Saga dos 'navios-aríete': quando o inimigo é atacado com o casco

© Foto / Domínio públicoNavio-patrulha Bezzavetny da Frota do Mar Negro choca com o cruzador norte-americano USS Yorktown, 12 de fevereiro de 1988
Navio-patrulha Bezzavetny da Frota do Mar Negro choca com o cruzador norte-americano USS Yorktown, 12 de fevereiro de 1988 - Sputnik Brasil
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Métodos táticos de batalhas navais dos séculos passados já foram esquecidos há muito tempo: abordagem, formação dos navios em linha ou a distância mais próxima possível para fazer fogo.

No entanto, um deles – o abalroamento – foi amplamente utilizado nas guerras do século XX. Entretanto, a sua variante – o encosto – é capaz de resolver uma missão de combate nos tempos atuais.

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A Sputnik aborda o tema sobre quando o comandante pode dar ordens para atacar o inimigo com o casco do navio.

Tática da força

As principais potências navais equipavam os navios de guerra com aríetes até aos anos de 1870-1890, inclusive na era da marinha encouraçada. Estruturalmente esse dispositivo era um esporão dianteiro destinado a romper a parte submersa do navio inimigo e afundá-lo. Quando os navios a remo, e posteriormente veleiros, com artilharia de curto alcance dominavam os mares, um aríete podia em questão de minutos determinar o resultado de uma batalha.

© Foto / Domínio públicoEncouraçado HMS Dreadnought da Marinha Real Britânica, lançado ao mar em 1906
Encouraçado HMS Dreadnought da Marinha Real Britânica, lançado ao mar em 1906 - Sputnik Brasil
Encouraçado HMS Dreadnought da Marinha Real Britânica, lançado ao mar em 1906

Em 18 de março de 1915, o encouraçado britânico HMS Dreadnought "bateu" no submarino alemão U-29. Submarinos na posição emersa são particularmente vulneráveis a colisões, já que seus cascos não têm margem de resistência suficiente para suportar um impacto de tal poder colossal. Da mesma forma, o transatlântico Olympic esmagou o submarino alemão U-109 no Canal da Mancha, quebrando-o literalmente ao meio.

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A primeira vez em que se tentou usar o abalroamento na 2ª Guerra Mundial foi um avanço desesperado do comandante do cruzador inglês HMS Exeter contra o Admiral Graf Spee da Marinha da Alemanha. Perante uma situação completamente desfavorável, o capitão inglês Frederick Bell se recusou a ceder e arremeteu o cruzador com toda velocidade contra o navio de guerra alemão. Resultado: o navio alemão saiu da batalha se escondendo atrás de uma cortina de fumaça.

Em abril de 1943, a lancha torpedeira norte-americana PT-109, comandada pelo futuro presidente dos Estados Unidos John Fitzgerald Kennedy, foi cortada ao meio por um destróier japonês perto das Ilhas Salomão. Kennedy e demais sobreviventes chegaram nadando à praia.

© Foto / Domínio públicoTripulação da PT-109
Tripulação da PT-109 - Sputnik Brasil
Tripulação da PT-109

Na noite de 28 de gosto de 1941, duas lanchas blindadas soviéticas atacaram por abalroamento uma flotilha de pequenos navios inimigos e destruíram três lanchas, duas embarcações de desembarque, um pontão com armas pesadas e quatro barcaças que transportavam infantaria e munições.

Em 12 de dezembro de 1944, o submarino soviético Lembit abalroou e afundou o submarino alemão U-479 no mar Báltico. O Lembit retornou ao porto com pequenos danos.

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Encosto não é abalroamento

O uso do abalroamento era raro até na 2ª Guerra Mundial devido ao grande alcance da artilharia naval dos oponentes, aos torpedos modernos e à aviação embarcada. Já no século XXI os mísseis antinavio de longo alcance tornaram o abalroamento impensável.

Em 13 de março de 1986, dois navios da Marinha dos Estados Unidos – o cruzador de mísseis USS Yorktown e o destróier USS Caron – violaram a fronteira marítima perto da costa sul da Crimeia, entrando em águas territoriais da União Soviética por dez quilômetros. Os navios tinham em funcionamento suas estações radioelétricas e, obviamente, estavam realizando um reconhecimento complexo. Logo eles mudaram de rumo para regressar. A liderança militar e política do país recomendou o uso da tática do encosto.

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A ocasião seguinte em que houve autorização para o uso de encosto aconteceu dois anos depois: o Yorktown e o Caron passaram pelo estreito de Bósforo no início de fevereiro de 1988. Dois navios-patrulha foram imediatamente enviados para os acompanhar – o Bezzavetny e o SKR-6. Os navios soviéticos eram quatro vezes menores que os norte-americanos e incomparavelmente mais levemente armados. Mas o tamanho no mar está longe de ser sempre decisivo.

Sem mudar de rumo, os norte-americanos foram diretos para Foros – nas águas territoriais soviéticas. Na manhã de 12 de fevereiro, o chefe do Estado-Maior da Frota do Mar Negro ordenou que o comandante do Bezzavetny transmitisse ao cruzador dos EUA o seguinte aviso via rádio:

"Pelas leis soviéticas existentes, o direito de passagem pacífica por navios de guerra estrangeiros nesta área é proibido. A fim de evitar um incidente, recomendo-lhe para mudar o seu rumo para evitar a violação das águas territoriais da União Soviética".

© Foto / Domínio públicoNavio-patrulha SKR-6 da Frota do Mar Negro arremete o destróier USS Caron, 12 de fevereiro de 1988
Navio-patrulha SKR-6 da Frota do Mar Negro arremete o destróier USS Caron, 12 de fevereiro de 1988 - Sputnik Brasil
Navio-patrulha SKR-6 da Frota do Mar Negro arremete o destróier USS Caron, 12 de fevereiro de 1988

O Yorktown respondeu que não estava violando nada e que agia segundo as regras internacionais. Os norte-americanos foram avisados várias vezes, mas os navios não mudaram de rumo. Os dois navios-patrulha da Frota do Mar Negro, de acordo com a ordem recebida, deram velocidade máxima apontando aos navios estadunidenses. O Bezzavetny se encostou ao costado de bombordo do Yorktown, cortando seu parapeito e danificando a instalação de mísseis antinavio Harpoon.

Ambos os navios soviéticos escaparam com o mínimo de danos, se afastaram a uma curta distância e continuaram a escolta preparados para repetir a manobra. Mas não foi necessário. A esquadra norte-americana mudou imediatamente de rumo, voltando para o Bósforo.

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