polônia e Centro de Defesa de Washington Potomac Foundation. Ao longo das manobras, foi imitado um ataque russo contra o Ocidente, sendo que toda a campanha foi patrocinada por corporações ocidentais, tais como a Raytheon, Lockheed Martin, Northrop Grumman norte-americanas e a empresa sueca Saab.

Na sequência destes exercícios, os peritos em assuntos militares vão preparar um relatório que depois apresentarão ao Ministério da Segurança Nacional polonês.

Sem dúvida, na Europa há muitos estádios excelentes, mas foi o de Varsóvia que acolheu os jogos, modelados por tecnologias de computador. Muitos analistas questionam esta decisão. Mas afinal, por que foi precisamente a Polônia que concordou em acolher o projeto? Claro que não foi por acaso, afirma o especialista, em entrevista exclusiva à Sputnik Polônia:

"Por um lado, podemos sugerir que isto está relacionado com a política externa e de defesa ou com a política comum de segurança, conduzida pelo governo atual, que se foca no problema da ‘agressão russa' e na qual baseia a sua política de segurança. Por outro, acontece que a OTAN deseja assinalar o seu interesse em defender a Polônia perante tal agressão."

Vale ressaltar que ao longo dos jogos se simulava uma situação em que a OTAN faz face a uma necessidade de responder a um ato de agressão militar já cometido, enquanto a maioria dos políticos e militares russo afirmam que é a Aliança que, com suas atividades junto às fronteiras russas, representa uma ameaça para a segurança do país.

Em relação a isso, Wielomski frisa que "às vezes na política acontece que não há um objeto de conflito ou disputa".

"Porém, ambas as partes estão sentindo uma ameaça, é por isso que falam desta ameaça, lançam acusações recíprocas, empreendem tentativas de aumentar o nível de segurança e fazer crescer seu potencial frente ao inimigo. Isto, por sua vez, provoca uma reação da parte adversária, e isso é a essência de um conflito que se auto desenvolve", explicou o especialista.

Pelos vistos, é este o conceito que podemos aplicar à confrontação entre a Rússia e o Ocidente hoje em dia, frisa Wielomski. "A perspectiva mais tenebrosa para mim, sendo polonês, é que caso, Deus me livre, se desencadeie um conflito armado em resultado destas acusações recíprocas e tentativas de garantir segurança, este será, infelizmente, no território polonês. Acho que a Polônia deve fazer todo o possível para evitar uma escalada do conflito por qualquer das partes", precisou.

Enquanto isso, em uma entrevista ao Rzeczpospolita, o embaixador norte-americano em Varsóvia, Paul Jones, também foi questionado sobre a escolha do país-sede dos jogos. "A Rússia é um país grande e importante, que desempenha um papel-chave tanto no sistema de segurança global como americana", afirmou o diplomata em um tom inesperadamente amigável.

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"O sentimento de responsabilidade de cada novo presidente exige uma cooperação construtiva com todos os países com os quais isso é possível, segundo disse o presidente Trump, e especialmente com aqueles que têm grande importância para a segurança internacional e para todos nós. Além disso, é típico da OTAN acreditar que os EUA desempenham um papel central nas relações com a Rússia, o que é condicionado por uma série de fatores. Se surgirem algumas áreas de cooperação com a Rússia, iremos considerá-lo como uma coisa positiva", continuou o embaixador.

Tais declarações estão em contradição com aquilo que vimos em Varsóvia ao longo da última semana. Mas, de acordo com o analista, há uma explicação bastante evidente para isso: "O cenário que foi, digamos, interpretado no estádio, é um cenário ainda da época de Barack Obama".

​Em outras palavras, os jogos militares "decorreram conforme o cenário elaborado ainda pela administração anterior da Casa Branca, que considerava a Rússia como uma ameaça grave para os EUA e para a OTAN, e por isso se preparava para uma eventual defesa ou um ataque preventivo", realçou o vice-editor-chefe do portal Konserwatyzm.pl. Deste modo, as palavras do embaixador refletem mais a postura da nova administração, que é mais focada na obtenção de estabilidade no mundo.

"Acho que os diplomatas reagem aos sinais da Casa Branca de modo mais rápido. Provavelmente, eles os recebem através do correio diplomático de Washington, enquanto os militares demoram em recebê-los", adiantou o analista.

No final da conversa com a Sputnik, Wielomski expressou suas expetativas em relação à futura conversa telefônica entre os líderes russo e norte-americano.

"Não acho que esta conversa seja uma viragem. Eu diria que os presidentes vão acordar a necessidade de um encontro cara a cara em algum território neutro para discutir a situação internacional, a mudança da política de 'pequena Guerra Fria' que existia entre os países, as novas perspectivas e oportunidades de cooperação", resumiu o jornalista polonês.

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