Especialista sobre China na África: 'Se trata inclusive de um projeto de imagem pública'

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Tendo se iniciado como uma cooperação de caráter bem unilateral e focada nas matérias-primas, a parceria sino-africana está ganhando cada vez mais dinâmica. A Sputnik Brasil falou com um especialista russo para discutir os desafios do respectivo relacionamento no âmbito do 5º Fórum de Cooperação China-África.

Nesta segunda-feira (3), no decorrer do 5º Fórum de Cooperação China-África, que decorre em Pequim entre 3 e 4 de setembro, o presidente chinês, Xi Jinping, anunciou a disponibilidade do governo para perdoar uma parte da dívida dos países africanos ao país. É precisamente o possível endividamento do continente, relembremos, que costuma gerar maior crítica por parte dos analistas. Aliás, Pequim até chega a ser acusado de travar uma política "neocolonialista" em relação a esse continente.

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Contudo, o interlocutor da Sputnik Brasil, Sergei Lukonin, chefe do Departamento de Economia e Política da China do Instituto de Economia e Relações Internacionais Primakov, acredita que tal avaliação da estratégia chinesa seria um certo exagero.

"Os processos na economia global são muito complexos. É fácil os especialistas poderem encontrar dois extremos contraditórios no mesmo fenômeno. Em minha opinião, a política da China na África é, provavelmente, uma chance única para desenvolver a infraestrutura. Claro que processos complexos também pressupõem a existência de desafios, que costumam ser resolvidos durante a própria realização das iniciativas", opina o economista.

De acordo com ele, uma das razões principais do grande engajamento da China nos projetos africanos se explica pela necessidade chinesa de "se desenvolver". Assim, a concorrência na África é evidentemente mais baixa, comparando com a União Europeia e, claro, com os EUA, enquanto o número de necessidades que possam ser satisfeitas por Pequim é maior.

Fileira da frente, da esquerda para a direita: o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa; o presidente da China, Xi Xinping; o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi. Fileira intermediária, da esquerda para a direita: o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta ; o presidente do Togo, Faure Gnassingbé; o presidente do Malawi, Arthur Peter Mutharika; o presidente de Guiné-Bissau (José Mario Vaz). Fileira do fundo, da esquerda para a direita: o presidente de Serra-Leoa, Julius Maada Bio; o presidente da Libéria, George Weah; e outros líderes africanos durante Fórum Sino-Africano de Cooperação (FOCAC), em Pequim, 2018. - Sputnik Brasil
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Ao responder ao argumento muitas vezes apresentado pelos críticos da abordagem chinesa no relacionamento com a África, isto é, as "armadilhas da dívida" impostas aos governos dos países africanos, Lukonin sublinha que o respectivo resultado parece inevitável.

"Os créditos, por parte de qualquer país, colocam a economia dos países africanos em uma situação de risco. Aqui é importante responder à pergunta sobre o que é melhor — não assumir um empréstimo por medo da ‘armadilha da dívida' e não construir uma ferrovia ou rodovia, um sistema de irrigação, um hospital, etc… Ou, mesmo assim, é melhor acordar um crédito e criar um bem para a população", analisa ele.

Nesse respeito, o economista relembra a medida anunciada ontem (3) por Xi Jinping, de perdão de parte das dívidas, o que, pelo visto, vai dar um fôlego às economias que não estão em condições de pagar a Pequim no momento.

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"Eu sou a favor de tomar um empréstimo e criar um bem, o que, provavelmente, vai dar um impulso para o desenvolvimento da economia [africana]", manifesta Lukonin.

Dado que recentemente muitos projetos chineses na África têm sido relacionados com infraestruturas sociais e missões de paz, o especialista reconhece que Pequim não é apenas motivado pelo "altruísmo".

"Sim, se trata inclusive de um [projeto] de imagem pública. E isto é normal. A maioria dos países desenvolvidos têm seus próprios programas de assistência aos países em desenvolvimento e pobres", explica o interlocutor da Sputnik Brasil.

Analisando o peso crescente de Pequim no continente, Lukonin assegura que medidas semelhantes por parte do Ocidente não vão demorar, pois este não planeja ceder posições econômicas e geopolíticas ao seu novo "inimigo" na guerra comercial.

"Claro [que os EUA vão também apresentar projetos]. Hoje em dia, o principal confronto se trava no campo midiático. Mais tarde, aparecerão as medidas práticas. Por exemplo, hoje as autoridades estadunidenses anunciaram um investimento extra no valor total de quase 60 bilhões de dólares para alocar por todo o mundo, inclusive em projetos de infraestrutura", citou.

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