Como exportações ilegais de armas deixaram exército ucraniano sem munições

© AFP 2023 / Sergei BobokCanhão antitanque MT-12 Rapira das Forças Armadas da Ucrânia
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O exército ucraniano que, segundo seu comandante em chefe Pyotr Poroshenko, é o mais forte na Europa, não tem nada com que disparar. Foi o vice-comandante das tropas terrestres ucranianas, major-general Yury Tolochny, quem declarou que o exército está sofrendo de um déficit grave de projéteis de artilharia, mísseis e até de cartuchos.

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Contudo, após o colapso da URSS a Ucrânia recebeu de herança um arsenal impressionante que bastaria para travar uma longa campanha militar de larga escala. O colunista da Sputnik, Vadim Saranov, conta neste artigo como esse material pode se ter "evaporado".

Exportações obscuras

No momento do colapso da URSS, a Ucrânia era uma das repúblicas ex-soviéticas mais militarizadas. Aqui estavam localizadas três regiões militares, a Frota do Mar Negro, dois exércitos do ar e um exército independente de defesa antiaérea, assinala o autor.

No total, além da independência, a Ucrânia recebeu em 1991 cerca de 2,4 milhões de toneladas de munições, projéteis, bombas, mísseis e cartuchos soviéticos. Para comparar: em 1943, em plena guerra, o consumo total de munições de todos os tipos pelo Exército Vermelho somou 3 milhões de toneladas.

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É evidente que parte da herança soviética na época já estava moralmente e fisicamente ultrapassada, porém, até 70% das munições ainda estavam dentro de seus prazos de validade.

Entretanto, ressalta Saranov, as autoridades ucranianas viam essa riqueza recebida como, primeiramente, uma mercadoria para exportação que disfrutava de uma demanda sólida nos mercados.

"Na década de 90 e nos anos 2000, as vendas de munições ucranianas para o exterior adquiriram um caráter maciço", explica o especialista russo em assuntos militares, Viktor Murakhovsky.

"Vale ainda destacar que para exportação seguiam as munições mais novas, que ainda não estavam fora dos prazos de garantia e de serviço. De acordo com todos os padrões, elas correspondiam às exigências modernas", adiantou.

No entanto, não há dados precisos sobre os números das vendas ucranianas, pois além das exportações oficiais do Estado era ativamente usado o mercado negro.

Um dos maiores escândalos neste sentido se deu em 2008, quando veio à tona que o navio mercantil ucraniano Faina, tomado por piratas somalis, estava transportando armamentos e munições contrabandeados para o Sudão.

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"É curioso que as ações militares em Donbass não tenham esvaziado muito o arsenal ucraniano, pois ao longo de 3 anos de guerra as Forças Armadas da Ucrânia não usaram mais de 25 mil toneladas de mísseis e projéteis. Este é um número bem modesto no contexto de toda a situação", escreve o jornalista.

Contudo, apesar dos lucros inéditos que a Ucrânia obteve das vendas da herança bélica soviética, o país não se apressava a modernizá-la. De acordo com as avaliações de especialistas ucranianos, entre 150 e 200 mil toneladas de munições se perderam na sequência de incêndios nos maiores armazéns de armas nacionais.

Munições fora de prazo

Porém, escreve o colunista, a "fome de munições" no exército ucraniano foi um resultado não só das exportações de armas semilegais e da desordem nos arsenais.

Já passaram quase 25 anos desde o colapso da URSS, mas a Ucrânia nunca chegou a organizar a produção de suas próprias munições, exceto alguns exemplares de sistemas de alta precisão. Por isso, aos militares ucranianos apenas resta contar com a herança soviética que, pelo visto, já está fora de prazo.

"O prazo de serviço para os projéteis não guiados é por volta de 20 anos, enquanto o de mísseis não guiados é de 15 e das munições guiadas é de 10 anos. Todavia, estes prazos se aplicam somente se as munições forem guardadas em espaços fechados, onde se mantém um determinado nível de temperaturas", pormenoriza Viktor Murakhovsky.

"No que se trata dos armazéns ucranianos, as munições ficam empilhadas debaixo de céu aberto, o que reduz significativamente seu prazo de serviço", adianta.

O autor assinala: neste caso, não é de estranhar que a mídia ucraniana esteja constantemente falando que o exército ucraniano é obrigado a lutar em Donbass usando armas fora de prazo de serviço, o que diminui consideravelmente suas capacidades de combate e muitas vezes leva a perdas humanas adicionais.

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Assim, em março de 2017, durante um ataque contra as posições das milícias do Leste do país, uma munição explodiu dentro do cano de um morteiro autopropulsado Gvozdika, em resultado do que morreram 8 militares ucranianos. Segundo os especialistas, a mais provável razão para isso foi o uso de uma munição fora de prazo de validade.

"Tudo isso indica que tais incidentes continuarão a ocorrer. O comando do exército ucraniano, tal como a guerra em Donbass nos mostrou, não se destaca por uma atitude escrupulosa perante as vidas e saúde dos seus combatentes. Bem como perante as vidas de dezenas de milhares de pessoas que são obrigadas a morar na proximidade de arsenais explosivos", resume Saranov.

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