Por que os últimos 10 anos foram tão turbulentos para economia argentina?

© REUTERS / Enrique MarcarianDesvalorização do peso argentino
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Nos últimos dez anos, a Argentina não conseguiu baixar os dois dígitos de inflação nem controlar a deterioração progressiva de índices como PIB, dívida externa, déficit fiscal e balança comercial.

O que começou como estancamento é agora uma grave recessão. A Sputnik Mundo convidou o economista argentino Nicolás Dvoskin, da Sociedade de Economia Crítica, para analisar os últimos governos do país vizinho.

Foram dois anos consecutivos de queda do Produto Interno Bruto (PIB) de ao menos 2,5%. Agora, o ajuste fiscal de emergência implementado pelo presidente argentino Alberto Fernández busca gerar estabilidade financeira.

"Na última década, a Argentina se viu submetida ao histórico problema que é a restrição externa, a falta de dólares", sintetizou o economista.

"No país, as exportações são muito pouco sensíveis ao que se passa localmente, em geral se exporta o que o mundo quer comprar, e as importações dependem muito do crescimento da economia e das políticas internas", acrescentou.

Pode-se constatar que a evolução do PIB argentino desde 2008 é um "sobe e desce". As repercussões da crise mundial de 2008 não afetaram tanto a economia local, já que o país sul-americano se encontrava relativamente isolado dos mercados de capitais internacionais. No entanto, começou a sofrer com a baixa na demanda externa de commodities devido à recessão e o consequente impacto sobre os seus preços.

A economia durante o kirchnerismo

"Em 2009 começa um período de desaceleração, quando a economia pede por mais dólares para seguir crescendo. Historicamente, a saída foi a desvalorização, mas o aumento do preço do dólar leva ao aumento dos preços e à inflação, o que gera uma redistribuição regressiva porque diminui o poder de comprar da maioria da população", explicou Dvoskin.

Uma das principais críticas que é feita ao governo da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner (2007-2015), até mesmo pelo atual presidente, é a intervenção desde o início de seu mandato do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), que reduziu a confiança no manejo dos dados públicos sobre a pobreza, mas especialmente sobre a inflação: já desde o primeiro ano de sua presidência, as cifras (relativas ao aumento de preços) de consultoras privadas eram duas vezes superiores às oficiais (14,8% versus 8,5%).

O economista descreveu os últimos quatros anos do kirchnerismo como erráticos. O PIB subiu nos anos ímpares, porém, baixou nos anos pares, com um 2014 especialmente ruim. Os salários nos anos de crescimento geralmente superavam a inflação graças não às paridades e aos mecanismos de controle não tradicionais (alternativos à desvalorização ou ajuste monetário), mas sim através de políticas de intervenção estatal e maior regulação das cadeias de formação de preços.

Política econômica da era Macri

Mauricio Macri recebeu em dezembro de 2015 um país com um rigoroso controle cambial (que abandonou quase imediatamente), um dólar oficial a nove pesos e um paralelo a quatorze, uma inflação anual de 25% (houve um pico de 38% em 2014), US$ 27 bilhões (R$ 108,5 bilhões) de reservas internacionais do Banco Central, uma dívida pública de 43% do PIB e uma economia em crescimento.

Macri suspendeu também o congelamento das tarifas de serviços. Apesar de não haver uma verdadeira crise econômica, a Argentina teve em 2016 um ano de recessão, com uma queda de 2% do PIB, mas aumentaram as importações, com a consequente saída de dólares.

Segundo Dvoskin, a principal diferença entre os dois últimos governos é que em todos os anos da era Macri o desemprego cresceu e a inflação foi superior ao aumento dos salários, motivo pelo qual o poder aquisitivo caiu e 40% da população se encontra atualmente abaixo da linha de pobreza.

No final de seu governo, em dezembro de 2019, Macri criou um novo sistema de controle cambial, com o dólar oficial a 63 pesos e um paralelo próximo a 70 pesos, uma inflação estimada em 55%, uma dívida externa equivalente a 95% do PIB, e uma economia que, em 2019, segundo estimativas do FMI, irá contrair 3%.

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