Alguns dos principais assessores do presidente dos EUA, Donald Trump, querem que a Casa Branca interrompa o vínculo do dólar de Hong Kong com a moeda norte-americana para castigar Pequim. A medida seria em represália à recente lei de segurança nacional imposta a esta região, informou a agência Bloomberg nesta quarta-feira (8), citando economistas.
A medida, que poderia limitar a capacidade de bancos locais para comprar dólares norte-americanos, também conta com detratores dentro da administração Trump, que argumentam que isto poderia prejudicar os bancos da região e os EUA, não a China.
Vínculo entre as moedas
Hong Kong vinculou sua moeda ao dólar norte-americano em 1983, o que lhe permite flutuar dentro de uma faixa bem estreita que, geralmente, se situa em torno de 7,8 dólares de Hong Kong por dólar dos EUA. A moeda se manteve forte devido a sua vantagem de rentabilidade em relação ao dólar, a demanda de vendas de ações das companhias chinesas e fluxos persistentes no mercado local de renda variável.
Segundo duas das fontes, a administração Trump dá prioridade a encontrar formas de castigar os bancos com sede em Hong Kong, especialmente a multinacional britânica HSBC Holdings.
Paul Chan, secretário financeiro de Hong Kong, disse em junho que o Banco Popular da China poderia proporcionar dólares norte-americanos caso os EUA imponham sanções contra o território. A fixação ao dólar é respaldada por ao redor de US$ 440 bilhões (R$ 2,34 trilhões) em reservas de divisas, mais do que o dobro do dinheiro em circulação na cidade.
'Cenário apocalíptico'
Por sua parte, o diretor-executivo da Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA), Eddie Yue, assegurou que qualquer medida para negar o acesso desta região administrativa especial da China ao sistema de compensação do dólar norte-americano seria um "cenário apocalíptico", que "também enviaria ondas de choques aos mercados mundiais, incluindo os EUA".
Xia Le, economista-chefe da Ásia no BBVA Hong Kong, qualificou a proposta como "arma nuclear". Neste sentido, indicou que, se a medida for aplicada, há o risco de dissociação completa entre Pequim e Washington. "É tecnicamente difícil impor e prejudicará muito os Estados Unidos", afirmou Xia.
Stephen Innes, estrategista-chefe de mercados globais da AxiCorp, acredita que uma possível forma de atacar o ponto de apoio do dólar por parte de Washington seria mediante limitações aos bancos do país norte-americano no momento de proporcionar fundos em dólares aos bancos chineses e de Hong Kong, o que elevaria os custos de ditos fundos "de maneira exorbitante".
Outras opções sobre a mesa
Contudo, Innes considera que este cenário é pouco provável, já que a China poderia responder com medidas contra os ativos norte-americanos, incluindo os títulos do Tesouro e ações, assim como desestabilizar as parcelas em outros pontos, especialmente os mantidos por aliados dos EUA no Oriente Médio.
"A instabilidade impensável que desencadearia no ecossistema financeiro global baseado no dólar norte-americano poderia impulsionar uma venda massiva nos mercados de ações dos EUA", explicou o estrategista-chefe, acrescentando que isto seria "um resultado abominável para a Casa Branca antes das eleições presidenciais em novembro".
O governo norte-americano também contempla outras opções, que vão desde cancelar o tratado de extradição entre o país norte-americano e a região administrativa, até colocar fim na cooperação de Washington com a polícia de Hong Kong.