Entenda para que EUA pretendem copiar armamentos russos

© AP Photo / Michel EulerMetralhadora Kalashnikov
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Recentemente, foi informado que o Comando de Operações Especiais dos EUA (SOCOM, na sigla em inglês) anunciou um concurso entre as empresas de armamento norte-americanas para criar réplicas precisas de armas de fogo russas.

Por enquanto se trata de metralhadoras: da metralhadora Kalashnikov PKM de calibre de 7,62 mm e da metralhadora de grande calibre NSV Utes. Frisa-se, ao mesmo tempo, que as empresas ganhadoras devem criar as armas por conta própria desde o início, sem se dirigir à Rússia como país produtor.

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O colunista da Sputnik, Andrei Kots, comenta em seu artigo especial para que o Pentágono precisaria de metralhadoras estrangeiras.

Ajuda aos aliados

O autor sublinha que os EUA são capazes de produzir todo o arsenal para suas Forças Armadas, desde cartuchos a satélites e bombardeiros estratégicos.

Entretanto, a qualidade da produção "caseira" nem sempre satisfaz as necessidades de clientes tão exigentes como os militares das forças especiais. Por isso, às vezes fica mais fácil e mais barato comprar análogos aos aliados.

Já nas situações em que os amigos não podem propor algo decente, há outra variante — analisar o arsenal do adversário. Assim fizeram inclusive os alemães na época da Segunda Guerra Mundial, relembra Kots — por exemplo, suas pistolas-metralhadoras Gerat Potsdam e Gerat Neumunster eram, de fato, réplicas exatas das STEN britânicas, capturadas pelo exército do Terceiro Reich como troféus. A confiabilidade e simplicidade de construção dessas armas foram os fatores decisivos para essa escolha.

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Do mesmo jeito, hoje em dia em serviço do exército estadunidense há submetralhadoras Heckler & Koch MP5 e fuzis de assalto H&K 416 alemães, espingardas italianas Benelli M4 Super 90, lança-granadas AT-4 e M3 suecos, obuseiros M777 britânicos e muitos outros armamentos de produção estrangeira. Aliás, várias empresas norte-americanas produzem os lendários Kalashnikov, tanto para fins civis quanto militares.

Porém, observa Kots, anteriormente as metralhadoras Kalashnikov PK e NSV Utes não despertavam nenhum interesse especial no Pentágono.

Em uma conversa com a Sputnik, o editor-chefe da revista Kalashnikov, Mikhail Degtyarev, avaliou:

"Temos de entender que essas armas hoje em dia são umas das melhores na sua classe. A própria Utes supera significativamente pelas suas capacidades a principal metralhadora de grande calibre das Forças Armadas dos EUA, a М2 Browning. Ao mesmo tempo, certamente não há excesso de NSV Utes no mercado internacional de armamentos. É uma arma bem rara. Na Ucrânia, por exemplo, as Utes não eram bastantes para equipar tanques, sem falar da infantaria. As NSV são produzidas em massa pelos chineses, mas eles não as vendem a todos. A decisão de produzir tais armas por conta própria é bem típica dos norte-americanos. O dinheiro deve ficar em casa. Aliás, ninguém em Washington se dirigiria à Rosoboronexport [empresa exportadora de armamentos russa] em meio a uma guerra de sanções."

Na opinião do especialista, os países que potencialmente poderiam usar as metralhadoras "russo-americanas" são, em primeiro lugar, os aliados dos EUA no Oriente Médio e na África, e não apenas as tropas regulares. Assim, Degtyarev lembrou que as forças especiais norte-americanas na própria Síria combatem frequentemente lado a lado com grupos armados ilegais que a Rússia considera terroristas.

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Assim, o SOCOM se encarrega não só da seleção e treinamento dos militantes, mas inclusive de seu equipamento. Aliás, no Oriente Médio já há muito que conhecem as armas russas e eles sabem bem como usá-las.

"Se os EUA tivessem algo parecido, eles as venderiam e não complicariam sua vida", resumiu.

Armas para forças especiais

Ao mesmo tempo, os especialistas não descartam que os norte-americanos precisem das armas russas para preparar seus próprios efetivos. Neste caso, há duas vantagens — as metralhadoras seriam comparáveis com as armas do inimigo e não diferem no som do disparo, o que provocaria menos suspeitas por parte do oponente.

"Qualquer unidade especial que pretenda ter o estatuto de elite deve saber usar bem as armas do inimigo", explicou à Sputnik o editor-chefe da revista Eksport Vooruzheny ("Exportações de armas", em russo), Andrei Frolov.

"Não descartaria que os norte-americanos precisem das PKM e NSV para treinar as unidades de operações especiais dos seus aliados que conhecem bem as armas russas. Se trata de países do ex-campo soviético, Oriente Médio e América do Sul. Não acho que o Pentágono planeje rearmar massivamente alguém com réplicas das nossas metralhadoras. Seria caro demais — fica muito mais barato e rápido comprar armas de países terceiros e revender aos clientes. Mas por enquanto é difícil tirar alguma conclusão concreta — não sabemos nem o número de armas que as empresas de produção bélica entregarão às forças especiais, nem os prazos de entrega", acrescentou.

Ao comentar a decisão do SOCOM, a corporação estatal russa Rostec chamou de "roubo" os planos norte-americanos, que descartam a interação com a parte russa.

"Entretanto, segundo prova o exemplo da China, que copiou inúmeros equipamentos militares de outros países, é extremamente difícil responsabilizar judicialmente os piratas armamentistas", conclui o autor.

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