Para Cordenonssi, a renúncia de Brandão "já era prevista" e, por isso, não trouxe impactos ao mercado financeiro. Já era possível prever a renúncia desde que o presidente Jair Bolsonaro criticou as medidas de racionalização do Banco do Brasil, que previam o fechamento de cerca de 200 agências no país e um programa de demissão voluntária com o objetivo de cortar cinco mil vagas.
Segundo o economista, Bolsonaro enxerga estas medidas como impopulares. Desta forma, de olho em uma possível reeleição, o presidente optou por mexer peças no tabuleiro político.
"O presidente até agora não assumiu a presidência. Ele não desceu do palanque desde o primeiro dia. Apesar de ter dito que não queria a reeleição, que não fazia questão da reeleição, ele só trabalha para isso. Este é o foco dele: única e exclusivamente popularidade", afirma Cordenonssi.

Na opinião do economista, a troca de comando do Banco do Brasil tem similaridade com a mudança na presidência da Petrobras. Na estatal de óleo e gás, o novo presidente foi apontado após semanas de alta no preço dos combustíveis – um valor mais alto poderia ter tornado a Petrobras mais rentável e competitiva no cenário internacional.
Trocas no comando como estas mostram, segundo Cordenonssi, que Bolsonaro não é um liberal econômico, como pregou ser ao longo de sua campanha eleitoral, mas um estatista. Em sua crítica ao presidente, o economista ainda alfinetou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
"O presidente Bolsonaro usou a bandeira do liberalismo econômico somente para campanha. Ele usou Paulo Guedes como um álibi para usar esta bandeira, mas depois de eleito a única coisa que ele vê pela frente é a reeleição. Então qualquer estatal que comece a ameaçar as chances dele de reeleição [...] com medidas impopulares, ele vai cortar estes planejamentos e colocar Pazuellos no lugar", avalia o economista.
Novo presidente será 'um cumpridor de ordens'
No mesmo dia em que Brandão comunicou a renúncia, o Ministério da Economia indicou Fausto de Andrade Ribeiro para assumir a presidência do Banco do Brasil. Depois de Rubem Novaes e André Brandão, Fausto Ribeiro será o terceiro presidente do banco em pouco mais de dois anos do governo Jair Bolsonaro.
"Pela lógica do Bolsonaro, ele deve ser um cumpridor de ordens assim como o Pazuello, que vai tocar o dia-a-dia do Banco do Brasil sem comprometer a popularidade do presidente, sem tomar medidas que possam ir contra os interesses eleitorais do presidente", afirma o especialista.

Servidor do Banco do Brasil desde 1988, Ribeiro ocupa o cargo de diretor da BB Consórcios, subsidiária do banco, desde setembro de 2020. Segundo Cordenonssi, a troca de comando no Banco do Brasil mostra ao mercado financeiro que o banco provavelmente não passará por grandes mudanças em um futuro próximo – e que possivelmente não será rentável nos próximos meses.
"A troca no comando sinaliza para os acionistas para não esperarem nenhuma valorização do banco com vistas a privatização. Não será feito nenhum projeto de reforma do banco com vistas a trazer maior rentabilidade. O novo comando vai empurrar com a barriga até 2022", analisa Cordenonssi.
A popularidade de Jair Bolsonaro, apontada por Cordenonssi como a principal motivação para a troca no comando do Banco do Brasil, vem caindo nos últimos meses de acordo com pesquisas recentes. Segundo um levantamento do Datafolha divulgado nesta quarta-feira (17), 46% da população brasileira são favoráveis ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Além disso, para 56% da população Jair Bolsonaro não tem capacidade de liderar o país, enquanto 54% dos brasileiros enxergam o trabalho do presidente como ruim ou péssimo.

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