COVID-19 teria provocado 'destruição permanente da demanda' do petróleo?

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A OPEP já enfrentou muitas crises desde que foi formada em 1960, mas há temores de que o grupo e a indústria petrolífera não tenham muito maior margem para crescer depois da COVID-19.

A indústria petrolífera encontrou uma nova crise com a pandemia da COVID-19, e pode nunca se recuperar completamente do golpe, de acordo com um inquérito da agência Reuters recolhido de membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que teriam pedido anonimato.

O início do ano viu uma redução de até um terço no consumo do hidrocarboneto, provocando inclusive quebras históricas no preço e um breve conflito petrolífero entre a Rússia e a Arábia Saudita, e dificultando a execução orçamentária dos países exportadores de petróleo.

Os países-membros da OPEP, que incluem a Arábia Saudita, Argélia, Angola, República do Congo, Emirados Árabes Unidos, Gabão, Guiné Equatorial, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria e Venezuela, fundada em 1960, são donos de 80% das reservas petrolíferas mundiais, sendo responsáveis por cerca de um terço da produção.

A participação porcentual do petróleo na energia global tem caído constantemente nas últimas décadas, de cerca de 40% da energia utilizada em 1994 para 33% em 2019, mas continuou aumentando volumes consumidos com mais carros nas estradas, viagens aéreas e uma indústria petroquímica que produz cada vez mais plásticos e outros produtos.

Apesar de choques de abastecimento entre as décadas de 1980 e 2000, o grupo tem conseguido se reajustar às novas realidades, incluindo desafios da indústria de xisto dos EUA na última década. Em 2008, o preço chegou inclusive a ultrapassar US$ 145 (R$ 750, na cotação atual) por barril.

Pese os prognósticos cada vez menos luminosos sobre a demanda mundial do petróleo, que em 2007 foi prevista ser 118 milhões de barris por dia em 2030, entretanto reduzida para 108,3 milhões, a consultoria global DNV GL acredita que a demanda atingiu seu pico em 2019, imediatamente antes da pandemia.

Tendências negativas

No entanto, o ex-diretor de pesquisa da OPEP, Hasan Qabazard, considera que a atual situação é "destruição permanente da demanda".

"Não creio que ela vá ultrapassar 110 milhões de barris por dia até os anos 2040", afirmou, acrescentando que as consequências da pandemia da COVID-19 haviam mudado os hábitos de consumo para sempre.

A indústria de aviação foi particularmente atingida, que não espera uma recuperação dos níveis de 2019 antes de 2023.

© AP Photo / Esteban FelixÁrea vazia de check-in dos aviões da LATAM no aeroporto Arturo Merino Benítez em Santiago, Chile
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Área vazia de check-in dos aviões da LATAM no aeroporto Arturo Merino Benítez em Santiago, Chile

Além disso, a mudança estrutural para veículos eléctricos e energias renováveis, que ocupam uma proporção cada vez maior da produção e consumo mundial, levará os membros da OPEP+, que, além dos membros habituais, inclui países como Rússia e México, a novos desafios para gerir a crise. Desde que o preço caiu para valores negativos, ele já subiu acima de US$ 40 (R$ 206, na cotação atual) por barril por via de cortes na produção.

"Esta tendência colocará ênfase na cooperação entre os membros da OPEP, bem como entre a OPEP e a Rússia, pois cada um se esforça para manter sua participação no mercado", declarou Chakib Khelil, ex-ministro de Energia e Minas da Argélia e ex-presidente da OPEP.

Um funcionário, que trabalha em estudos sobre energia no Ministério do Petróleo de um dos grandes membros da OPEP, disse que os choques na demanda de petróleo levaram no passado a mudanças permanentes no comportamento do consumidor, apontando que desta vez era pouco provável que fosse diferente.

"A demanda não retorna aos níveis pré-crise ou leva tempo para que isso aconteça", ponderou. "A principal preocupação é que a demanda de petróleo atinja o pico nos próximos anos devido aos rápidos avanços tecnológicos, especialmente em baterias de automóveis."

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