A iniciativa para aumento do papel do euro foi incluída pela primeira vez na agenda da UE pelo ex-presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em 2018. Segundo Juncker, a União Europeia passou a perder milhões devido às guerras comerciais iniciadas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, o que obrigaria à retirada do status do dólar de moeda global.
O processo deveria começar com petrodólar. Juncker afirmou que 80% das importações energéticas da Europa são pagos em dólares e acrescentou que os aviões da UE também são comprados em dólares. Além do mais, Washington usou muitas vezes sanções unilaterais que afetam as empresas do bloco.
A situação piorou ainda mais quando Trump retirou os Estados Unidos do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), que limitava o programa nuclear do Irã, e anunciou sanções contra empresas europeias que negociassem com a República Islâmica.
Mecanismo INSTEX
A União Europeia se viu obrigada a procurar outro caminho para fazer pagamentos ao Irã. França, Alemanha e Reino Unido criaram o Instrumento de Apoio às Bolsas (INSTEX, na sigla em inglês), um mecanismo especial dedicado à "simplificação de transações comerciais entre intervenientes comerciais europeus e o Irã", que começou a funcionar em 2019. Mais tarde, Bélgica, Dinamarca, Países Baixos, Noruega, Finlândia e Suécia entraram no INSTEX.
O sistema permite negociar com Teerã, ignorando o sistema financeiro dos EUA e sem causar reação de Washington. Para evitar a circulação de dinheiro entre o Irã e a União Europeia, INSTEX passou a disponibilizar linhas de crédito.
Através das linhas de crédito, Irã adquiriu bens, segundo The Washington Post. No entanto, foi difícil realizar o sistema.
Incialmente, a iniciativa visava petróleo, mas a INSTEX acabou sendo usada para transações de medicamentos, alimentos e outros produtos humanitários.
Nord Stream 2
Os Estados Unidos sancionaram um dos projetos mais importantes de infraestrutura energética europeia, o Nord Stream 2 (Corrente do Norte 2). Devido às ameaças norte-americanas, algumas empresas europeias se recusaram a participar da construção do gasoduto.
Depois da saída da empresa suíça Allseas em dezembro de 2019, também saiu a seguradora multinacional. No início de janeiro de 2020, a empresa norueguesa de certificação Det Norske Veritas, a empresa de engenharia dinamarquesa Ramboll e a empresa de construção alemã Bilfinger SE pularam fora do projeto.
O objetivo das sanções de Washington é o aumento de exportação do gás natural liquefeito norte-americano e mantimento do trânsito de petróleo por países da Europa Oriental, que não usam euro e têm uma orientação pró-americana.
Plano preliminar
Segundo dados da revista Financial Times, para acabar com a situação desfavorável para a Europa, a Comissão Europeia preparou um plano preliminar fundamentado no uso do euro em contratos de fornecimento de diversos produtos e na mudança de normas – caso necessário – ligadas aos pontos de referência financeiros principais.
Além disso, os reguladores teriam direito de bloquear a compra de empresas europeias por companhias estrangeiras. Os acordos seriam verificados se, devido à compra, uma empresa adquirida não teria de cumprir sanções extraterritoriais. Para isso, seria usado um novo sistema de controle de investimento direito. Agora, a compra de empresas é considerada ameaçadora para segurança nacional.
"Uso extraterritorial das sanções unilaterais por países terceiros afetou a capacidade da UE de cumprir acordos internacionais e dirigir as relações bilaterais com países sancionados", segundo projeto do documento. "As ações unilaterais de países terceiros ameaçam o comércio e o investimento legítimo das empresas da UE."
Outro ponto importante é a independência de bancos estrangeiros, principalmente dos norte-americanos.
"Durante uma crise financeira, eles [os bancos] podem muito bem reduzir sua presença na UE e se focar no mercado interno", segundo os autores do projeto.
Alternativa ao dólar
Segundo dados do Banco Central Europeu (BCE), o euro é a segunda moeda mais popular, atrás somente do dólar.
O Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional pretende aumentar a atratividade do euro, depois da pandemia, em € 750 milhões (R$ 4,9 bilhões). A União Europeia deve emitir obrigações únicas como uma alternativa ao dólar norte-americano como segurança de riscos.
A obrigação principal é a economia verde – instrumentos de dívida, usados para atrair investimentos para projetos ecológicos.
O objetivo do projeto é tornar os mercados financeiros da UE um centro global de "investimento verde", fazendo com que o euro seja associado a produtos financeiros estáveis.
Outro fator importante que está contra dólar é a intenção do BCE de integral o euro digital para "reforçar a autonomia estratégica aberta da UE no âmbito dos serviços financeiros e a capacidade de defender sua estabilidade financeira".
De acordo com a mídia dos EUA, os planos dos europeus não funcionarão. Do ponto de vista político ou de iniciativas legislativas, a UE pode fazer pouca coisa, segundo informou a agência Bloomberg. Em primeiro lugar, os problemas entre os governos dos países europeus só piorarão a situação.
No entanto, conforme avaliação dos principais bancos de investimentos, a posição do dólar não é firme. Gradualmente, as obrigações de dívida da UE podem tornar-se uma alternativa aos títulos do Tesouro dos EUA, previu JP Morgan. O processo contribuirá para a diversificação de reservas de divisas mundiais, onde o dólar pode atingir o mínimo histórico dos anos 1990.
Ao pressionar o botão "Publicar", você concorda expressamente com o processamento de dados da sua conta no Facebook para permitir que você comente notícias no nosso site usando essa conta. Você pode consultar a descrição detalhada do processo de processamento na Política de Privacidade.
Você pode cancelar seu consentimento removendo todos os comentários publicados.
Todos os comentários
Mostrar comentários novos (0)
em resposta a(Mostrar comentárioEsconder comentário)